Documentário da AppleTV+ é o retrato da saúde mental na pandemia
Desde que a pandemia do novo coronavírus se espalhou pelo mundo, o audiovisual desenvolve documentários e especiais sobre os vários ângulos do tema, a maioria deles disponíveis em plataformas de streaming. É o caso da mais recente “The Me You Can’t See” (no português, “O meu lado invisível”), que estreou em maio deste ano para assinantes da AppleTV+.
Criada e produzida pela apresentadora Oprah Winfrey e pelo príncipe e duque de Sussex, Harry, o documentário mergulha fundo no universo da saúde mental, explorando a importância do cuidado, tratamento, tipos e outros aspectos do assunto, principalmente nos tempos de pandemia onde tudo foi maximizado com o distanciamento social e a quarentena.
Traumas em famosos e anônimos
Se você já ouviu falar do documentário, com certeza foi com alguma revelação feita por famosos durante os episódios. Por muitos anos e até hoje encontramos estigmas sobre saúde mental, o trabalho de psicólogos, terapeutas e psiquiatras ainda são colocados em dúvida ou desmerecidos. Afinal, como o título sugere, o problema não é visível e os sintomas quase sempre ignorados.
Trazer famosos com disponibilidade de narrar seus traumas é, primeiramente, tirar a capa da “perfeição” e endeusamento que vem com a popularidade. É mostrar que mesmo as estrelas, no topo do mundo, não estão isentos de passar por traumas. Segundo, serve de isca para que o público confira o documentário. E uma vez que os telespectadores dão o play, também são apresentados a pessoas comuns, do dia a dia, iguais ao público no anonimato e, quem sabe, com o mesmo problema emocional. São histórias emocionantes.
A própria Oprah começa afirmando que foi estuprada pelo primo na infância. O príncipe Harry, que divide vários momentos com a apresentadora, também faz relatos sobre seu luto após a morte de sua mãe, a princesa Diana, e o abuso de drogas durante anos antes de decidir se afastar da família real. A cantora e atriz Lady Gaga também estreia o episódio piloto, desabafando sobre a vez em que, aos 19 anos, um produtor a manteve no estúdio trancada, estuprou e a largou na rua grávida. Ainda participam do documentário a atriz Glenn Close e Zachary Pym Williams, filho do ator Robin Williams, que cometeu suicídio em 2014, ambos contando como dão o suporte necessário para suas famílias.
Outros relatos igualmente emocionantes chegam de pessoas anônimas, como o caso do garoto que viu sua irmã morrer na Síria, vítima de uma bomba no parque onde outras crianças brincavam. Também conhecemos uma jovem que vive com o diagnóstico de esquizofrenia, narrando que vive uma vida relativamente normal, ainda que haja preconceitos sobre o tema.
Compartilhar é poderoso
“The Me You Can’t See” é um bom exemplo de quando o audiovisual presta um serviço. Neste caso, além de contar histórias reais, pode ser um guia para aqueles que se veem sem esperança. Entre as mensagens e conselhos que o documentário passa a diante, é importante ressaltar algumas verdades: questões mentais são silenciosas e, para que haja cura, é preciso quebrar o silêncio, dizer em voz alta, reconhecer o problema. Pedir ajuda é um ato de coragem, compartilhar é um passo poderoso e não é sinal de fraqueza. Não há uma única maneira de cura, somos pessoas acima de sermos meros pacientes, descobrir o que funciona leva tempo. Ninguém se cura sozinho, apoio é fundamental.
Os seis episódios do documentário estão disponíveis na AppleTV+. Veja o trailer:
*Fernando Martins é jornalista, escritor e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Acesse o Portal, Podcast e redes sociais do Uma Série de Coisas neste link.
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