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Ano novo. Uma aquarela pernambucana

Na aurora de novo olhar, que os pernambucanos escutem o som ao redor

Vista geral do Recife - Paullo Allmeida / Folha de Pernambuco

O tempo passado está no tempo presente que está no tempo futuro. Por isso, a memória derrama-se no horizonte. Ano novo. Costurado de esperança. O tempo é transparente. Rugas são escolhas feitas, trilhas vividas. E cabelos brancos são estandartes de vitórias de outono. Vencidos inverno e verão.

Pernambuco, sim. Abraçar este pedaço de chão: massapê, sons agrestes e caatinga. Duartino e nassoviano. Aristocrático e popular. No preservar e no construir. No hino, Roma de bravos guerreiros. Transformando-se, no tempo da arquitetura, em Grécia de fazedores certeiros.

Pernambucanos, temos três destinos calibrados no suor do cotidiano: primeiro, o mar, no calcáreo dos portos, Recife e Suape, redesenhando a logística atlântica; segundo, o comércio, na mascataria, antigamente de açúcar, para Amsterdam, hoje mascates digitais, cheios de sistemas e aplicativos, para o mundo global; terceiro, a arte, como colecionadores de cultura, cativos da beleza: no poema cromático, feito de sol, de Carlos Pena Filho, no canto armorial de Ariano Suassuna e no polimento de bens culturais, materiais e imateriais, de Aloísio Magalhães.            

Na chance de reinaugurado tempo, o emblema mais apropriado a apregoar é a poesia de Carlos: visionário, compromissado com a delicadeza e vestido de deveres com sua gente. Consciente da transitoriedade da vida:

“Lembra-te que afinal te resta a vida / com tudo que é insolvente e provisório / e de que ainda tens uma saída:/ entrar no acaso e amar o transitório”.
Atento às exigências sociais de sertões encharcados de seca:

“No verão, quando não há / capim na terra / e milho no paiol / solenemente mastigo / areias, pedra e sol”.

Ligado às palmeiras que anunciam, pioneiras, o espírito republicano dos olindenses:

“Olinda é só para os olhos / não se apalpa, é só desejo / ninguém diz: é lá que eu moro / diz somente: é lá que eu vejo”.

Pernambuco, entre peças de barro e madeira, produz dois tipos de artesanato: o artesanato da alegria, nos frevos de Capiba e Nelson Ferreira, no frevojazz de Spok, nos blocos líricos, nos maracatus, na inspiração batuqueira de Naná Vasconcelos. E o artesanato da invenção, na economia criativa, culinária, moda, tecnologia, cinema, pintura, museus.

Na aurora de novo olhar, que os pernambucanos escutem o som ao redor. Teçam, no silêncio consensual, o viável. E construam, na obra, o improvável.

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