‘Anne With An E’ se despede com personagens maduros e trama sensível
Quando indico “Anne With An E”, gosto de mostrar as semelhanças da protagonista em relação à Pollyana, esta segunda muito popular no Brasil. Costumo imaginar que, em um mundo paralelo, as duas são grandes amigas ou até mesmo irmãs. As histórias nas duas literaturas (da escritora canadense Lucy M. Montgomery e da inglesa Eleanor H. Porter, respectivamente) são bem semelhantes: Ambas trazem uma garotinha órfã e cheia de sonhos como personagem principal, que conquista a todos quando cai de paraquedas em uma cidade nova.
A trama da pequena Anne já foi adaptada para a TV outras vezes, todas seguindo a ideia dos livros, ambientada em 1908, quando a garota é adotada por engano e vai parar na pequena cidade de Green Gables, acolhida pelos irmãos Matthew (R.H. Thompson) e Marilla (Geraldine James). A versão mais recente é a do canal CBC, distribuída pelo serviço de streaming Netflix em vários países, incluindo o Brasil. Sua terceira e última temporada, anunciada no segundo semestre de 2019, estreia no dia 3 de janeiro e é sobre ela que falo nesta sexta-feira (20).
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Se a terceira temporada foi filmada já pensando no término, não saberei dizer, mas de um jeito ou de outro, os novos episódios trazem uma carga de conclusões e encerramento de ciclos que justifica a despedida, mesmo que nos deixe com aquela sensação de “quero mais”. Como a própria Anne (Amybeth Mcnulty) grita no novo trailer, agora ela tem 16 anos e vive os últimos desafios da escola, já se preparando para a faculdade. Neste cenário, o público acompanha a ruivinha em um processo de amadurecimento emocionante, ainda que sua imaginação permaneça florida e fantasiosa demais – o que faz parte de sua personalidade desde o primeiro episódio.
No novo ano da série, os temas continuam sérios, mas tratados com a mesma delicadeza desenvolvida nas duas primeiras temporadas. Quase nenhum fator apresentado no início fica deixado de lado, pelo contrário, o aprofundamento só incita os telespectadores a querer saber mais. O romance de Anne com Gilbert (Lucas Zumann), assim como o paradeiro de seus pais biológicos, são exemplos de assuntos sinalizados anteriormente e que volta à tona no final.
Em meio a tantas questões que precisavam ser esclarecidas, a terceira temporada de “Anne With An E” surpreende ao adicionar problemáticas novas sem perder a mão. Indagações sobre consentimento sexual e liberdade de expressão são motivos suficientes para querer maratonar tudo novamente. A série também trabalha temas socioculturais ao introduzir uma tribo indígena pela primeira vez, abrindo margem para as barbaridades vividas por eles naquela época. Anne tem um papel importante neste recorte ao se tornar amiga de uma índia local, a ligação das duas desafia os pensamentos conservadores dos adultos e garante momentos de tirar o fôlego – para dizer o mínimo.
Como todo término, “Anne With An E” é uma dessas séries que se despede com aquele pensamento de que poderia ter durado mais, sem parecer repetitiva. Optar pelo encerramento, agora, mantém para os criadores a certeza de que fizeram um bom trabalho. Nada impede, ainda, que a história possa ser resgatada em algum momento futuro, com as crianças crescidas. Pontual e cativante, uma coisa é certa: Anne de Green Gables deixa um legado que merece ser revisitado e lembrado diante da realidade em que vivemos. Sentiremos saudades.
Fernando começou a assistir a séries de TV e streaming em 2009 e nunca mais parou. Atualmente ele acompanha mais de 280 produções e já assistiu mais de 7 mil episódios. A série mais assistida - a favorita - é 'Grey's Anatomy', à qual ele reassiste com qualquer pessoa que esteja disposta a começar uma maratona. Facebook: Uma série de Coisas. Instagram: @umaseriedecoisas. Twitter: @seriedecoisas_ YouTube: Uma Série de Coisas. Podcast: Pocbuster. Portal: umaseriedecoisas.com.br.
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