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O futuro está na memória. Ou o legado do G20

Eis o legado mais valioso do G20 do Rio: inspirar a ideia resistente de novo humanismo

Fotografia oficial final do G20 - Tânia Rêgo/Agência Brasil

“A única resposta eficaz ao mal absoluto é a fraternidade”

André Malraux

Dois marcos da evolução civilizatória: a Revolução Americana, de 1776, e a Revolução Francesa, de 1789. A Revolução Americana foi um sucesso. Porque não teve que enfrentar a fome que afetava os franceses nas ruas de Paris. Os founding fathers foram institucionais. A partir da Convenção da Filadélfia, aprovaram uma Constituição. E, com Madison, Washington, Adams e Jefferson, consolidaram a Federação norte-americana.

Por sua vez, a Revolução Francesa foi assaltada pelos jacobinos. Viu o sangue correr na guilhotina. Autofágica, eliminou Robespierre. Cavou, a curto prazo, um desastre político. Por causa da miséria social. Ao invés de fortalecer a novel República, reinaugurou o Império, com Napoleão III (1808-1873). Sobrinho de Napoleão Bonaparte, eleito pelo voto direto, deu um golpe em 1851 quando a lei não permitiu sua reeleição. Patrocinou a reforma urbana de Paris, com o arquiteto Haussman. Depois, veio a Terceira das Cinco Repúblicas, da França.

O tempo passa. Estamos no século 21. A institucionalidade buscou democracia. O  jacobinismo transformou-se em nacionalismo. Num voo cego que olvida as lições de ontem. A Rússia tenta restaurar a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS. Em improvável delírio de antigo terror stalinista. E os Estados Unidos procuram o contrário do contemporâneo: o MAGA. Make America Great Again. Devaneio arcaico, perdido no próprio ego.

Mas, eis que surge a luz, no ínterim da lucidez: os vinte países mais ricos do mundo reúnem-se sob a benção do Cristo redentor. E lançam um olhar para o outro. Encontro temático. Aliança contra a fome. Luta contra a desigualdade. E taxação dos super-ricos. De Xi Jiping a Joe Biden. De Giorgia Meloni a Olaf Scholz.

Em algum lugar, na baía de Guanabara, viu-se a inspiração da liberdade profunda escrita por Hannah Arendt: “Ser livre não é meramente ser desimpedido; é empreender ação positiva com outros”. O pensamento político traz sempre consigo a experiência histórica. E é a experiência que tece a consciência. De que, entre o passado e o futuro, pode habilitar-se o erro dos negacionistas. Mas é onde subsistirá a utopia do presente.

Eis o legado mais valioso do G 20 do Rio. Inspirar a ideia resistente de novo humanismo. Vestindo a roupa da justiça. Para combater a fome. O escritor franco-argelino, Albert Camus, prêmio Nobel de literatura de 1954, em viagem ao Brasil, disse: “Ao contrário de povo civilizado, um povo criador. Esses bárbaros que se espairecem na praia, tenho a esperança insensata de que talvez estejam modelando uma cultura em que a grandeza do homem encontre sua verdadeira expressão”.

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