“Cidade Invisível” resgata lendas do folclore brasileiro em trama investigativa
O Brasil já provou que sabe fazer séries ótimas e na próxima sexta-feira (5) chega ao catálogo da Netflix mais um exemplo: o suspense policial “Cidade Invisível”, de Carlos Saldanha, tem um fiscal ambiental como protagonista interpretado por Marco Pigossi. A coluna Uma Série de Coisas assistiu aos quatro primeiro episódios e conta as primeiras impressões a seguir.
Em um mundo onde dominam a tecnologia e a internet, pensar em lendas folclóricas parece ser coisa do passado, nas aulas do colégio, quando a professora mostrava desenhos do Saci, da Cuca e do Curupira. Então, ao trazer essa mitologia para o mundo real, como um live-action, Saldanha ativa de imediato uma sensação nostálgica, ótima para o primeiro contato da série com o público. É quase como “Supernatural” brasileiro, mas com criaturas do nosso imaginário.
Diferente da história americana onde dois irmãos saem caçando monstros, “Cidade Invisível” é mais discreta ao fundir fantasia com realidade. Eric (Pigossi) é um fiscal ambiental que perde a esposa em um incêndio inexplicável durante uma festa junina em Vila Toré. Mesmo que tente saber o que aconteceu, as pistas não são suficientes no primeiro momento.
Semanas depois, um boto cor-de-rosa é encontrado em uma praia no Rio de Janeiro. Estranho, já que o animal vive em água doce. Mais esquisito ainda é o protagonista perceber algumas ligações entre o animal morto com o caso da sua esposa. Ligações essas que só saberá quem assistir, mas que abre portas para um mundo, até então, invisível.
Pigossi faz um ótimo trabalho. Atualmente em exibição na reprise de “A Força do Querer”, na Rede Globo, o rosto do ator não é novidade na Netflix. Em 2018, estreou na série australiana “Tidelands” falando em inglês, já em 2020 foi adicionado ao elenco de “Alto Mar” na terceira temporada, atuando na língua espanhola. Voltando às raízes, ele dá um show como Eric.
Para além do protagonista, algumas personagens desenvolvem uma curiosidade gigante e acendem a necessidade de saber muito mais sobre elas. É o caso da Inês, personagem de Alessandra Negrini, e Camila, interpretada por Jéssica Corés. Falar qualquer coisa sobre elas seria spoiler, então me atenho pela torcida de vê-las com mais frequência em uma possível segunda temporada.
Também estão na série Fábio Lago, Wesley Guimarães, Manu Diegues, Julia Konrad, José Dumont, Victor Sparapane e Áurea Maranhão.
Questões ambientais
O arco principal da série está na investigação de Eric, mas na medida em que ele fica perto de encontrar as respostas, mais as lendas do folclore brasileiro vão ficando evidentes. Claro que esse assunto envolve questões ambientais e culturais que também são mostrados em “Cidade Invisível”.
E qual a relevância de falar sobre isso hoje? Toda. Em 2020, a Amazônia registrou 45,6% de casos de queimadas ilegais na região, o maior desde 2010 segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O desmatamento também cresceu em pantanais e biomas brasileiros, paralelamente o governo trabalhava com o atraso e a omissão.
Diante desse cenário, o título “Cidade Invisível” poderia servir de exemplo para um país invisível. Invisível para questões ambientais e oprimidas para questões culturais. Ao nos fazer lembrar culturalmente da existência de lendas brasileiras é importante que, do outro lado, telespectadores direcionem a reflexão para a vida real. Para que assuntos urgentes da fauna e flora se tornem visíveis, vivas e prioritárias.
“Cidade Invisível” tem sete episódios na primeira temporada e estreia nesta sexta-feira (5) no catálogo da Netflix. O seriado tem Beto Gauss e Francesco Civita na produção, Caito Ortiz, Maresa Pullman e Marco Anton na produção executiva, Mirna Nogueira assina como roteirista-chefe, Luis Carone e Julia Jordão estão na direção e Luis Carone na direção-geral. Veja o trailer:
*Fernando Martins é jornalista, escritor e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Acesse o Portal, Podcast e redes sociais do Uma Série de Coisas neste link.
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