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Dia do Programador: maiores salários e horário flexível atraem mulheres para área de TI

Só em 2021 a busca das mulheres por vagas de emprego em Tecnologia da Informação (TI), cresceu 22% - Freepik

Melhores salários, possibilidade de trabalhar de forma remota e um mercado de trabalho aquecido mesmo durante a pandemia. Essas são apenas algumas das características que têm levado mulheres a apostar em carreiras na área de tecnologia, deixando de lado ramos de atuação tradicionais. 

De acordo com pesquisa realizada pela PretaLab em parceria com a ThoughtWorks, entre os meses de novembro de 2018 e março de 2019, cerca de 30% dos profissionais em áreas de tecnologia se declaravam mulheres. Durante a pandemia, o interesse feminino na área subiu. Segundo o Banco Nacional de Emprego, só em 2021, a busca das mulheres por vagas de emprego em Tecnologia da Informação (TI) cresceu 22%.

Foi o caso de Íris Souza. Em 2020, com a faculdade de biblioteconomia parada devido à pandemia, a jovem de 22 anos viu sua paixão pela tecnologia florescer e começou a procurar cursos que pudesse desenvolver suas habilidades. “Eu descobri as comunidades de mulheres na tecnologia, que era algo que quando eu estava no curso técnico eu nem sabia existir. Eu achava que eram mais os homens [na área], por isso não me interessava tanto. Não existia uma representatividade. Quando eu descobri essas comunidades, pensei 'Ah, tem um espaço para mim aqui'”, conta.

Há espaço para mulheres

Iris SouzaÍris Souza

Uma das coisas que deixou a jovem receosa com a carreira foram as especificações para as vagas. "Eu pensava 'Nossa, precisa saber tudo isso?'. Então, vi que outras mulheres também se sentiam assim. Os homens, eles se inscrevem nas vagas mesmo sem saber de tudo, mas a gente fica com a cobrança de que tem que saber". Com isso em mente, ela resolveu ir adiante. "Eu descobri um processo de seleção para PCDs. Eu tenho paralisia cerebral e achei um projeto de 4 meses de trainee e, ao final, fui contratada e me tornei desenvolvedora júnior. Já estou há 9 meses na empresa".

Íris conheceu a {reprograma}, uma startup que capacita mulheres na área de tecnologia, fundada em 2016, pela peruana Mariel Reyes Milk e suas sócias, Carla de Bona e Fernanda Faria. Recentemente, a startup paulistana lançou o projeto Todas em Tech, para atingir 2.400 mulheres em situações de vulnerabilidade, com intenção de formar 400 mulheres, preferencialmente, negras, trans e travestis em todo o Brasil, oferecendo cursos de programação front-end e back-end, até o final de 2022.

"O mundo tech é um mundo branco, masculino, de classe média/alta e a gente quer justamente mudar isso. Por isso, temos todo um trabalho para chegar até essas mulheres", explica Sílvia Follador, responsável pela iniciativa. Ela conta de que pandemia acelerou a versão remota dos cursos oferecidos e, por conta disso, foi possível atender ainda mais mulheres pelo Brasil. 

“Nós atendemos mulheres com renda familiar de até três salários mínimos, sendo 17% mulheres trans e 74% mulheres negras nas classes D e E. É um longo caminho, mas a gente vê que há espaço", diz. A maioria das alunas, cerca de 70%, é oriunda das regiões Norte e Nordeste. 

Troca de carreira 
Encontrar mulheres falando sobre tecnologia foi o empurrão que faltava para a pernambucana Maria Priscila, 29, trocar uma carreira consolidada na área de administração para se dedicar à TI. Casada, mãe de uma criança pequena, ela se inscreveu em um curso do Porto Digital para tentar dar os primeiros passos. “Era uma turma para iniciantes e, de 20 pessoas, só tinha eu e outra mulher, todos os outros alunos eram homens", disse.

A experiência, no entanto, acabou não sendo muito agradável. Ela conta que, mesmo sendo uma turma para iniciantes, muitos alunos já tinham conhecimento prévio de programação e não eram muito solícitos na hora de tirar dúvidas. Foi então que Priscila começou a seguir nas redes sociais programas que eram voltados para a inserção de mulheres na área de tecnologia e acabou encontrando o {reprograma}. 

“O que eu mais queria era fazer a migração. Eu achava muito difícil conseguir, mas hoje estimulo outras mulheres a fazer o mesmo. Eu me dei dois anos e consegui migrar em seis meses”, conta ela, que hoje trabalha como programadora. 

Maria Eduarda, desenvolvedoraMaria Eduarda Sakovitz

Assim como ela, Maria Eduarda Sakovitz, 30, optou por ir atrás de cursos por conta própria. Atualmente trabalhando como analista, ela preferiu arriscar os cinco anos no ramo de hotelaria para tentar ingressar em um curso fornecido pela empresa de consultoria internacional Accenture. “Eu percebi que meus gerentes, as pessoas que representavam o meu futuro [na área de hotelaria], não tinham o futuro que eu queria ter. Elas não tinham tempo, trabalham fins de semana, feriados", conta. 

Em 2018, ela se inscreveu na Academia Abap, um projeto da empresa de consultoria voltado para iniciantes. “Era uma linguagem que eu nunca ouvi falar, nunca tinha visto, então era um susto atrás do outro. Eu pensava, meu Deus, o que eu tô fazendo aqui. Mas é aquilo, se você está com medo, vai com medo mesmo. Fui uma das últimas pessoas a ser chamada, mas deu tudo certo”, comenta, orgulhosa. 

Em três anos na empresa, ela encontrou possibilidades de projeção de carreira, cursos de especialização na área e promoções de acordo com seu desempenho. “Hoje eu estou feliz onde eu estou”, finaliza. 

Salário e vagas
Outra coisa que atrai bastante as mulheres ao setor é, além da possibilidade do trabalho remoto, os salários. De acordo com a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), enquanto a média nacional de salários é de R$ 1.945, a remuneração média do setor de Tecnologia da Informação e Comunicação é de R$ 4.792. Em serviços de alto valor agregado e software, chega a ser quase três vezes maior que a média nacional: R$ 5.628. 

O estudo mostrou também que o setor empregou três vezes mais profissionais no primeiro trimestre deste ano do que no mesmo período do ano passado. Ao comparar o total de empregados ao fim de 2020, cerca de 1,6 milhãos de pessoas, com o registrado em março de 2021, a Brasscom registrou uma variação positiva de 3,3%. O restante da economia brasileira teve um crescimento de vagas ocupadas mais tímido: 1,8%

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