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Com boa direção, “Passado” é suspense que provoca, mas não satisfaz

Minissérie é bem-sucedida como suspense psicológico, embora escorregue na narrativa

Billy Crystal se aventura no suspense psicológico, em minissérie da AppleTV+ - Divulgação

“Passado”, a nova minissérie da AppleTV+, apresenta Billy Crystal como Eli Adler, um psicólogo infantil que, enquanto enfrenta a dor do luto pela esposa Lynn (Judith Light), tenta ajudar Noah (Jacobi Jupe), uma criança atormentada por visões. O que começa como uma tentativa de apoio emocional logo se transforma em uma trama densa e angustiante, onde as barreiras entre trauma e sobrenatural se igualam e se confundem.   

Crystal se afasta de seu histórico cômico para interpretar um personagem complexo, cuja vulnerabilidade é o centro de tudo. A relação do seu personagem com Noah é o coração da série: um vínculo delicado e misterioso, repleto de camadas que sugerem segredos não ditos e fatos não explicados. 

Atmosfera opressiva, mas narrativa hesitante  

A direção de Adam Bernstein é um dos destaques. Ele cria uma ambientação que prende o espectador em uma constante sensação de desconforto, seja pelas cenas marcadas por simbologias aquáticas — como a piscina vazia que assombra Eli — ou pelos momentos de horror psicológico nos pesadelos de Noah. As visões envolvendo água são visualmente perturbadoras, potencializando o impacto emocional da história.  

No entanto, tudo em exagero pode prejudicar. Ao longo dos episódios, há uma repetição excessiva de elementos visuais e situações que, embora inicialmente intrigantes, tornam-se previsíveis. A piscina, os flashbacks e os pesadelos aquáticos de Eli, por exemplo, perdem força ao serem revisitados sem adicionar profundidade ao enredo. Sem maiores informações, apenas cenas repetidas por ângulos diferentes. Essa estagnação enfraquece a tensão e pode frustrar espectadores em busca de respostas mais concretas.  

Equilíbrio entre trauma e sobrenatural  

“Passado” é mais bem-sucedida quando aborda a vulnerabilidade humana do que quando tenta aprofundar seu mistério sobrenatural. As melhores cenas são aquelas que mostram Eli tentando se conectar com Noah, não só como psicólogo, mas como um homem em busca de redenção. Entretanto, a conexão entre trauma e os elementos sobrenaturais permanece subdesenvolvida, deixando lacunas no entendimento das motivações dos personagens e na lógica da própria trama.  

Suspense que provoca, mas não satisfaz  

Embora “Passado” seja visualmente cativante e entregue boas performances de Crystal e Jupe, a minissérie peca ao não encontrar equilíbrio entre narrativa e atmosfera. A promessa de um horror psicológico profundo se dilui em uma experiência que é instigante no primeiro momento, mas carece de consistência e progressão.  

A AppleTV+ entrega, aqui, uma obra que oferece momentos de impacto, mas que se perde ao tentar articular sua história. No final, “Passado” é uma experiência marcada pelo potencial não concretizado — uma história que, como suas visões aquáticas, nunca atinge a profundidade que parece almejar. 

*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.

*A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas.

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