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Espetáculo traz a temática de mulheres incríveis que foram invisibilizadas ao longo da história da humanidade

A peça é um diálogo entre épocas, na expectativa de pavimentar um futuro diferente para a livre existência das mulheres

Nesta quarta-feira (02), estreia o espetáculo 'Mulheres de Nínive' e segue com outras duas apresentações amanhã (03), no Teatro Hermilo Borba Filho, dentro da programação do Festival Cumplicidades. O monólogo surge a partir de diversas dúvidas acumuladas ao longo dos tempos: Quantas mulheres incríveis foram invisibilizadas ao longo da história da humanidade, mesmo tendo elas contribuído sobremaneira para todas as nossas celebradas conquistas? Quantas delas foram aprisionadas em ciclos repetitivos de dor, violência, medo e culpa, tudo isso como instrumentos de apagamento e controle social? E principalmente: como romper esses ciclos que parecem intermináveis e moldam, até hoje, o pensar e as construções hegemônicas sobre suas respectivas existências em sociedades ao redor do mundo?

Foi justamente para artística e filosoficamente descobrir essas respostas em si mesma e contando com a contribuição de várias mulheres e uma pesquisa aprofundada, que a atriz, apresentadora e produtora cultural, Nínive Caldas, pensou na peça, que é dirigida pela atriz, psicóloga e diretora teatral, Hilda Torres. O trabalho busca ressignificar as possibilidades do “existir mulher”. Apesar do nome do espetáculo ser praticamente homônimo ao da atriz, a peça está longe de ser uma experiência meramente auto-centrada.

É, sim, uma busca que parte de vivências pessoais, mas em diálogo e desconstrução da estrutura patriarcal na qual estamos todas e todos inseridos. A proposta surge a partir da relação de Nínive com Maria Madalena, personagem que interpretou na Paixão de Cristo, em Fazenda Nova.  Em seu processo de pesquisa cênica, percebeu que Madalena era mais uma mulher que teve sua história apagada, reforçando a lógica machista, misógina e preconceituosa que ela e tantas outras mulheres, além da própria Nínive, foram inseridas sumariamente pela estrutura.

Além da relação evidente com a atriz e idealizadora do espetáculo, Nínive também foi uma cidade histórica, famosa tanto nos ciclos bíblicos, quanto pagãos. Foi a capital da Assíria, na antiga Mesopotâmia, berço dos famosos jardins suspensos da Babilônia, onde hoje localiza-se o Iraque. Na Bíblia, a cidade a qual Deus mandou o profeta Jonas para salvar o povo de seus pecados, mas por se recusar, foi engolido por um grande peixe. Já na Cabala, é símbolo de força remetida ao início dos tempos, bem Antes de Cristo.

Nesse contexto, conta-se que a primeira mulher a se destacar foi Semíramis, que passou a ser reconhecida como uma grande guerreira e arqueira, que lutava ao lado dos homens e se destacava nas caçadas. Ela herdou a tradição da rainha de Sabá, guardiã do sagrado feminino ensinados por Eva. O nome espiritual dessas mulheres aprendizes de Eva era Eufame que quer dizer castiçal da potência. Elas guardavam os mistérios do sagrado feminino, tinham o domínio das fases da lua, eram guardiãs do fogo e conhecedoras dos oráculos.

Contudo, foi também em Nínive onde um dos episódios mais violentos de apagamento feminino que se tem conhecimento aconteceu, em um verdadeiro massacre físico e cultural. Ao se tornar um grande centro místico que reunia pessoas até mesmo de grandes distâncias, dirigido e administrado pelas Eufames, passou-se a perseguir e posteriormente matar essas mulheres, gerando um grande massacre ocorrido na cidade. Poucas delas sobreviveram e, essas, fugiram para tentar salvar suas vidas e famílias.

Não por acaso, as histórias das Madalenas, Nínives, Semíramis e tantas outras mulheres se misturam nesse enredo que é completamente atemporal. Não existe nele uma personagem principal, são várias mulheres que habitam uma mesma em cena. Mulheres que colocaram e colocam seus corpos como instrumento para abrir portas e arar terrenos para as do futuro. No cenário, uma grande saia no centro do palco, representando o mar, os oceanos e as águas que nos ligam. A equipe foi ganhando corpo com a preparação corporal de Lili Rocha; a trilha sonora das musicistas e compositoras Nana Milet e Ana Paula Marinho; o desenho de luz desenvolvido pela iluminadora Natalie Revorêdo; e o figurino criado pela estilista Xuruca Pacheco, o stylist Marcelo Mendes, a atriz  Fabiana Pirro e a diretora, Hilda Torres. 



 

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