Com ótimas atuações e boa direção, “The Moon: Sobrevivente” estreia em janeiro nos cinemas
O longa foi indicado a seis categorias na mais importante premiação de cinema da Coreia do Sul
No cinema, o espaço já foi palco de épicos grandiosos e metáforas existenciais. Com “The Moon: Sobrevivente”, dirigido e roteirizado por Kim Yong-hwa, o cinema sul-coreano, mais uma vez, demonstra sua capacidade de combinar excelência técnica e profundidade emocional. O filme, já visto pela coluna e que estreia no Brasil no dia 16 de janeiro pela Sato Company, posiciona a Coreia do Sul como uma potência cinematográfica na ficção científica, mas, além disso, também define como histórias de sobrevivência podem ser contadas através de uma lente cultural distinta.
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A trama se passa em 2029, quando a exploração lunar é um reflexo direto da crescente ambição tecnológica global. Após uma explosão solar devastar a missão e matar toda a tripulação, o astronauta Hwang Sun-woo (Do Kyung-soo) torna-se o único sobrevivente. Preso na Lua, ele vira o foco de atenção mundial, enquanto na Terra, Kim Jae-gook (Sol Kyung-gu, de "Memórias de um Assassino"), um líder marcado por traumas do passado, lidera os esforços para resgatá-lo.
O filme equilibra sua narrativa entre dois pólos emocionais: a claustrofobia da solidão de Hwang e o peso da responsabilidade de Kim. A Lua, com seu silêncio opressivo, se torna cenário e personagem, refletindo o isolamento humano em sua forma mais extrema. Além disso, “The Moon” tem êxito ao desenvolver algo que pode até parecer clichê nos filmes de sobrevivência: tudo dará errado para o protagonista. O carisma do ator facilita que o público torça por ele. Cada obstáculo, cada contratempo, cada problema, se torna um motivo de angústia. Para fãs de futebol, assistir ao filme é como se estivéssemos acompanhando o último chute de um pênalti que determinará se o Brasil ganha ou não uma Copa do Mundo.
Os efeitos visuais são um dos grandes trunfos do longa. A atenção aos detalhes – desde a superfície lunar até as dinâmicas das naves espaciais – faz com que cada frame contribua para a imersão. Não à toa, o filme recebeu prêmios técnicos importantes no Blue Dragon Awards, além de melhor fotografia e melhor ator (Do Kyung-soo) no Grand Bell Awards, reafirmando a qualidade do cinema sul-coreano.
Do Kyung-soo, conhecido por seu trabalho no grupo KPOP EXO e em “Along with the Gods”, entrega uma performance surpreendente. Como Hwang Sun-woo, ele encontra o equilíbrio perfeito entre vulnerabilidade e determinação. A evolução do personagem, de um astronauta assombrado pelo medo à figura resiliente que luta por sua sobrevivência, é executada com precisão emocional.
Já Sol Kyung-gu, um dos grandes nomes do cinema sul-coreano, interpreta Kim Jae-gook com uma intensidade que emociona. Sua atuação confere ao filme um peso emocional, mostrando o impacto psicológico de suas decisões, especialmente quando confrontado com o fracasso de uma missão anterior.
O filme nunca perde de vista sua essência dramática. Em seu núcleo, “The Moon: Sobrevivente” é sobre resiliência, sacrifício e a conexão humana em situações extremas. A dualidade entre a vastidão da lua e a comoção global pela sobrevivência de um único homem destaca o paradoxo de nossa existência: em meio ao infinito, o que realmente importa são as pequenas ligações que nos tornam humanos.
Ao trazer para a tela um roteiro que explora tanto o exterior quanto o interior dos personagens, Kim Yong-hwa reafirma que o gênero de ficção científica não precisa se restringir ao espetáculo visual. Ele pode, e deve, ser um veículo para discutir os dilemas mais profundos da condição humana.
*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.
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