“1899” cancelada: quais os motivos do encerramento prematuro nos streamings?
Dos mesmos criadores de “Dark”, “1899” foi cancelada pela Netflix após uma temporada
O início do ano não começou com notícia boa para os fãs de “1899”. Isso porque a Netflix decidiu encerrar a série dos mesmos criadores de “Dark”, deixando os telespectadores surpresos. Sabe-se que os showrunners tinham planos para que o projeto durasse por, pelo menos, mais duas temporadas, mas não foi o que aconteceu.
Quando foi lançada em novembro de 2022, “1899” foi acusada de plágio pela ilustradora e quadrinista brasileira Mary Cagnin, que fez uma série de tweets comparativos sobre a sua HQ “Back Silence”, lançada em 2016, e a produção da Netflix. Muitos especulam se a polêmica teve relação com o recente cancelamento, mas nenhuma declaração oficial foi dada tocando neste assunto. O fato é que quando uma série é cancelada, os motivos e os porquês quase nunca são revelados. Mas podemos ter uma ideia.
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Séries podem ser bem caras
Ao escolhermos uma série para assistirmos, o custo para ela ser produzida e todo o trabalho feito por trás das câmeras quase nunca é percebido. Grandes sucessos como “The Crown” (2016) e “Game of Thrones” (2011-2019), por exemplo, custaram US$ 13 milhões e US$ 15 milhões, respectivamente, por cada episódio feito. Dá para imaginar?
Voltando para “1899”, que tem parte de seus bastidores também mostrados no catálogo da Netflix, vemos que a série também deve ter custado muito. Produzida no meio da pandemia e com elenco de várias partes do mundo, o diretor Baran bo Odar e a roteirista Jantje Friese optaram por usar a tecnologia “Volume” para driblar o complicador das viagens, proibidas pelo isolamento social.
Volume é uma tecnologia que tem a mesma função (muito mais aprimorada) que o Chroma Key, transformando o ambiente ao redor do ator ou atriz em qualquer lugar desejado. Visualmente, o Volume é um grande paredão de LEDs em 180º, muito mais realista que a tela verde.
É de se imaginar que o dinheiro investido na primeira temporada pode não ser o mesmo para a segunda e que, talvez por isso, tenha sido cancelada. Mas só podemos supor.
Audiência e algoritmos
Algumas decisões podem ser tomadas com base nos dados que a série apresenta nos primeiros dias de seu lançamento. Na Netflix, por exemplo, um dos fatores decisivos é a audiência. Se a produção não tem grandes números, o streaming não vê motivos para continuar investindo naquilo. Por isso é importante maratonar os episódios nas primeiras semanas após a estreia. Isso dá o recado de que o público gosta do que está assistindo.
Em 2019, a chefe de conteúdo da Netflix na época, Cindy Holland, explicou o que influencia na decisão.
Quando estamos investindo, decidimos o quanto investimos baseado na audiência que vai aparecer. Se a audiência não aparece, pensamos na razão para continuar investindo em algo que não está se saindo tão bem quanto esperávamos", disse Holland.
“Obviamente, sucesso de crítica é importante, mas estamos tentando fazer o dinheiro de nossos investidores valer – é deles, não nosso”, afirmou.
Problemas de bastidores
Séries de TV, assim como os filmes no cinema, são feitas por muitas pessoas. Problemas sempre vão surgir e, às vezes, as discordâncias podem influenciar na história. Lembra-se de “House Of Cards”? Após a saída do protagonista Kevin Spacey, acusado de assédio sexual, seguir com a série se tornou impraticável, sendo cancelada pouco depois.
Outro caso famoso é o da série “Castle” (2009-2016). O casal de protagonistas Nathan Fillion e Stana Katic, que viviam Richard Castle e Kate Backett, tinham uma dinâmica péssima no set de filmagens. As brigas nunca foram oficializadas, mas temos alguns fatos que apontam algo estranho: a renovação do contrato de Nathan para a nona temporada, mas não a de Stana. A atriz decidiu não participar da nova temporada e sua decisão seguiu junto às da colega de elenco Tamala Jones, do showrunner Andrew Marlowe e da produtora executiva Terri Edda. Todos saíram.
Com isso, a emissora ABC cancelou a série antes mesmo da exibição do último episódio da oitava temporada, a nona nunca existiu.
Pode acontecer tudo, inclusive nada
Os motivos que fazem uma série ser cancelada pode ser uma combinação do que foi citado aqui ou não. Pode ter um ou vários motivos. Fazer uma série é como estar em um trem em movimento, apesar do que acontece dentro ou fora, ele precisa seguir em frente.
Do lado do público, esse ritmo frenético de lançamentos pode ter seu bônus. Ainda que as estreias de temporadas completas possam, de certa maneira, não exercitar a expectativa do público da mesma maneira como os episódios semanais proporcionam, a indústria televisiva tem estado em uma crescente nos últimos anos, tanto de técnica cinematográfica quanto na qualidade do enredo. É só escolher a próxima.
*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.
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