“Entre Estranhos” eleva atuação de Tom Holland em thriller psicológico

A adaptação dos crimes de Billy Milligan está disponível na AppleTV+

Em "Entre Estranhos", Tom Holland interpreta Danny Sullivan, personagem baseado na vida real de Billy Milligan

A minissérie "Entre Estranhos", disponível na AppleTV+, é mais uma produção que bebe da fonte de um diagnóstico cheio de controvérsias e mistério: pessoas com transtorno dissociativo de identidade. O Showrunner, Akiva Goldsman, agraciado com um Oscar em 2001 por "Uma Mente Brilhante", traz consigo uma experiência que reverbera em todos os pontos positivos do programa - embora seu trabalho, aqui, tenha seus tropeços. 

O elenco reúne um conjunto de talentos notáveis: Tom Holland, conhecido por viver o Homem-Aranha nos cinemas, interpreta o protagonista Danny Sullivan - o personagem mais interessante da trama. O enredo, ambientado na década de 1970, apresenta Danny em uma instituição prisional devido ao seu envolvimento em um tiroteio ocorrido no Rockefeller Center, em Nova York. A maior parte das cenas desenrola-se na sala de interrogatório dentro da prisão, onde Rya Goodwin, interpretada por Amanda Seyfried, assume o papel de psicóloga incansável. Com uma paciência aparentemente infinita, ela guia Danny para revisitar seu passado, desde os momentos da infância até o presente momento de crise.

E assim a série se desenrola, ora lenta, ora trazendo revelações que chocam. O que pode acabar dividindo o gosto do público sobre o ritmo que a história leva. “Entre Estranhos”, que adapta a história real de Billy Milligan, escolhe, no entanto, não revelar essa informação nos primeiros seis episódios (a minissérie possui 10). Esperar tanto até entendermos sobre quem a série quer apresentar parece um tanto problemático. Essa informação poderia, por exemplo, ficar em segundo plano. Talvez, assim, a narrativa pudesse ser contemplada por um viés mais original. Até porque, não há referência sobre as personalidades de Billy até o sexto episódio.

Por isso, assistir a minissérie sem saber nada sobre quem foi Billy Milligan pode trazer uma experiência melhor do que saber todos os detalhes da história e, talvez, se decepcionar. Ainda assim, ao explorar as profundezas da mente humana e as intrincadas camadas do sistema de justiça criminal, a série oferece uma perspectiva interessante sobre os limites da identidade, memória e responsabilidade.

Quem é Billy Milligan?

Billy Milligan foi um homem que sofreu de transtorno dissociativo de identidade (anteriormente conhecido como transtorno de personalidade múltipla). Ele cresceu em Miami, Flórida, e teve uma infância marcada por abusos físicos e emocionais. Esses traumas profundos podem ter contribuído para o desenvolvimento do transtorno dissociativo de identidade, uma condição rara em que uma pessoa apresenta múltiplas personalidades distintas, também conhecidas como "alter egos".

O caso de Billy Milligan ganhou atenção nacional em meados da década de 1970, quando ele foi acusado de uma série de crimes, incluindo três estupros em sequência. Durante o julgamento, sua defesa argumentou que as diferentes personalidades dentro de Milligan haviam cometido os crimes independentemente, sem que ele tivesse controle sobre elas. Essa defesa levantou debates complexos sobre a responsabilidade legal e a compreensão da mente humana.

No decorrer do julgamento e da investigação, psicólogos e psiquiatras avaliaram Milligan e suas múltiplas personalidades. Foram identificadas mais de vinte personalidades distintas, cada uma com características e traços únicos. Entre essas personalidades, algumas se destacavam, como "Adalana", uma mulher de 19 anos, e "Ragen", um homem bastante agressivo.

O caso resultou em um veredicto de inocência por motivo de insanidade, e Milligan foi internado em uma instituição psiquiátrica em vez de ser encarcerado. Sua história foi documentada no livro "The Minds of Billy Milligan" (As Mentes de Billy Milligan), escrito por Daniel Keyes e publicado em 1981 - no qual “Entre Estranhos” é adaptado.

O caso também é narrado no documentário “As 24 Personalidades de Billy Milligan”, na Netflix, e também serviu de base para filmes como “Clube da Luta”, “Split” e “As Duas Faces do Crime”.

Na ficção

Um dos pontos fortes de “Entre Estranhos” é a atuação do elenco. A tarefa de interpretar múltiplas personalidades recai sobre os ombros de Holland, e ele consegue transmitir com sucesso a complexidade de cada personagem interno de Milligan. Esse desafio demanda uma gama variada de habilidades interpretativas e a capacidade de alternar entre emoções e traços de personalidade diferentes, o que certamente mantém o espectador envolvido.

No entanto, "Entre Estranhos" não está isenta de críticas. A série poderia encontrar maior equilíbrio no paralelo entre Danny e Billy nos episódios iniciais. Em alguns momentos, a narrativa pode se perder, prejudicando o ritmo da história. Para além disso, a série acerta na reconstrução dos anos 1970 e na escalação de um elenco mais que competente

Em última análise, "Entre Estranhos" é uma jornada que vale a pena ser assistida pelo coquetel intrigante de elementos psicológicos, criminais e morais do enredo, resultando em uma experiência que é, apesar dos pesares, envolvente

*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.
*A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas.

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