Como uma série sabe quando parar?

Longas ou curtas, histórias seriadas conquistam o público pelos personagens

Spin-off de "breaking Bad", "Better Call Saul" tem final marcado para abril - Divulgação

Quando estamos passeando pelo catálogo de um streaming na procura de uma nova série, opção é o que não falta. Somos apresentados a inúmeros universos que convidam o público a fazer parte daquilo. É um comprometimento, quase um casamento. Mas precisa conquistar, seja pela história ou, principalmente, pelos personagens. Nos identificamos com eles, são quase como parte da família. E por isso é difícil dar adeus. Como uma série sabe quando parar?

Os autores Marcelo Rubens Paiva e Jacqueline Cantore, no livro “Séries: De onde vieram e como são feitas”, dizem que “com um investimento emocional, o espectador vai voltar sempre”. Quer uma prova? “Grey’s Anatomy” está renovada para a 19ª temporada porque continua dando certo. Outro dia, ainda sobre a série médica, uma amiga disse: “Não consigo largar, mas acho que já deu”. Culpa dos roteiristas e seus personagens. Pessoas fictícias que amamos acompanhar. Vibramos com as conquistas e choramos com as perdas. Isso é a cultura das séries.

Como acabar uma série?

Muito acontece por trás das câmeras até que uma série seja exibida para o mundo. Da primeira ideia até contratos e produção, é um universo gerando outro. E os motivos para decidir quando finalizar uma história é diverso. Para nós, o público, é fácil julgar: a série “Breaking Bad” foi um marco na TV e todos comentam como ela foi finalizada na hora certa. 

Neste caso, o objetivo era mostrar a transformação de um professor de química e pai de família em um criminoso perigoso. Quando a transição se completa, não há mais motivos para continuar. Foi feita a vontade do autor.

Há as que acabam de repente, como “House of Cards”, que após as acusações de assédio do ator protagonista, Kevin Spacey, não sustentou a história e rendeu uma última temporada.
Ainda, a emissora pode não renovar uma série para a próxima temporada, a fonte criativa pode esgotar todas as possibilidades e as camadas que um personagem pode apresentar, uma hora acaba.

Essa última foi a justificativa que Sandra Oh usou para sair de “Grey’s” depois de 10 anos interpretando Cristina Yang, ela sentia que a personagem evoluiu o bastante. Justo, porém saudades.

Dar adeus é difícil

Quando “Breaking Bad” chegou ao fim, fomos agraciados com a notícia de um derivado, “Better Call Saul”. A premissa era interessante, a nova história voltaria no tempo para contar como o advogado Saul Goodman se corrompeu e se tornou vigarista. Hoje, a série é tão elogiada quanto a original e acaba servindo de âncora para os fãs. Na medida em que a série avança, vamos captando os detalhes e esperando as correlações com o universo que já conhecemos. O auge veio neste mês, quando foi divulgado que Walter White e Jesse Pinkman retornariam para finalizar os últimos episódios. É o adeus em grande estilo.

Considerada “prima” de “Breaking Bad”, outra série fará falta em breve é “Ozark”. Com data marcada para acabar no fim deste mês, o enredo apresenta uma família já inserida no crime, mas que se vende cada vez mais e afunila suas chances de saírem livres do esquema de lavagem de dinheiro e tráfico de drogas das montanhas de Ozarks. Com alguns Emmys nos bolsos, a produção tem méritos que vão da fotografia às atuações do elenco de primeira.

O fato é que não tem receita de bolo quando se trata de séries. Parafraseando o título do livro escrito por Erin Meyer e Reed Hastings, na cultura da reinvenção “a regra é não ter regras”. Longa ou curta, bons personagens vão sempre cativar os telespectadores. Iremos sempre querer mais, mesmo concordando com o fim da história – por isso é tão chato se despedir e sempre revisitamos quantas vezes for necessário. Quem nunca reviu “Friends” uma vez na vida? 

*Fernando Martins é jornalista, escritor e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas

*A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas.

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