Desastre do furacão Katrina é recontado em minissérie da AppleTV+
“Five Days at Memorial” é baseada em fatos e tem Vera Farmiga no elenco
Em 2005, o furacão Katrina, de categoria 3 na escala Saffir-Simpson e ventos de até 280 quilômetros por hora, devastou os Estados Unidos. O Hospital Memorial Medical Center, localizado em Nova Orleans, Louisiana, ficou cinco dias ilhado depois de ser atingido pelo furacão. Para a equipe médica, funcionários, pacientes e seus familiares, foram dias de terror com a falta de energia, comida, remédios e água potável.
A minissérie “Five Days at Memorial”, baseado em fatos e no livro homônimo de Sheri Fink, traz essa ambientação tensa e impactante, apresentando a médica Anna Pou, interpretada por Vera Farmiga (Bates Motel), tendo que lidar com o número crescente de feridos e a escassez de mantimentos. No auge da crise, Pou tomaria uma decisão perigosa e arriscada que reverberaria pelos anos seguintes e que gera debates até hoje.
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Reconstrução dos fatos
Se olharmos para as fotografias tiradas nas dependências do Memorial após a tragédia e compará-las com o trabalho de cenografia da minissérie, é possível confundir qual delas é montagem e qual é real. Além de bons efeitos (uma cena do mar avançando contra a cidade é de tirar o fôlego), imagens de arquivo também foram usadas e são bem-vindas para contextualizar a tragédia.
“Five Days at Memorial” cumpre com excelência a reconstrução do lugar, que na época não possuía nenhum plano de contingência para uma catástrofe daquela magnitude. Para os funcionários, restou o improviso. Mas como improvisar quando o que está em jogo são resgates de quem vem de fora, a piora dos que estão dentro e o atraso do próprio governo americano em fornecer ajuda?
Temas abordados
Na ficção ou na vida real, tragédias levam as pessoas ao extremo e, rapidamente, à crueldade. Na minissérie, força e poder se refletem naqueles que possuem armas. Nessa luta, os pobres são sempre os mais afetados. Ao longo dos oito episódios de “Five Days at Memorial” é quase impossível não se emocionar.
Outro ponto crucial da série, mas que, aqui, optaremos por não ser específicos – prezando pela experiência de quem assiste – é na decisão que a Dra. Anna Pou toma em relação aos pacientes diante da administração da crise. Essa escolha será trabalhada ao longo dos três últimos episódios dentro do tema do que seria ético ou não fazer. Vale lembrar que, no privilégio de quem não estava lá ou para quem olha para o que aconteceu do conforto dos dias de hoje, opinar duramente parece um tanto quanto delicado.
Elenco de apoio potente
Além de Farmiga no papel da Dra. Pou, temos Cherry Jones (The Handmaid’s Tale) interpretando a diretora Susan Mulderick. As duas são uma potência em seus respectivos trabalhos, mas não se pode deixar de lado o elenco de apoio. Aqui, a referência é para aqueles que não necessariamente possuem falas (embora alguns ganhem mais destaque), mas que entregaram situações bastante pungentes: é uma família que chega nas portas do hospital pedindo ajuda após uma longa caminhada caminhando com a água na cintura. São nos pacientes que agonizam sem comida nos leitos, nas enfermeiras que choram com a incerteza do futuro.
Quando tudo é adicionado no contexto, quase esquecemos que a minissérie tem um teor ficcional, mais parecendo que aquilo é real, com pessoas reais. Talvez seja esse o propósito da produção.
“Five Days at Memorial” tem oito episódios disponíveis na AppleTV+.
*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.
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