“A Casa do Dragão”: expansão do universo é convite para retorno a Westeros
Episódios serão semanais, a partir deste domingo (21), na HBO e HBO Max
Uma jovem mulher loira e obstinada sobrevoa uma cidade na garupa de um dragão. O céu é cortado pelo animal gigante e ameaçador que se aproxima cada vez mais da Fortaleza Vermelha em Porto Real, capital dos Sete Reinos de Westeros. Fãs de “Game Of Thrones” podem pensar que a cena descrita remete à cena da última temporada em que Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) decide atear fogo nos cidadãos e tomar o Trono de Ferro da pior maneira possível – insira aqui toda a revolta do público –, mas essa não foi a primeira vez que isso aconteceu.
Aproximadamente 200 anos antes da guerra contra os Lannisters, outra jovem também cruzava o céu de Porto Real acompanhada de uma criatura mitológica, mas Westeros estava diferente. A família Targaryen não estava resumida em três dragões e uma sobrevivente querendo vingança. Na realidade, o sobrenome tinha ainda mais poder e influência, não só porque os dragões eram comuns e em maior número, mas porque o rei que sentava no Trono era Viserys I Targaryen (Paddy Considine). A garota em cima do dragão é Rhaenyra Targaryen (Milly Alcock/Emma D'Arcy), sua filha, que viaja entre Porto Real e Pedra do Dragão com uma naturalidade corriqueira.
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É assim que o público será apresentado à nova trama do universo de George R. R. Martin, no próximo domingo (21). Adaptada do livro “Fogo e Sangue”, a série derivada “A Casa do Dragão” traz a família Targaryen como protagonista. A coluna Uma Série de Coisas recebeu os seis primeiros episódios dos dez que compõem a primeira temporada. Confira a seguir detalhes sobre o que sabemos da literatura de Martin com o que será visto na primeira temporada da série.
Autonomia e personalidade
Para quem viu “Game Of Thrones”, assistir “A Casa do Dragão” é como voltar para casa depois de um longo tempo fora. O ar de Westeros parece ser o mesmo, mas tudo está mudado. Agora, não temos várias famílias no jogo político sobre quem conquistará o Trono de Ferro. Isso porque não existe uma guerra declarada, pelo menos não ainda. A família Targaryen comanda e, pela ótica deles, vemos as peças do “jogo de xadrez” ser manipuladas de dentro.
O roteiro é tão independente que nem precisa ter assistido a série mãe para assistir ao derivado. O número de personagens continua complexo: embora focado em uma única família, os nomes podem se repetir entre Aegon, Viserys, Rhaegar, entre outros. As semelhanças físicas também não ajudam, todos herdaram a mesma característica de quem tem sangue valiriano: os cabelos loiro-brancos.
Mas o enredo, na superfície, é simples. O rei Viserys I precisa pensar em seu sucessor antes que a doença acometida acabe com sua vida. O problema é que ele não possui um filho homem, mas, sim, Rhaenyra, sua filha mais velha. Embora a época seja antiga, a intenção do rei independe de gênero – ele continua a defender que o Trono deve ser de sua herdeira. Afinal, ele se tornou rei porque sua prima, Rhaenys (Eve Best) era mulher, conhecida como a Rainha que Nunca Foi. Ele pretende fazer diferente desta vez.
Por outro lado, a maioria da Corte discorda, apontando que o próximo a governar deve ser o irmão do rei, o príncipe Daemon Targaryen (Matt Smith). Ainda no episódio piloto fica claro o motivo pelo qual Viserys não quer passar a coroa para Daemon. O irmão mais novo tem uma personalidade cruel, maliciosa e volátil.
Rhaenyra x Alicent
Se de um lado temos Rhaenyra como filha legítima do rei e supostamente mais cotada para o Trono, do outro temos Alicent Hightower (Emily Carey/OliviaCooke). Na história dos Targaryen, sabe-se que Alicent é filha da Mão do Rei, Sor Otto Hightower (Rhys Ifans) e que, no futuro, se casaria com o rei Viserys I.
A dinâmica entre essas mulheres é, também, o que dita o tom tenso de “A Casa do Dragão”. Criadas como amigas, quando uma passa a ser madrasta da outra, as coisas começam a ficar incômodas. Mas quando ambas crescem e tem filhos, nasce uma disputa silenciosa para que os filhos de uma ou de outra fossem priorizados na sucessão.
A Corte, agora, se divide entre quem apoia a Rainha Alicent ou a princesa Rhaenyra. Na série, vemos duas garotas nutrindo provocações aqui e ali até a fase adulta, onde as responsabilidades aumentam. Essa relação é a alma do jogo político e dos primeiros passos na direção do chamado Dança dos Dragões, a guerra civil que devastou os Sete Reinos e que enfraqueceu a Casa Targaryen, saindo com quase todos os seus dragões adultos mortos.
Elementos nostálgicos não atrapalham
Não faria sentido menções diretas à “Game Of Thrones” sendo que a “A Casa do Dragão” se passa 200 anos antes. Ainda assim, algumas referências são a “cola” entre os dois mundos. Feito com cuidado, o derivado acaba sendo um chamado para alguns detalhes de dois séculos à frente. O crânio de Balerion, maior dragão conhecido como o Terror Negro, por exemplo, pode ser visto nas duas séries. Com a curiosidade de que, no spin-off, a criatura tinha morrido a menos tempo. O próprio rei Viserys I, quando jovem, afirma ter montado algumas vezes em Balerion. Em “GOT”, Cersei Lannister (Lena Headey) usa o crânio como alvo de uma arma capaz de matar dragões.
Entre locais sugestivos da Torre Vermelha e o represeiro conhecido como Árvore-Coração, um objeto também nos salta os olhos já no trailer: Alicent é vista empunhando uma adaga de aço valiriano na Sala do Trono, a mesma que um assassino empregou para tentar matar Bran Stark (Isaac Hempstead-Wright) na primeira temporada de “Game Of Thrones” e a mesma que Arya Stark (Maisie Williams) usou para esfaquear o Rei da Noite na última leva de episódios.
Trazendo narrativas semelhantes a séries como “Succession” e “Vikings”, “A Casa do Dragão” é um prato cheio para quem curte o gênero. A produção, sem dúvidas, promete ser tão grandiosa quanto sua antecessora, abrindo o leque de possibilidades bem desenvolvidas para tudo que venha de Westeros. Veja o trailer:
*Fernando Martins é jornalista, escritor e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.
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