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"Não existe pesquisa científica que mostre ligação entre jogos e comportamentos violentos", afirma especialista

Psicóloga aponta "visão datada" na fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Psicóloga e mestra da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Jucinara Rodrigues, fala sobre psicologia e jogos eletrônicos - Arte/Petrus Andrade/Cortesia

O comentário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a correlação entre jogos violentos e o aumento da violência demonstrada por crianças e jovens, não repercutiu bem. Nas redes sociais, até mesmo personalidades que o apoiaram durante a campanha de 2022 discordaram das declarações, como Felipe Neto e o próprio filho do chefe da nação, Luiz Claudio Lula da Silva, que afirmou que o pai "acabou generalizando o discurso". Lula afirmou que não existem jogos falando de amor e afirmou que os games ensinam os jovens a matar. 

"A gente não tem pesquisa científica que diga isso, pelo contrário", afirma a psicóloga e mestra da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Jucinara Rodrigues. Acostumada a atender adolescentes, a especialista afirma que jogos são um espelho da nossa sociedade, assim como outras artes e não existe correlação com ato lúdico jogar com o aumento da violência entre jovens e adultos. 

"Acho que existe um desconhecimento teórico dos jogos e de uma generalização, de falar dentro do senso comum quando abordamos temas muito complexos, como é o caso da violência que está acontecendo dentro das escolas", explica. Para ela, a indústria de jogos, inclusive brasileira, tem um leque extenso de títulos educativos, que ajudam em contextos pedagógicos e clínicos. 

Psicóloga e mestra da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Jucinara RodriguesPsicóloga e mestra da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Jucinara Rodrigues. Foto: Cortesia

Após a fala de Lula, a Abragames, Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos, enviou um comunicado à imprensa se posicionando a respeito do tema.

“Imputar aos games a responsabilidade por atos violentos é se apoiar em um pretexto equivocado e leviano para justificar falhas que envolvem segurança pública, educação, economia, saúde e outras tantas atribuições do Estado. Dizer que ‘os jogos ensinam a molecada a matar’ é, no mínimo, irresponsável e demonstra desconhecimento tão grande ou maior do que afirmar que ‘não tem game falando de amor, nem game falando de educação’. Os jogos falam de amor e de educação, assim como falam de cultura, de inclusão social, de diversidade, de superação, de respeito, de esporte e de tantos outros temas extremamente importantes e que nem sempre têm o protagonismo que deveriam ter na sociedade”.

Relembre a fala do presidente

"Quando meu filho tem 4 anos e ele chora, o que eu faço para ele? Dou logo um tablet para ele brincar. Ensino logo um joguinho. Não tem jogo, não tem game falando de amor. Não tem game falando de educação. É game ensinando a molecada a matar. É cada vez muito mais mortos do que na 2ª Guerra Mundial. É só pegar o jogo da molecada, o meu filho, o filho de cada um de vocês", declarou Lula. 

Para Jucinara Rodrigues, é preciso atualizar o discurso a respeito dos jogos eletrônicos. "Há um recorte geracional muito presente nesse olhar político [de Lula]. Hoje, quando a gente observa, os jogos estão presentes na maioria das casas, seja no computador, celular, videogame. Os jogos digitais perpassam as classes sociais porque qualquer pessoa que tem um smartphone consegue ter acesso a uma variedade de jogos. Esse discurso está distanciado dessas práticas sociais, muito ligado a uma cultura mais antiga. Algo que não vai se atualizando", afirma.

"Eu acho que a gente tem que tomar alguns cuidados, já que estamos falando de um público que tem uma vulnerabilidade. Hoje em dia, em muitos dispositivos a gente consegue ter o controle parental. É muito importante o dialogo aberto dos pais, com os adolescentes porque os jogos tem uma faixa etária indicativa. A psicóloga ressalta que quando se joga a criança está atuando e que o papel desempenhado no jogo é diferente do papel social. "O jogo é muito mais algo que descarrega um estresse, uma energia, do que algo que criaria uma referência a práticas violentas", finaliza.

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