O mascate na Casa Branca. Ou a disputa entre democracia e autocracia
A regra é: quem convida, protege; quem é convidado, sente-se protegido
“Bem-vindo sejas, irmão brasileiro! teu amplo lugar está pronto; um sorriso te enviamos do Norte – mãos afetuosas, uma urgente saudação cheia de sol; que o futuro se haja sozinho onde quer que surjam transtornos e obstáculos”. Walt Whitman, Antologia da poesia dos Estados Unidos, Ediouro, Rio, 1993
Hospitalidade é regra de toda casa. A regra é: quem convida, protege; quem é convidado, sente-se protegido. Não foi o que aconteceu com o presidente da Ucrânia. Em visita à Casa Branca. O modo grosseiro, como foi tratado, terminou numa saída apressada do visitante. Fora do protocolo. E do mínimo de educação. Ficaram mais evidentes os termos em que as coisas estão postas. O que o presidente Trump quer são as terras ucranianas, raras, cheias de minério. Sem dar segurança em troca aos ucranianos. A diplomacia cedeu lugar a negócios. Por isso, há uma plutocracia funcionando.
Está claro que a geopolítica mundial mudou de rumo. O critério de decisão do presidente norte-americano é o poder. Em três direções: primeira, o Trump mascate, na visão negocial; segunda direção, o Trump estrategista, transacional, usando o poderio americano para ampliar sua influência, como nas ameaças ao Canadá e ao Panamá; e a terceira direção, o Trump imperial, no modelo romano de incorporação de espaço físico, político e institucional.
Para isso, o presidente dos Estados Unidos rompeu a aliança histórica com a Europa ocidental. Desde 1945, finda a Segunda Guerra. Por que? Porque os fados o induziram a uma trajetória autoritária. A seu gosto. Em circunstancial encontro com Vladimir Putin, autocrata russo. Encontro de vocações. De vontades. E de interesses. Confluentes.
São nítidas quatro ordens de consequências: realinhamento geopolítico das maiores potências, Estados Unidos, China e Rússia; maior esforço militar dos países europeus para compensar a ausência americana no apoio à Ucrânia; incremento da migração de populações entre nações europeias fugindo da guerra; e menos investimento em programas sociais e ambientais.
É possível avaliar a construção de dois cenários principais para o conflito entre Ucrânia e Rússia: um cenário de curto prazo e um cenário de médio prazo. O cenário de curto prazo é de seis meses. Período crítico no qual a Ucrânia teria que resistir aos ataques russos. Talvez sem o suporte da rede de satélites de Elon Musk, que sustenta a rede antiaérea da Ucrânia.
Se conseguir resistir durante seis meses, e se os países europeus organizarem esquema de apoio em substituição aos americanos, a Ucrânia ganha condições de assumir o segundo cenário. Com prazo de dez meses. A partir do qual as forças em jogo apresentariam suas possibilidades futuras. De vitória. Ou derrota.



