Ariel Sobral e Coletivo Coentro chegam aos palcos com os espetáculos "GABI" e "INTERLÚDIO"

Peças acontecem nos dias 30 de abril, 04 e 05 de maio em Pernambuco

Ariel Sobral, Evandro Filho, Mariana Castelo e Gerson Alves compõem o elenco do Coletivo Coentro - Guto Borges

O universo teatral pernambucano se prepara para receber espetáculos que provocam reflexões profundas sobre a identidade e os desafios enfrentados pela comunidade LGBTQIAPN+. Sob a direção e autoria de Ariel Sobral, o Coletivo Coentro (@coletivocoentro) apresenta "GABI" e "GABI - INTERLÚDIO: Uma Viagem na Psique de Quem Decidiu Partir", duas obras que exploram as complexidades da vida queer no Brasil contemporâneo.

"GABI" entra em cena para fazer o público repensar as dinâmicas sociais e as violências enfrentadas pela comunidade LGBTQIAPN+ nas grandes metrópoles urbanas. Com estreia marcada para os dias 04 e 05 de maio no Teatro Barreto Júnior, no bairro do Pina, a obra apresenta um enredo que se desenrola dentro de um apartamento compartilhado por quatro amigos na cidade do Recife. 

Por sua vez, "GABI - INTERLÚDIO", que retorna aos palcos nesta terça-feira (30) dentro do Terça em Cena, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), surge como uma performance que explora as narrativas do complexo processo de entendimento identitário de pessoas queers que vivem no interior do país. 

O experimento conta com a participação dos artistas do Coletivo Coentro: Ariel Sobral, Evandro Filho, Mariana Castelo e Gerson Alves. O "INTERLÚDIO" já recebeu reconhecimento conquistando prêmios como Melhor Maquiagem, Melhor Figurino, Melhor Iluminação, Melhor Direção e Melhor Espetáculo no Festic - Festival de Esquetes e Teatro Infantil de Caruaru, em 2023

Com "GABI" e "INTERLÚDIO", Ariel Sobral e o Coletivo Coentro oferecem ao público uma oportunidade única de mergulhar nas profundezas do universo queer brasileiro e de se conectar com questões essenciais sobre identidade, pertencimento e justiça social. 

A interseção entre esses projetos e outros trabalhos de Ariel, como sua atuação em "O Irôko, A Pedra e O Sol", reflete sua jornada artística diversificada. Transitando entre diferentes formas de expressão, o ator, diretor e roteirista demonstra sua versatilidade como artista e sua dedicação em provocar reflexões profundas por meio da arte. 

Diante desse panorama artístico, surge a necessidade de sondar as motivações e os processos criativos por trás dessas produções. A coluna Uma Série de Coisas conversou com Ariel Sobral, buscando compreender mais sobre sua visão artística e o impacto de seu trabalho. Leia:

USDC: Ariel, o espetáculo "GABI" é descrito como uma reflexão profunda sobre a violência enfrentada pela comunidade LGBTQIAPN+ em grandes metrópoles urbanas. Como você articulou essa temática tão sensível durante o processo de criação, e qual você espera que seja o impacto dessa abordagem sobre o público?

AS: Tudo foi pensado de uma forma muito cuidadosa para manter uma dignidade no tratar sobre o assunto. Essa é uma das grandes dores para pessoas LGBTQIAPN+, principalmente brasileiras, essa falta de dignidade no descrever as coisas ou simplesmente no ouvir. Então o que me fez articular a temática dentro do período de montagem foi justamente um olhar de dignificar o que está sendo dito, feito e mostrado, e é isso que a gente pensa e espera como resultado para o público. Que se crie esse olhar mais crítico para as formas que nossos corpos, nomes e nomenclaturas aparecem e são referidas, seja numa conversa, texto ou jornal. Como nós aparecemos? Isso é importante para o espetáculo e uma mensagem importante que a gente busca quanto produto.  

USDC: No contexto do teatro contemporâneo, você comenta que “GABI” foge das convenções tradicionais e incorpora elementos do teatro físico, performático, melodramático, dança contemporânea e expressionismo alemão. Como você enxerga a relação entre essas diferentes linguagens e a mensagem que deseja transmitir com "GABI"?

AS: Como coletivo de performance experimental, temos uma preocupação em não fazer simplesmente espetáculos, mas criar experiências imersivas. Então é importante explorar elementos e propostas que saem um pouco do que o público espera de um espetáculo de teatro e que consiga alcançar reações e sentimentos a partir de um novo caminho. Para explorar as problemáticas e o cenário LGBT na metrópole, foi preciso encontrar novas formas de contar essas histórias. Não é novidade, mas é novidade o jeito que elas podem ser abordadas. O contato com o público, que não é apenas passivo, mas também ativo no espetáculo. O melodrama, o explorar dos sentimentos na sua totalidade, a dança contemporânea no seu movimento de corpo, juntando com o teatro físico, a não preocupação em criar composições esteticamente agradáveis, mas a busca por gerar reações profundas como no expressionismo alemão, tudo isso faz parte dessa atmosfera de “GABI”, seguindo a pesquisa do Coentro de ser um coletivo que busca acessar essas pessoas e sentimentos através de uma experiência diferente.

USDC: Além de “GABI”, temos ainda o experimento/performance "INTERLÚDIO", que retorna aos palcos esse ano. Você diz que esse experimento surgiu no meio do processo de montagem de "GABI". Como essas duas obras se complementam dentro do universo que você construiu, e qual é a importância de apresentá-las como uma experiência dupla para o público?

