Pensamento conservador no Brasil. A saga de Tancredo Neves (2)
Pensamento conservador é conceito liberal, civilista. Longe de golpismo
O pensamento conservador, no Segundo Reinado (1840-1889), deu estabilidade ao Brasil. Um suporte, nesse período, foi a política de conciliação. Com o gabinete do marquês do Paraná em 1853. Conciliação é estilo de vida. Seja conciliação social vivida pelo brasileiro na rua. Seja conciliação política exercida no poder. Na conciliação política, os Partidos desempenharam papel relevante. Em 1861, caiu o gabinete Paraná. O Partido Conservador bifurcou-se em duas facções: conservadores extremados e moderados.
Os conservadores moderados fizeram aliança com o Partido Liberal. A iniciativa resultou na formação do Partido Progressista. Essa divisão partidária foi a mesma alternativa política utilizada no período republicano. Em 1983, Tancredo Neves deixou o PMDB e criou o Partido Popular – PP. Levando banda de peemedebistas. E viabilizando sua candidatura a presidente da República.
Em 1984, Aureliano Chaves e Marco Maciel desligaram-se do PDS e instituíram o Partido da Frente Liberal – PFL. Definindo a chapa vencedora para a eleição presidencial: Tancredo e Sarney. Morto Tancredo, Sarney governou de 1985 a 90.
124 anos depois, 1985 reedita 1861. A fragmentação partidária, na conciliação, viabiliza solução política. No Império, com o avanço da ideia da abolição da escravatura. E a intervenção militar do general Deodoro da Fonseca proclamando a República. Na República, com esgotamento da ditadura de 64, a conciliação voltou a funcionar. Com Tancredo Neves. Reunindo consenso político como saída para redemocratizar o país. Superou o veto militar.
O pensamento conservador, vitorioso no Brasil, tem nome: Tancredo Neves. Já em 1961, Tancredo apresentou solução para impasse com militares. Que se opunham à posse de Jango Goulart. Substituindo Jânio Quadros, que renunciara à presidência. Tancredo costurou emenda parlamentarista aprovada pelo Congresso. Jango assumiu a presidência. Na companhia de um primeiro-ministro, chefe de governo. Dois anos depois, um plebiscito extinguiu o parlamentarismo. E, em 1964, veio o golpe militar.
O PMDB é o Partido da conciliação. Fados impediram que Tancredo botasse a faixa no peito em 1985. Mas deram ao PMDB chance de longevidade política. Da resistência democrática nos anos 70 às alianças nos anos 2000. Em 1974, sem chance de vencer, o PMDB lançou para a presidência a chapa Ulysses Guimarães/Barbosa Lima Sobrinho. Perdeu. Mas elegeu 16 senadores. E bancada de deputados federais. Entre 1970 e 80, o PMDB viveu ambiguidade. De um lado, a liderança corajosa de Ulysses Guimarães. De outro lado, o PMDB convivia com fratura interna entre autênticos e moderados. Autênticos liderados por Marcos Freire. E moderados, incentivados por Thales Ramalho.
Durante vinte anos, o PMDB contribuiu com o país. Resistiu à ditadura, defendeu a liberdade, proclamou a democracia. Liderou as Diretas Já. E comandou a Assembleia Constituinte, com Ulysses Guimarães. Democracia complexa, como a brasileira, deve contar com Partido estruturado nacionalmente. Com códigos de flexibilidade política. E imaginação moral. Pensamento conservador é conceito liberal, civilista. Valorizando tradição e justiça. Longe de golpismo.