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"A Confidente" apresenta falsa heroina e o lado mais sombrio do trauma coletivo

Com quatro episódios, minissérie é a primeira de nacionalidade francesa da Max

Laure Calamy e Annabelle Lengronne, em "A Confidente" - Reprodução

Na minissérie “A Confidente”, a Max explora o impacto dos atentados de Paris de 2015 dentro de uma perspectiva controversa. Inspirada no livro La Mythomane du Bataclan, de Alexandre Kauffmann, a primeira produção francesa do streaming tem quatro episódios e mergulha na história de Christelle Blandin (Laure Calamy), uma personagem aparentemente comum, que surge no grupo de sobreviventes com uma história cativante. Sob a direção de Just Philippot, a série desconstroi a ideia de heroísmo e resiliência, revelando a fragilidade humana em um cenário de trauma e sofrimento coletivo.

Após o ataque ao Bataclan, Christelle surge como uma figura resiliente que, abalada, encontra no grupo de apoio uma comunidade e uma nova identidade. Ela afirma que seu amigo próximo, Vincent, foi uma das vítimas do massacre, mas também se torna uma voz importante no grupo de sobreviventes. No entanto, enquanto Christelle assume cada vez mais protagonismo, pequenos deslizes e contradições começam a minar a confiança daqueles ao seu redor. Aos poucos, seu carisma começa a se desmanchar, e as dúvidas sobre sua história não demoram a tomar conta dos sobreviventes, que se veem forçados a investigar a verdadeira identidade de sua líder.

Laure Calamy como Christelle entrega uma boa performance, desenvolvendo de maneira precisa a ambiguidade de sua personagem. Arieh Worthalter, Annabelle Lengronne, Alexis Manenti, Ava Baya e Anne Benoît completam o elenco com atuações fortes e que exploram a alternância emocional dos personagens, solidificando a narrativa. Cada um deles carrega um peso de luto e desconfiança que enriquece a trama.

“A Confidente” é mais do que mentiras ou manipulação. Ela pode ser considerada um estudo sobre a solidão e a necessidade de pertencimento em tempos de luto coletivo, onde até mesmo as intenções mais distorcidas podem ser aceitas em nome do consolo ou da cegueira emocional que vem com a tragédia. 

Just Philippot faz boas escolhas de direção, adotando uma estética crua que espelha a vulnerabilidade dos personagens. A narrativa é bem estruturada, a minissérie não se apressa em revelar o mistério central, preferindo explorar o impacto psicológico de suas revelações.

Ao final, “A Confidente” deixa o telespectador com um incômodo necessário: um olhar sobre a linha tênue entre compaixão e traição, expondo as complexidades da recuperação em um mundo pós-tragédia. A minissérie oferece uma perspectiva mais dura e realista, desafiando o público a questionar o peso da confiança em tempos de dor.

*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.

*A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas.

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