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“Berlim”: Bons personagens e algumas incoerências nas ruas de Paris

Série derivada oscila entre o brilho das joias e falhas do enredo

Pedro Alonso retorna como Berlim, na série derivada de "La Casa de Papel", na Netflix - Divulgação/Netflix

O universo de "La Casa de Papel" sempre girou em torno de assaltos quase impossíveis, personagens carismáticos e reviravoltas surpreendentes. Nesse cenário, Berlim (Pedro Alonso), inicialmente apresentado como o líder problemático e perverso, ganhou sua própria saga pela Netflix. No entanto, enquanto os fãs aplaudem a iniciativa de explorar a fundo esse personagem estranhamente querido pelo público, a série "Berlim" se destaca por misturar elementos de ação, drama, muito romance e, infelizmente, alguns tropeços narrativos.

"Berlim" mergulha na história do famoso ladrão de joias antes de sua participação marcante no roubo da Casa da Moeda. Antes de descobrir sobre sua doença, o aqui protagonista, liderou uma série de roubos espetaculares em joalherias, casas de leilão e carros-fortes. Seu feito mais audacioso ocorreu nas ruas de Paris, quando reuniu uma equipe para planejar um dos roubos mais ambiciosos: o roubo de quatrocentos e trinta e quatro diamantes da famosa avenida Champs-Élysées, avaliados em 44 milhões de euros. Enquanto exploram as ruas da cidade do amor, Berlim e sua equipe enfrentam desafios que chamam a atenção da comissária francesa, Marie Lavelle (Rachel Lascar), que investiga o caso.

Entre qualidades e falhas

Criado por Alex Pina e Esther Martínez Lobato, o spin-off, ao contrário da série original, inverte as prioridades, focando mais nos dramas pessoais de Berlim do que no plano do roubo. Isso, no entanto, parece enfraquecer a credibilidade da história, com um roteiro que, em alguns momentos, lembra produções adolescentes da Sessão da Tarde.

O grande trunfo da série está nos personagens, todos eles cativantes e fáceis de criar empatia. A escolha de explorar a dinâmica das inspetoras Alicia Sierra (Najwa Nimri) e Raquel Murillo (Itzar Ituño) traz um ponto positivo à narrativa, mostrando uma face diferente das personagens conhecidas do público de “La Casa de Papel”.

No entanto, a trama não se isenta de problemas. O roteiro, por vezes, parece negligenciar detalhes cruciais do plano do roubo, tornando-o menos crível e, por consequência, menos envolvente. Situações pouco plausíveis deixam a narrativa com uma sensação de superficialidade.

Espanha x França

A série também se destaca ao abordar a relação histórica entre franceses e espanhóis. O retorno das inspetoras Alicia Sierra e Raquel Murillo na trama de "Berlim" é uma jogada inteligente, explorando uma dinâmica descontraída entre as duas personagens que, em "La Casa de Papel", eventualmente, ficam em lados opostos até certo momento. O relacionamento entre franceses e espanhóis sempre foi marcado por algumas tensões históricas, e a série aborda isso de maneira leve, inserindo a comissária francesa Marie Lavelle na equação.

A introdução de Lavelle traz uma camada interessante à narrativa, mostrando uma competição amigável entre as profissionais de diferentes nacionalidades. As piadas e a competitividade entre o trio Alicia, Raquel e Marie proporcionam momentos de humor e também destacam a diversidade de perspectivas em um contexto histórico. Ao fazê-lo, a série adiciona complexidade às personagens e ressalta que as relações entre países, mesmo as historicamente problemáticas, podem ser abordadas com leveza e humor. 

“Berlim”, apesar de seus altos e baixos, oferece aos fãs uma oportunidade de mergulhar mais fundo na complexidade do personagem que foi um dos mais amados de “La Casa de Papel” – embora, para quem aqui escreve, ele seja um dos mais irritantes. A série, no entanto, pode não agradar a todos, especialmente aqueles que esperavam a mesma intensidade dramática e coesão narrativa que caracterizam a série original.

*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.
*A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas.

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