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Outro olhar, mais leveza e compaixão

Outro olhar, mais leveza e compaixão

As coisas mudam. As tecnologias mudam. A arte muda. Com simplicidade. E resignação. A tecnologia prenunciava ordem menos desigual. Mais proteção. Poder mais descentralizado. Não foi assim. Porque faltava um modelo. Era um mundo novo. Admirável mundo novo. Improvável. Por isso, não estávamos preparados para ele.

No caso das instituições políticas, o curso foi mais seguro. Porque houve um modelo. Após o poder centralizado na monarquia, no século 18, veio a Revolução Francesa, o Iluminismo e a genialidade de Montesquieu. Com a tripartição do poder do Estado moderno: Executivo, Legislativo e Judiciário. E o sol caloroso da democracia.

Na prática, a institucionalidade é freio à tirania. Porque exerce contenção à vontade singular. Limite que os ditadores não acalentam. Funciona com equilíbrio entre Poderes. Exige paciente tessitura de negociação. E acordo. Institucionalidade é processo. No movimento de forças históricas.

Na arte, a mesma coisa. Tomemos Picasso. E o cubismo. A mais profunda revolução na perspectiva visual pós Renascimento. A partir daí, vieram, em 1911, Duchamp, em mostra de vanguarda em Nova York. Junto com Braque, Matisse e Brancusi. Inaugurava-se a exposição dos ready made (objeto já fabricado).

No Brasil, aproximava-se a semana de Arte Moderna, de 1922. A invenção de Mario de Andrade. Os Sapos, de Manuel Bandeira. O nascer do mundo no Recife, no cinzel de Cícero Dias. E a descoberta pictórica de Tarsila do Amaral, Abaporu. Hoje, exposta no Museu Latino-americano de Buenos Aires - MALBA.

Na política, o século 20 nasceu com a queda de um czar, Nicolau. E feneceu com os petardos mortíferos de outro czar, Putin. O que seria avanço, virou recuo. Nos Estados Unidos, a aprovação dos direitos civis dos negros passou pela black lives matter. E chega no século 21 com invasão do Capitólio.    

O comunismo inaugural faliu na improdutividade do Estado. E o capitalismo outonal criou o impasse de sistema que acumula. Mas não distribui. Cria bolsões de miséria em áreas de decrescimento econômico. E, mesmo em países ricos, convive com violência alimentada pela falta de chances para a maioria.

Para o sociólogo alemão, Hans Enzensberger, quatro coisas escasseiam: o tempo, na correria de competição infinda; o espaço, tomado por veículos em tráfego engarrafado; a tranquilidade, afetada por modos de violência cada vez mais refinados; e o silêncio, pelo excesso de buzinas e escapes incontrolados. Restam a amizade verdadeira, o abraço e o ócio criativo.

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