Dia do Psicólogo: a presença dos profissionais nas tramas televisivas
Nesta sexta-feira (27) celebramos o Dia do Psicólogo. Essa profissão importantíssima e tão subestimada já vinha ganhando reconhecimento pouco antes da pandemia, mas os debates e alertas se intensificaram com a necessidade de acompanhamento psicológico que vieram à tona com o distanciamento social.
No cinema, temos grandes exemplos sobre como a psicologia pode ser uma aliada no caminho do autoconhecimento – o filme “Gênio Indomável” (1998), com Matt Damon e Robin Williams é uma dica que minha terapeuta sugeriu e, agora, repasso para vocês –, mas para esta ocasião, trago dicas e relembro bons e maus exemplos na TV. Confira:
Duas séries para maratonar
A série israelense “Be'tipul”, criada por Hagai Levi em 2005 se tornou um grande sucesso e por si só já seria uma boa indicação. A popularidade do programa foi tanta que se ramificou em adaptações em outros países, incluindo versão argentina, americana e brasileira.
No geral, a história gira em torno de um psicólogo, apresentando dilemas da sua vida pessoal e profissional (na versão original, o personagem Reuven Dagan é interpretado por Assi Dayan). Durante os cinco dias da semana, ele atende pacientes com os mais diversos questionamentos, mas também procura se entender ao procurar atendimento para si mesmo – sim, psicólogos também são humanos, choquem-se.
A receita se repete em “In Treatment”, versão americana, e em “Sessão de Terapia”, na versão brasileira. Cinco casos, uma sessão por dia, um caso por episódio. Todas as adaptações prendem o espectador, principalmente aqueles que se interessam em entender como funciona o processo psicanalítico.
A versão americana havia sido cancelada em 2011 na terceira temporada, encerrando a participação de Gabriel Byrne (O Homem da Mascara de Ferro) como protagonista. Atualmente, a HBO resgatou a série para a quarta temporada, agora com Uzo Aduba (Orange Is The New Black) como a terapeuta. Sua interpretação na série rendeu uma indicação ao Emmy deste ano na categoria de Melhor Atriz. A série está disponível na HBO Max.
Para quem prioriza produções brasileiras, nossa versão da trama tem direção e interpretação de Selton Mello, além das participações de Maria Fernanda Cândido, Sérgio Guizé, Marina Lima, Maria Luisa Mendonça, entre outros. A série está disponível na Globoplay.
Momentos de aprendizado
Particularmente, sempre que uma série traz um terapeuta em episódio especial ou quando personagens decidem ir ao psicólogo, me sento mais confortavelmente no sofá. É certo que esses momentos vão revelar questões importantes, já que o autoconhecimento é sempre um dos pontos principais.
Na aclamada série “Big Little Lies” (disponível na HBO Max), por exemplo, a personagem de Nicole Kidman vive um relacionamento abusivo. Seu marido bate nela quase todo dia e ela decide frequentar sessões de terapia para entender melhor o que está acontecendo, já que ainda sente que o ama. No livro que inspirou a série, a relação entre a terapeuta e a paciente é ainda mais interessante.
De volta à série, um momento de destaque é quando a psicóloga se mostra realmente preocupada com a paciente, que, por sua vez, questiona o profissionalismo dela. Veja:
Já na série “This Is Us”, um momento de “lavar a roupa suja” acontece quando o filho Kevin convida sua mãe, irmã e irmão para participar da sessão, como uma família. Ao sermos questionados ou apresentados para velhos fantasmas, é natural haver resistência ou fuga. Aqui, vemos que a psicóloga apenas mostra o caminho, mas a família está empenhada em negar qualquer tipo de culpa:
Muito parecida com a proposta de “This Is Us”, a série “A Million Little Things” traz um grupo de amigos que lida com a morte de um integrante de seu grupo, ele cometeu suicídio e isso reverbera individualmente em cada um deles. Por si só, esse tema já traz um desenvolvimento cuidadoso sobre saúde mental, mas destaco aqui a presença da personagem Maggie Bloom (Allison Miller).
Acontece que Maggie é psicóloga e carrega muitos momentos interessantes na história, mas quase nunca a vemos em seu consultório. A personagem tem câncer e é apresentada no enredo assim como todos os outros: um ser humano, que erra, se apaixona e, acima de tudo, é vulnerável.
Psicologia pioneira
Talvez o maior exemplo sobre conhecer a mente humana venha de “Mindhunter”, da Netflix. A série se passa na década de 1970, no tempo em que a psicologia dentro do ramo criminal ainda tomava forma.
A série e o livro no qual a produção foi adaptada são baseados na história real dos agentes especiais John Douglas e Mark Olshaker, pioneiros no estudo das mentes criminosas.
“Mindhunter” é um prato cheio para interessados a entender a mente humana. Na época em que o termo “serial killer” não existia, o começo de um departamento focado na análise de perfis psicológicos dos assassinos em série estava em desenvolvimento e mostra o valor da psicologia em vários aspectos.
Exemplo do que NÃO fazer
Assim como em toda profissão, existem condutas que devemos respeitar. Na ficção, também nos deparamos com profissionais antiéticos para dizer o mínimo. Em “Gypsy”, por exemplo, a protagonista é uma terapeuta um tanto quanto controversa.
Ao conhecer um paciente, ela entra escondido em sua vida, finge ser outra pessoa para as pessoas próximas a ele, manipula e ultrapassa todos os limites possíveis. Amada?
Em “Ozark”, marido e mulher frequentam uma terapia de casal, mas ambos pagam propina para a psicóloga, separadamente, no intuito de que ela tome partido a favor de um deles, durante a sessão. A “terapeuta” aceita o dinheiro de ambos os protagonistas e tenta administrar a sessão, ora dando razão a um, ora a outro.
Dentro ou fora da televisão, a psicologia vem se mostrando uma ferramenta essencial no dia a dia de qualquer pessoa. Nosso desejo é de que cada dia mais exemplos positivos possam aparecer nas telas e que isso sirva de incentivo para que todos valorizem esses profissionais.
*Fernando Martins é jornalista, escritor e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Acesse o Portal, Podcast e redes sociais do Uma Série de Coisas neste link.
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