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Choque de culturas entre Twitter e Musk

Ex-funcionários afirmam que "ser demitido por Elon (Musk) se tornou uma honra"

Elon Musk, presidente da Tesla, SpaceX e Twitter - Olivier Douliery / AFP

A compra do Twitter por parte de Elon Musk expôs a diferença entre a cultura da empresa de San Francisco e os métodos do bilionário dono da Tesla.

"Tenho a impressão de que Musk gosta muito de humanidade, mas não dos humanos", diz o engenheiro da computação Emmanuel Cornet, um dos primeiros a serem demitidos da rede social depois que o bilionário assumiu o controle da empresa, em 27 de setembro.

Antes disso, ele era um dos muitos funcionários curiosos para ver o bem-sucedido empresário administrando o Twitter.

“Acho que ficamos cegos. A maioria dos funcionários tentou dar a ele o benefício da dúvida o máximo possível, até porque nem sempre é fácil encontrar outro emprego”, afirmou.

Para além dos grandes sorrisos e das entusiasmadas declarações, Musk fez, no entanto, jus à sua reputação.

Demitiu metade dos 7.500 funcionários do grupo, afastou diretores e engenheiros que discordavam dele e, finalmente, impôs um ultimato: trabalhar "duro, sem compromisso", ou sair pela porta.

Centenas de pessoas escolheram a segunda opção.

"Ele está se comportando como um valentão de playground. Qualquer crítica às suas declarações, a maioria inexata, sobre tecnologia é motivo de demissão imediata", diz Sarah Roberts, professora de redes sociais da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA).

Cornet se mostrou especialmente surpreso com a falta de "respeito" do homem mais rico do mundo: "No longo prazo, objetivamente, parece que ele tenta ajudar o planeta, com carros elétricos, por exemplo. (...) Mas as pessoas que o cercam parecem descartáveis".

Musk "tem esse lado fanfarrão, de bravata. Ele é o empresário pretensioso e sem papas na língua que fabrica foguetes e carros que impressionam as pessoas. A cultura no Twitter é muito mais sóbria, com uma visão mais progressista e social", afirma John Wihbey, professor de mídia na Northeastern University.

O empresário está há tempo ligado ao Vale do Silício, onde foi cofundador da Tesla. Desde então, porém, renegou a Califórnia democrata, protestando contra as restrições sanitárias durante a pandemia da covid-19 e as acusações de "segregação racial" em suas fábricas.

No final de 2021, transferiu a sede da montadora de carros elétricos para o Texas, um estado predominantemente republicano com políticas conservadoras.

O Twitter foi fundado por Jack Dorsey, "que tem todas as características de um guru zen em busca de espiritualidade", lembra Wihbey.

Os funcionários da plataforma estavam "orgulhosos de trabalhar lá", acrescenta. "Acreditavam no que faziam".

Cornet trabalhou 14 anos no Google antes de aterrissar no Twitter, que, na época de sua escolha, não parecia "obcecado por lucros".

"Distinção honorária"
Os ex-"tweeps" – como se autodenominam os funcionários da rede social – escreveram mensagens de despedida na plataforma com muitos corações e, depois, criaram grupos no Discord e no Signal para apoio mútuo.

Muitos disseram que concordavam em "trabalhar duro", mas não apenas com promessas, como "construir um Twitter 2.0 revolucionário", à mercê de decisões abruptas.

Ao ser questionado por um funcionário, em uma reunião, sobre o risco de perder pessoal, Musk disse não ter uma "boa resposta".

"Posso dizer o que funciona na Tesla: estar fisicamente presente no escritório e dar tudo de si", disse ele.

O magnata, que não gosta do teletrabalho – popular entre os engenheiros de software – adora contar a história de como dormia nos escritórios da Tesla, quando a empresa estava "à beira da falência".

"Na Neuralink, ou na Tesla, conseguiu dificultar a vida dos funcionários, porque eles são dedicados à causa, trabalham com tecnologias de ponta. Há uma visão", comentou Jeffrey Sonnenfeld, professor da Universidade de Yale.

No Twitter, ao contrário, entre as demissões em massa, a cultura da coerção e seus “caprichos” provavelmente não vão contribuir para compor a equipe em torno de uma cultura criativa, estimou esse especialista em governança corporativa.

Segundo Sarah Roberts, para muitos no Vale do Silício, "ser demitido por Elon (Musk) se tornou uma honra".

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