Inteligência Artificial: aliada ou inimiga do emprego?

Ferramentas de Inteligência Artificial desafiam o mercado de trabalho.

Inteligência Artificial

O avanço do uso da Inteligência Artificial (IA) e o crescimento do seu papel em diversos setores da sociedade tem provocado uma mistura de entusiasmo e apreensão. Pesquisa “Global Views On A.I. 2023”, realizada entre 26 de maio a 9 de junho deste ano, revelou que metade dos brasileiros (51%) está apreensiva com produtos e serviços que utilizam a tecnologia. No entanto, 66% dos entrevistados estão animados com o uso da tecnologia e 64% acreditam que há mais benefícios do que desvantagens.

Diante do cenário de mudanças, é preciso que o profissional esteja atento aos efeitos das novas tecnologias no mercado de trabalho. Dados do relatório anual The Future of Jobs (O Futuro do Trabalho), divulgado em maio pelo Fórum Econômico Mundial, revelam que o aumento da digitalização pode resultar em uma importante rotatividade na empregabilidade. Segundo o estudo, conforme as empresas optam por adotar medidas mais automatizadas, algumas profissões podem se tornar obsoletas, enquanto abrem espaço para o surgimento de novos cargos no cenário profissional.

Coqueiro acredita que as ferramentas de IA possuem o potencial de serem uma tecnologia revolucionáriaEscreva a legenda aqui

Alex Coqueiro, diretor de Tecnologia da Amazon Web Services (AWS) para América Latina, Canadá e Caribe, alerta que o Fórum Econômico Mundial estima que 23% dos empregos irão mudar até 2027. Neste contexto, a AWS conduziu no ano passado uma pesquisa que mostrou que cerca de dois terços dos trabalhadores arriscam ficar defasados, pois não estão adquirindo habilidades digitais suficientes para atender às demandas futuras de suas carreiras. Coqueiro acredita que as ferramentas de IA possuem o potencial de serem uma tecnologia revolucionária para aumentar a produtividade, além de auxiliar as pessoas em tarefas repetitivas ou que exigiria muito tempo. No entanto, para aproveitar as oportunidades ao seu favor, é preciso que o profissional se capacite e esteja atento às mudanças no mercado.

“Precisamos ter em mente que o avanço tecnológico é um desenvolvimento natural da sociedade. Temos de nos capacitar e nos atualizar constantemente para que as novas tecnologias sejam nossas aliadas, qualquer que seja nossa área de atuação”, explica o gestor.

Uso nas empresas

Em sintonia com os novos tempos, alguns profissionais já incorporaram na sua rotina o uso de ferramentas de inteligência artificial. É o caso de Carol Laranjeiras, diretora da Laramora, uma empresa voltada para criação de conteúdo para redes sociais. Ela utiliza o ChatGPT como ferramenta para otimizar a realização de atividades no seu empreendimento.

Carol Laranjeiras utiliza o ChatGPT como ferramenta para otimizar trabalhoEscreva a legenda aqui

Segundo ela, a decisão de utilizar a tecnologia surgiu em resposta a uma demanda do diretor de arte da empresa, que buscava uma imagem específica para uma peça. Após não obter sucesso em várias tentativas com bancos de imagens convencionais, o diretor teve a ideia de empregar a IA para criar a imagem desejada. Desde então, a ferramenta está presente no cotidiano da empresa.

“Ele (ChatGPT) consegue dar informações mais precisas em pesquisas de datas e origem de datas comemorativas, por exemplo. Também já criamos roteiro de edição com IA, colocamos a ideia que concebemos e ele criou um roteiro para edição com divisão de tempo para música, imagens, textos. Isso demanda muito tempo e a ferramenta já economiza esse tempo do que deve ser explicado pelo editor do vídeo”, argumentou.

Felipe Amorim, desenvolvedor pleno no Grupo Boticário, também enxerga a tecnoliga como um fator agregador. “A IA vem muito para somar na vida, principalmente para pessoas que trabalham com tecnologia. Mas é algo que exige um conhecimento prévio”, disse ele.

Rafael Velôso, analista do Sebrae-PE, avalia o cenário como positivo para o setor de micros e pequenos empreendimentos. “A IA pode apoiar o empresário tanto em questões estratégicas, desde ajuda a conceber um planejamento de marketing e vendas, até a produção de eventos. Assim como no dia a dia, em questões simples como uma legenda de post para redes sociais ou tirar dúvidas de clientes”, argumentou.

Por outro lado, Velôso se mostra receoso com o uso da ferramenta de forma irresponsável, resultando na acomodação dos empreendedores, que podem perder o criativo humano.

“Os negócios hoje estão onde estão por causa das pessoas e não apenas pela tecnologia. Tecnologia é meio. Então independente do que a IA afirme, sugira, ou crie o protagonista que decide, que adapta e complementa com a sua visão de mundo é o humano, é o empreendedor”, finalizou o especialista.

Legislação Brasileira

Diante do novo momento no mercado profissional, é essencial que as empresas adotem uma abordagem proativa para preparar seus colaboradores. A especialista em direito digital Raíssa Moura destaca qual o limite ético do uso da inteligência artificial pelas corporações.

“É crucial que criem mecanismos eficientes, medidas técnicas e organizacionais capazes de garantir que a IA respeite a privacidade por meio do uso ético dos dados pessoais, incorpore no design de sua tecnologia o conceito de justiça para evitar a discriminação e promova a transparência sobre o funcionamento de suas decisões automatizadas, por exemplo. Esses princípios éticos estão sendo discutidos globalmente, por governos e organismos internacionais, como a UNESCO, e as empresas precisam incorporá-los ao desenvolver ou adotar essas novas tecnologias”, comentou Moura.

Ela ainda pontua, que a Legislação Brasileira já tem leis e regulamentos que tratam de alguns desses aspectos. Outras leis estão em discussão no Legislativo.No Senado tramita o PL 2338, que promove regras gerais para o uso responsável de Inteligência Artificial no Brasil, enquanto a Câmara dos Deputados aprecia o Projeto de Lei 21/20 que cria o Marco legal para o desenvolvimento e uso da IA.

 “O Congresso está dando passos largos rumo à regulamentação da IA. Temos um projeto de lei aprovado na Câmara e outro no Senado. Então, está claro que a percepção dos nossos legisladores é que as leis e regulamentos atuais não estão aptos a endereçar todos os desafios e o impacto que a AI traz para a nossa sociedade”, finalizou a especialista.

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