“Bom Dia, Verônica” evidencia machismo e feminicídio no Brasil
“Crime real e ficção se encontram”. A frase, no verso da nova edição de “Bom Dia, Verônica”, da editora Darkside, descreve o resultado da união de dois grandes escritores brasileiros, Ilana Casoy e Raphael Montes. Casoy é criminóloga e publicou livros densos sobre crimes reais, como as do caso Nardoni e do casal Richthofen. Já Montes se destaca como um dos autores mais procurados dentro do gênero de ficção policial.
O primeiro trabalho de Casoy e Montes juntos é, também, a primeira adaptação de ficção policial nacional da Netflix, que chega na próxima quinta-feira (1) no catálogo do streaming. Como toda releitura, o caminho de “Bom Dia, Verônica” das páginas para as telas coleciona semelhanças e diferenças, mas mantém o objetivo principal da história: traçar o perfil do quinto país que mais mata mulheres no mundo.
O enredo começa quando a escrivã de polícia Verônica Torres (Tainá Muller) decide assumir a investigação de dois crimes, o suicídio de uma mulher vítima do golpe “Boa noite, Cinderela” e o caso de uma mulher vítima de violência doméstica e que é casada com um serial killer e tenente da Polícia Militar.
Tanto a série como o livro não demoram a evidenciar as dificuldades de se fazer justiça em crimes relacionados ao estupro e violência contra a mulher no Brasil. Ambientado na cidade de São Paulo, Janete (Camila Morgado) e Brandão (Eduardo Moscovis) ilustram a realidade de muitos relacionamentos abusivos no país.
O elenco não só dá vida aos personagens do livro, como contribui com suas próprias versões para a TV. Porém, vale destacar o trabalho dramático de Camila Morgado no papel de Janete, tão profundamente desenvolvida no romance e que traz para a série a saga da mulher que é carinhosamente apelidada de “passarinha” pelo marido, mas que ironicamente é mantida em uma gaiola emocional.
“Bom Dia, Verônica” tem todas as características necessárias para conquistar um grande público. A série surpreende logo no episódio piloto pelos mesmos motivos que fazem os leitores não querer soltar o livro no primeiro capítulo.
Também não há um único episódio – dos oito da primeira temporada – que não desperte a curiosidade e ansiedade de querer ver o próximo, recurso muito bem desenvolvido por Ilana Casoy e Raphael Montes, que também comandam a produção televisiva.
A corrupção policial e o abuso de poder também estão presentes, sem esquecer o machismo estrutural que atinge até quem supostamente deveria estar do lado dos aliados. A trilha sonora não fica atrás e exemplifica em versos os fantasmas da sociedade.
“Bom Dia, Verônica” já tem confirmação de continuação nos livros, com os títulos “Boa tarde, Verônica” e “Boa Noite, Verônica”, ainda sem data de lançamento. A série também encerra seu primeiro ano com margem para a segunda temporada, sem confirmação de renovação até a publicação dessa coluna. Dica amiga: não deixem de ler o livro, sem dúvida um dos melhores suspenses do ano.
Se você for vítima de violência contra a mulher ou conhece alguém que precisa de ajuda, ligue 180. Em situações de risco iminente à vida, o número 190 também está disponível. A denúncia é anônima e gratuita.
*Fernando começou a assistir a séries de TV e streaming em 2009 e nunca mais parou. Atualmente ele já maratonou mais de 300 produções, totalizando aproximadamente 7 mil episódios. A série mais assistida - a favorita - é 'Grey's Anatomy', à qual ele reassiste com qualquer pessoa que esteja disposta a começar uma maratona. Acesse o Portal, Podcast e redes sociais do Uma Série de Coisas neste link.
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