Com 11 indicações ao Oscar, “Pobres Criaturas” é uma jornada pela vida e liberdade

Filme de Yorgos Lanthimos explora a humanidade com destaque para Emma Stone

Atuação de Emma Stone foi reconhecida com indicação para Melhor Atriz no Oscar 2024 - Divulgação/Searchlight Pictures

O diretor Yorgos Lanthimos, conhecido por suas incursões na surrealidade narrativa, nos presenteia com “Pobres Criaturas”, uma peça cinematográfica que, à primeira vista, pode parecer uma divergência de suas produções anteriores, mas que adentra questões profundas da existência humana. O filme recebeu 11 indicações ao Oscar 2024 e não é apenas uma obra singular, é uma experiência que dialoga, de maneira íntima, com os temas universalmente humanos.

Com data de estreia nos cinemas para o dia 1 de fevereiro, “Pobres Criaturas” reacende a parceria entre Lanthimos e Emma Stone, cuja atuação brilha intensamente como Bella Baxter. A história, uma adaptação do romance de Alasdair Gray, não só transcende o convencional, mas também se torna um ponto de reflexão sobre criação, liberdade e igualdade em um contexto histórico e narrativo inovador.

A arte do surrealismo e o eco de Frankenstein

Ao mergulhar na narrativa de “Pobres Criaturas”, não podemos deixar de reconhecer os ecos do clássico de Mary Shelley, “Frankenstein”. Aqui, o arquétipo do cientista-criador, personificado pelo grande Willem Dafoe como Dr. Godwin Baxter, funde-se de maneira genial com um universo alternativo, onde se percebe uma homogeneidade entre Frankenstein e seu monstro. O filme oferece um paralelo fascinante com a história de Shelley, adicionando camadas ricas ao diálogo entre a criação e o criador.

Lanthimos nos conduz por um universo alternativo que busca igualdade e liberdade liderada por Bella, a "pobre criatura" renascida. A riqueza dos cenários exuberantes, os figurinos impecáveis e a narrativa precisa fazem deste filme um forte candidato nas categorias técnicas do Oscar, destacando-se por sua estética singular e narrativa provocativa.

Emma Stone: A maestria da interpretação

A interpretação de Emma Stone é a espinha dorsal do filme. Indo além de suas performances anteriores (como em "A Favorita", também comandada por Lanthimos), ela se entrega completamente ao papel de Bella, trazendo à vida todas as nuances de descoberta e rebeldia. Margaret Qualley (Um Lugar Bem Longe Daqui), em uma versão inicial do experimento, também brilha, adicionando camadas ricas à narrativa. As expressões faciais, inflexões de voz e a linguagem corporal de Stone aprofundam a experiência do espectador, proporcionando uma conexão emocional poderosa.

A dinâmica entre Godwin e Bella desafia expectativas. Ao contrário de muitas narrativas de criadores e criaturas, o elemento “culpa” não existe no personagem de Dafoe. Em vez disso, Lanthimos desenvolve um embate entre uma criatura que está sedenta por experiências e um criador que busca controlar seu experimento dentro de casa. Essa abordagem adiciona uma camada de complexidade moral, questionando os limites éticos da criação.

Experimentação cinematográfica

Como em suas obras anteriores, Lanthimos demonstra sua maestria na condução de experimentos cinematográficos. Partindo do arquétipo clássico, ele explora como uma mulher-monstro perceberia o mundo, suas grandezas e tragédias. “Pobres Criaturas” não é apenas um filme, é uma experiência cinematográfica que desafia fronteiras, tanto narrativas quanto filosóficas, com tons de thriller e camadas de comédia.

Ao considerar “Pobres Criaturas” e sua relação com “Frankenstein”, percebemos um diálogo profundo entre duas obras separadas pelo tempo, mas unidas pela exploração da humanidade. Shelley questionava a ética da criação, enquanto Lanthimos, de maneira similar, investiga o preço da liberdade e a busca por igualdade em meio a uma criação questionável.

Além do natural destaque como obra no cenário cinematográfico, “Pobres Criaturas” também reacende debates clássicos adicionando nuances profundas ao diálogo artístico que atravessa gerações. O filme, ao fazer um paralelo com os monstros de Shelley, reconta a história de criação e rebelião psicológica de uma maneira que ressoa com a complexidade da condição humana.

*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.
*A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas.

 

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