A complexa narrativa de “Cangaço Novo” em uma das melhores séries nacionais do ano
Alice Carvalho brilha no papel de Dinorah em nova série nacional da Prime Video
Em um intrigante cruzamento entre a história enraizada do cangaço e uma roupagem moderna, a série "Cangaço Novo", da Prime Video, emerge como uma jornada audaciosa através dos tempos, explorando o tecido cultural e as motivações que permeiam o movimento. Com sensibilidade e cautela, a produção traz à tona uma discussão complexa, sem desrespeitar as raízes profundas que o nordeste brasileiro representa.
O cangaço, um fenômeno histórico que floresceu nas décadas passadas, ganha um novo fôlego nesta série muito bem dirigida por Aly Muritiba e Fábio Mendonça. As semelhanças entre o cangaço antigo e o contemporâneo não podem ser ignoradas. Ambos os movimentos emergiram de contextos sociais e econômicos desafiadores, onde indivíduos marginalizados buscaram uma vida melhor por meio de métodos considerados fora da lei.
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A série traça um paralelo entre essas duas épocas, oferecendo uma janela para o passado que lança luz sobre o presente. Ao fazer isso, "Cangaço Novo" mergulha profundamente nas raízes culturais do nordeste, tecendo um enredo que mistura tradição e modernidade de maneira habilidosa. Os cenários ricos em detalhes e as interpretações autênticas dos atores adicionam camadas de profundidade à narrativa. É hipnotizante.
A história acompanha a história de Ubaldo (Allan Souza Lima), um bancário que recebe uma herança que o leva a conhecer seu passado no sertão cearense. O protagonista é um homem do século XXI, mas suas raízes estão no cangaço. Pode-se dizer, também, que ele é um reflexo da dualidade do movimento cangaceiro, que é ao mesmo tempo violento e heróico, romântico e trágico.
No centro dessa trama, encontra-se a atuação magnética de Alice Carvalho, que desempenha o papel da irmã de Ubaldo, Dinorah, com uma intensidade arrebatadora. Sua presença em tela é imponente, trazendo vida a uma personagem complexa que enfrenta os dilemas do "novo cangaço" com uma determinação violenta. Carvalho se destaca, principalmente, quando captura a essência do nordeste não como um estereótipo, mas como uma tapeçaria emocional e humana rica em nuances. Apesar dos destaques citados, vale salientar que o elenco inteiro brilha e ninguém fica para trás.
Outro ponto interessante é o trabalho no desenvolvimento da história do personagem Amaro Vaqueiro, pai de Ubaldo, que é inspirado em Valdetário Carneiro, um cangaceiro morto em 2003 durante confronto com a polícia. Uma história que serve como um lembrete das complexas interações entre a justiça, a marginalização e a resistência. A conexão da ficção com eventos reais empresta um toque de autenticidade ainda maior à série, reforçando sua ligação com o passado e seu papel de espelho da sociedade contemporânea.
No entanto, é fundamental destacar que "Cangaço Novo" não se trata de romantizar a criminalidade ou glorificar o movimento. Em vez disso, a série adota uma abordagem equilibrada, explorando as motivações profundas dos personagens enquanto questiona as linhas entre justiça e injustiça, passado e presente.
Em última análise, "Cangaço Novo" transcende as fronteiras do entretenimento, convidando o público a refletir sobre a evolução da sociedade e as raízes que moldam nossas ações. A série ganha pontos quando destaca a música, a dança e a culinária como elementos presentes em toda a trama - é um convite à cultura e história do nordeste brasileiro.
*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.
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