Raízes do pensamento conservador (1)
No Brasil, o conservadorismo se concretiza na prática de instituições políticas e econômicas
O pensamento conservador na política brasileira tem raízes no poder moderador de Pedro II. E na imaginação moral de figuras como Bernardo Pereira de Vasconcelos, José Maria Paranhos, o barão do Rio Branco, Joaquim Nabuco. Nada a ver com o aloprado lobo solitário.
O fio condutor nasce com o filósofo Edmund Burke (1729-1797) e a contribuição de T. S. Eliot (1888-1965). No Brasil, o conservadorismo mistura-se ao liberalismo francês. Encontra âncora na monarquia. Nesse espaço, encontram-se o poder moderador do Imperador, o bipartidarismo (Partidos Conservador, saquaremas, e Partido Liberal, luzias) e a mentalidade das elites.
O pensamento conservador, no Brasil, não é atividade abstrata. Mas se concretiza na prática de instituições políticas e econômicas. Suas raízes no Segundo Reinado (1825-1891) garantiram, por meio século, estabilidade política, liberdade e atividade doutrinária. Daí que, na República, frutificam o pensar e o fazer de Cândido Mendes de Almeira (1811-1881), Jackson Figueiredo (1891-1928), Alceu Amoroso Lima (1893-1983), Gustavo Corção (1896-1978).
Seus fundamentos eram: justiça, a cada homem é concedido aquilo que lhe é próprio; ordem, conferindo paz e harmonia na sociedade; e liberdade, o homem é senhor da própria vida. José Murilo de Carvalho destacou: o poder moderador favorecia a representação da minoria tornando temporária a derrota de um dos Partidos. Garantiu o bipartidarismo.
Essas instituições produziram cenário em que aparecem três correntes: a mentalidade tradicionalista, a mentalidade liberal conservadora e a mentalidade progressista ligada ao Partido Republicano. Na República Velha (1889-1930), prevaleceu a política dos coronéis e dos governadores. No período Getulista (1930-1945), instalaram-se ditadura e reforma social trabalhista (CLT em 1943).
Com a redemocratização em 1945, e a derrota do nazifascismo, os valores da democracia, liberdade e eleição, se afirmaram. Entre 1945 e 1964, o processo político é vivido por dois Partidos ligados à classe média: o PSD, da classe média rural, de Tancredo Neves e Ulysses Guimarães; e a UDN, da classe média urbana, de Carlos Lacerda e Magalhães Pinto.
Com a industrialização, Getúlio percebeu o surgimento do operariado. Criou o Partido Trabalhista Brasileiro – PTB, no início dos 50. Para dar voz e receber voto dos trabalhadores. Trinta anos depois, foi criado o PT. E o PSDB. Ambos, social-democratas. O PT com ênfase sindical. E o PSDB, com laços na sociedade, universidade e igreja. Não se aliaram por causa da rivalidade paulista entre Lula e FHC.
A tentativa de golpe em 2023 é obra de lobo solitário. Já preso e condenado pela Justiça Militar, quando na ativa. E chegou a defender a morte de Fernando Henrique Cardoso.
A sociedade civil brasileira tem, hoje, expressão em diferentes correntes de opinião. No espectro partidário que vai da direita à esquerda, de conservadores a progressistas. E isto é bom.