Dinâmica de atrizes é ponto alto de “Hacks”, série indicada ao Emmy

Atrizes Jean Smart e Hannah Einbinder tem ótima química nas cenas de "Hacks", da HBO Max - Divulgação

Um dos acontecimentos mais recentes na internet foi o debate entre gerações. Millenials, cringe e geração z, o assunto virou meme, reportagem e tudo que um viral tem direito. Coincidentemente ou não, uma das séries vem ganhando destaque aos poucos é “Hacks”, comédia que traz como destaque a convivência entre duas mulheres de gerações diferentes.

A série é uma das favoritas no Emmy Awards deste ano, sendo indicada nas principais categorias de comédia. Sua atriz protagonista, Jean Smart, é um dos grandes ícones da indústria, já tendo sido indicada pelo menos nove vezes durante sua carreira. Agora, não apenas foi indicada como Melhor Atriz de Comédia, por sua atuação em “Hacks”, como também na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante em Minissérie, por “Mare Of Easttown”, indo do drama à comédia com maestria.

“Hacks” acompanha a vida de Deborah Vance (Smart), uma estrela de stand-up, extremamente rica, porém chegando ao fim de sua carreira – pelo menos é o que querem. Seu empresário a pressiona para que ela faça cada vez menos shows, justificando a qualidade de suas piadas datadas e antigas. Alguns anos atrás, ela esteve nos holofotes por atear fogo na casa do ex-marido. Suas motivações, descobrimos ao longo dos episódios.

A agência responsável por Vance escala uma jovem redatora para ajudar na parte criativa da comediante, no que seriam os últimos shows de sua carreira. Ava (Hannah Einbinder) foi cancelada na internet depois de fazer comentários de mau gosto nas redes sociais, não consegue arrumar freelas, mas mesmo assim recusa de primeira o novo trabalho. Circunstancia a parte, elas acabam não tendo escolha, senão trabalhar juntas.

As duas atrizes tem uma química boa, a “guerra de gerações” é usada no começo para alavancar a história, mas as camadas vão aparecendo e ambas tem muito a dizer. De um lado, uma estrela menosprezada e esquecida, lutando para ainda ser relevante (não seria esse o mal de Hollywood?). Do outro, as incertezas de uma garota que tem a vida pela frente, talento de sobra, mas são poucas as portas que se abrem em um mercado de trabalho bastante competitivo.

Com temas atuais e piadas inteligentes, “Hacks” é provocativa e bem dirigida. Sem muito destaque para o resto do elenco, o show é inteiro de Hannah e Jean. A dinâmica das duas é a cola dos episódios, que também alimentam certa curiosidade, ora sobre mistérios do passado de Deborah, ora sobre as confusões de Ava. O personagem Marcus (Carl Clemons-Hopkins), secretário de Vance, é a típica víbora invejosa que a série tenta humanizar, sem muito sucesso. A Kiki (Poppy Liu), contratada para jogar poker semanalmente com Deborah, é muito mais cativante, embora tenha bem menos tempo de tela. 

O que faz “Hacks” ter relevância é o contexto político que desenvolve ao longo dos episódios. O roteiro mostra como é dura a estrada para quem é mulher tentando sobreviver em Hollywood, mesmo com movimentos como o Me Too, citado pelo texto do programa. O assédio está presente, não de maneira dramática, mas a crítica está lá e é bastante válida. 

A série também arrebata quando traz a questão da solidão pelos olhos das protagonistas. Ambas são bastante sozinhas de maneiras diferentes e podem encontrar entre elas algum conforto – se pararem de brigar. Bom, com 100% de aprovação da crítica no Rotten Tomatoes, “Hacks” foi renovada para a segunda temporada e promete fazer bonito nas premiações internacionais. É opção certeira para quem quer dar um tempo nas séries de drama pesado ou suspense, mas que não dispensa uma boa narrativa.

*Fernando Martins é jornalista, escritor e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Acesse o Portal, Podcast e redes sociais do Uma Série de Coisas neste link

*A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas

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