AS: Eles funcionam separadamente como produtos à parte, mas quem assistir aos dois, principalmente na sequência “INTERLÚDIO” e depois “GABI”, terá uma percepção talvez um pouco mais apurada para o espetáculo “GABI”. Eles se complementam na profundidade dos temas. O “INTERLÚDIO” é sobre criar identidade e do ser algo, do ser humano. Já “GABI” é muito mais sobre o produto desse ser dentro de um sistema. Então a possibilidade de assistir aos dois juntos é imperdível para quem quer ter esse escopo do que a gente pretende como mensagem. Se não puder, não faz uma grande diferença, mas são experiências completamente diferentes que se conversam. 

USDC: Em relação à performance "INTERLÚDIO", fica evidente uma abordagem desafiadora, especialmente com a autonomia dos atores na gestão dos elementos cênicos e técnicos. Como você vê essa abordagem contribuindo para a experiência do espectador e para a concepção artística do Coletivo Coentro?

AS: O "INTERLÚDIO" coloca o ator e o espectador dentro do mesmo palco, mas muito para além da questão física e sim para a cena de fato. Quando a gente pensa em participação do público em espetáculos de maneira mais segura, temos exemplos de dançar, comer, conversar. O "INTERLÚDIO" propõe uma experiência diferente, onde o público é completamente e extremamente essencial para o andamento da apresentação. Se o público não compra a ideia de primeira, a performance fica inviável. Então é um caminho diferente para quem tá assistindo e para quem tá fazendo. É um grande desafio e essa é a aposta.

USDC: "GABI" e "INTERLÚDIO" exploram a identidade queer em diferentes contextos, tanto nas grandes metrópoles quanto no interior do país. Como você equilibra essas duas realidades distintas dentro do mesmo universo temático, e quais são os desafios e oportunidades que surgem desse contraste?

AS: É muito desafiador, de fato, falar sobre duas realidades de um mesmo grupo. Porque a regionalidade acaba afetando muito as experiências, mas o que essas obras aposta são nas semelhanças de que independente onde estejamos, temos algo a compartilhar em comum, porque ainda pertencemos a um sistema, a um contexto, consequentemente há coisas que todos nós passamos ou vamos passar, ou conhecemos quem passou. O equilíbrio está nessa troca com o público e nesse entendimento de que as experiências não são isoladas e que as pessoas não estão sozinhas durante elas.

USDC: Como diretor, roteirista e ator, você desempenha papéis multifacetados na criação desses espetáculos. Como é o processo de transição entre essas diferentes funções durante o desenvolvimento das obras, e como você trabalha para garantir a coesão e a integridade artística de cada produção?

AS: Eu sou um artista independente no Brasil. Somos obrigatoriamente colocados em um lugar de multitarefas e ter que ter um jogo de cintura para poder encabeçar todas elas. Eu tenho muita sorte de ter uma equipe e um grupo muito unido e muito comprometido com o projeto, com a arte e com o trabalho. Esse é o segredo de conseguir passar por várias funções, justamente por ter essas pessoas ali comigo, prontas e dispostas, entendendo os processos e percalços. E a integridade é fruto dessa rede.

USDC: Ariel, sua trajetória artística inclui desde experimentos performáticos até peças teatrais como "O Irôko, A Pedra e O Sol". Você vê alguma conexão entre esses diferentes trabalhos em sua carreira, e de que forma cada experiência contribui para sua evolução como artista e para a construção de uma narrativa coesa em sua obra?

AS: Sim, vejo essa contribuição de todos os trabalhos que já fiz. Porque esse contato com diferentes universos, direções, linguagens e formas de fazer teatro me abriram mais as perspectivas de como fazer arte. Com o “Irôko”, do grupo Poste, o trabalho do teatro físico, de corpo, é muito presente. E isso foi um reforço do meu estudo sobre corpo e, com certeza, essa contribuição artística, como tantas outras vão chegar ao nosso repertório de forma positiva.

USDC: Olhando para o futuro, quais são os próximos passos do Coletivo Coentro após a estreia de "GABI" e "INTERLÚDIO"? Existem novos projetos ou colaborações em vista, e como você espera que essas obras influenciem o rumo do grupo?

AS: O futuro para os espetáculos é o que todo grupo anseia, que é a longevidade. Ainda assim dependendo de editais e esperando que esses resultados sejam positivos para que a gente consiga manter os espetáculos acontecendo na cidade e fora da cidade. O nosso projeto, em curto prazo, como coletivo, é tentar se manter na cena de uma forma financeiramente saudável e que a gente consiga oportunidades e espaços para mostrar nossa proposta como teatro e nossas discussões para um público cada vez mais amplo. Parece um sonho simples, mas acaba sendo utópico, por questões estruturais de como essas coisas acontecem, mas esses são os planos que conseguimos traçar com segurança. Esse comprometimento de estar na cena através dessas janelas de possibilidade que as políticas públicas possam oferecer.

 

Confira a programação: 
Serviço:

GABI
04 e 05 de Maio
Teatro Barreto Júnior
19h 
Classificação: 16 anos
Ingressos: Sympla

Serviço:
GABI-INTERLÚDIO
30 de Abril (Terça-feira)
Teatro Milton Bacarelli (UFPE)
18h
Classificação: 16 anos
Entrada gratuita (os ingressos serão distribuídos uma hora antes do espetáculo)

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