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A Revolução Francesa de 1789 fixou as bases dos direitos da pessoa humana

A Revolução Francesa de 1789 fixou as bases dos direitos da pessoa humanaA Revolução Francesa de 1789 fixou as bases dos direitos da pessoa humana - Eugène Delacroix/Museu do Louvre/Reprodução

A vida moderna são ambiguidades. Contradições. Mudança. O real e o ficcional misturados. Ser moderno é compartilhar. E, ao mesmo tempo, chegar à beira do abismo. Viver é perigoso, disse o poeta. Este é o paradoxo de nosso cotidiano. O século 21 é avanço. Com alguns recuos. Turbilhão. Que quase não nos permite criar raízes. Vínculos de afeto. Lealdade. 

No tempo histórico, do século 16 ao século 18, a Revolução Francesa de 1789 fixou as bases dos direitos da pessoa humana. No período do século 19 e do século 20, vivemos a mais profunda mudança social. Experiências políticas criminosas. Duas guerras mundiais. E a descoberta da penicilina e dos antibióticos. Progresso tecnológico que nos levou à lua. No século 21, continuamos a ouvir Mozart, a Mona Lisa tem uma sala, no Louvre, só para ela. E Franz Kafka é lido por milhões de pessoas. Ah, sim, agora desenvolvemos a inteligência artificial. 

Por outro lado, o duelo político entre democracia e autoritarismo prossegue. O populismo nutre ambos os lados da moeda, esquerda e direita. E o espaço público assume formas nunca dantes imaginada. Com rareamento de valores. E escassez da verdade. Perdeu-se o pudor moral. Com emendas secretas. Lembrando que, no século 13, os barões feudais disseram ao rei inglês: Vossa Alteza pode continuar cobrando imposto, mas tem que dizer onde gasta nosso dinheiro.

O fato é que temos avançado. Na qualidade de vida pessoal. Na organização social e na mobilidade urbana. Na longevidade humana a partir dos recursos da medicina e dos cuidados com a saúde. No desfrute do bem valioso da vida. No percurso do turismo desvendando novas geografias e costumes nacionais. Na eternidade do amor que une as pessoas. E funda o núcleo familiar. A base de tudo. E para que possamos agregar valores, aprofundamos o pensamento crítico no conhecimento filosófico. E ampliamos a curtição da cultura, na proteção crescente de bens culturais materiais e imateriais. Olhar Caravaggio e Monet. Picasso e Pollock. Ouvir a Nona Sinfonia de Beethoven. E as sonatas de Rostropovitch. 

No itinerário, que nos permitiu chegar até aqui, o surgimento da burguesia foi fundamental. Pela capacidade de empreender. Desenvolvendo o comércio. Fortalecendo os negócios. Singrando o mar de Camões. E abrindo horizontes no Novo Mundo. Então, inventou-se o trópico. Como modo de vida. E expressão da cultura. Nasceu a morenidade. Afirmou-se a tri-raça. O reggae, o samba e o frevo. Estimulando o talento de viver junto. Conviver. Etnias convergentes, o branco, o negro e o índio. Lutando contra o preconceito e a covardia. Pela justiça. A favor da fraternidade.

A era dos impérios parecia ter acabado. Mas, aí, veio a Plutocracia. Um autocrata que não respeita a lei. Que precisa de um juiz de Nova York. Para dizer onde estão os limites da autoridade e os da cidadania. No processo de extinção da USAID. E que outro juiz proíba o novo chefe do Escritório de Planejamento e Orçamento - OMB. No propósito de acessar o valor das rubricas dos órgãos federais. Para sustar pagamento de despesas orçamentárias. A seu bel prazer. 
Nesse contexto, Gaza não é Guernica. Sua beleza natural serve aos povos originais. E não a distraídos frequentadores de improváveis rivieras.

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