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A retórica religiosa nas séries: exemplos de bondade e opressão

Vilões usam o Antigo Testamento para salientar seus atos, enquanto mocinhos destacam amor e empatia

"Missa da Meia-Noite", da Netflix, traz crítica social sobre religião, intolerância e fanatismo - Divulgação/Netflix

Não é de hoje que vemos séries e filmes inserir personagens religiosos não somente para ilustrar o lado positivo da fé e da religião, mas também para mostrar o grotesco e perverso da retórica fanática, tomando como base a triste realidade por trás das telas. 

Parafraseando Dumbledore, da saga “Harry Potter”, todos nós temos luz e trevas, mas o que nos define é o lado escolhemos agir. A coluna Uma Série de Coisas desta sexta-feira (26), passeia por exemplos retratados por produções televisivas. 

Interpretações equivocadas

A minissérie “Missa da Meia-Noite” estreou este ano na Netflix com muita expectativa, já que seu criador (também diretor e roteirista) é o mesmo de “A Maldição da Residência Hill” e “A Maldição da Mansão Bly”, dois grandes sucessos da plataforma. 

A produção faz uma crítica pertinente ao fanatismo religioso que engana e contorce palavras, fazendo uma interpretação equivocada da Bíblia com o objetivo de legitimar seus crimes e incentivar outras pessoas à opressão. Por esse viés, existem muitos exemplos retratados por aí. 

A série “The Handmaid’s Tale”, adaptação do livro homônimo de Margaret Atwood, cria um governo teológico baseado principalmente nos Antigos Testamentos. O vilão da sexta temporada de “Dexter” citava os Cavaleiros do Apocalipse, o anjo caído, pragas do Égito e qualquer outro escopo da religião para justificar seus assassinatos. E, ainda, o recente antagonista de “The Walking Dead” alegava que Deus falava através dele. A lista é infinita.

Bons exemplos
Um debate antigo e comum dentro desse tema é a veracidade entre religião e ciência. Uma personagem que muito contribuiu para essa conversa foi April Kepner (), em “Grey’s Anatomy”. Seu trabalho como cirurgiã não impediu que ela também nutrisse sua fé, o que muitas vezes era posto em prova, inclusive, pelo namorado e por ela mesma. 
Vale a pena relembrar essa conversa (spoiler da 14ª temporada): 

 

A célebre série “The Good Place”, que chegou ao fim em 2020, brinca com a definição de céu e inferno. Ainda que não seja um seriado com mote cristão, a história começa quando a protagonista acorda no que conhecemos como Paraíso, mas logo ela acredita que cometeram um engano e que seu lugar é no “Lugar Ruim”. Deste ponto de partida, começa uma corrida para que ela aprenda sobre ser boa antes que descubram seu segredo.

A comédia começa despretensiosa, mas ao longo das temporadas a produção prova ser uma boa fonte de conhecimento sobre filosofia, religião, sociologia e, claro, a importância do amor, empatia e gentileza. O desafio é assistir ao último episódio sem chorar. 

Nem toda senhora religiosa é intolerante

“Please, Like Me” é uma série cheia de personagens que são bastante parecidos com a vida real. O destaque, aqui, é em Tia Peg, uma idosa religiosa que fica sabendo que seu sobrinho-neto é gay. Em uma das cenas mais legais da temporada, vemos que sim, a idade torna a mente da senhora mais resiste à desconstrução, mas foi fácil entender que o amor vem primeiro. Assista:

 

É certo que na soma das produções existe algum estigma com o cristianismo sempre retratado de maneira negativa, mas devemos lembrar que o audiovisual é baseado em maior ou menor grau no mundo real e, tristemente, algumas pessoas interpretam (e editam na prática) textos bíblicos da maneira que bem entender. De todo modo, exemplos bons estão aí, basta saber onde procurar.

*Fernando Martins é jornalista, escritor e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Acesse o Portal, Podcast e redes sociais do Uma Série de Coisas neste link

*A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas. 

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