"Fale Comigo", da A24, é boa aposta no gênero 'terror de shopping center'
Novo terror do estúdio A24 tem data de estreia marcada para 17 de agosto nos cinemas
A categoria “terror de shopping center” resume bem certos filmes de estúdio que acabam por requentar a mesma fórmula com tentativas de inovações aqui e ali pra soar como uma novidade, mas, no fim, é o filme que vai divertir o público médio e, às vezes, render a bilheteria já estipulada antes da estreia.
A definição do termo é simples. São filmes de terror com enredos simplificados, focados exclusivamente em um objetivo central: proporcionar entretenimento através de momentos assustadores. Essa é a categoria de filme que os espectadores escolhem para assistir em uma tarde de sábado, buscando sentir a adrenalina percorrendo suas veias.
Leia Também
• "Heartstopper" retorna ainda sensível e aprofunda questões de gênero com qualidade e leveza
• Minissérie “Sequestro no Ar” aborda o lado humano em meio ao terror
• Série argentina criminal, “Jardim de Bronze” retorna com última e sombria temporada
Dizendo assim pode soar que um terror de shopping sempre vai ser um filme genérico e esquecível, mas nem sempre é o caso. Fenômenos como o caso de “Invocação do Mal”, “Pânico” e “Halloween” mostram que histórias mais acessíveis não se restringem a suas amarras e podem conquistar tanto público quanto critica, além de adquirir outras marcas no decorrer do tempo.
Não sei se é o caso de “Fale Comigo”, mas certamente é uma boa aposta para o futuro. Um filme curto, divertido e que possui sua identidade dentro do cansado gênero de possessão demoníaca, além do adicional de ser produto da prestigiada A24, que por si só já garante atenção.
A trama é sobre um objeto sobrenatural que conecta pessoas a espíritos aleatórios, por um período determinado, no intuito de se divertir com as aleatoriedades que podem surgir disso e da linha tênue entre o conhecido e o desconhecido. É uma releitura interessante do que se pode esperar do clássico objeto amaldiçoado que condena pessoas.
Aqui, há o perigo e a tensão, mas unido aos jovens e a internet (também já um clichê moderno). O medo e a inquietude de algo de outro mundo perde espaço para os conteúdos gerados a partir disso, não de uma perspectiva virtual, mas sim de uma sede de escape. Não é sobre espíritos e lendas macabras, mas sobre trauma, morte e perspectivas, ou a falta delas.
A intenção do filme não é se aprofundar em tais temas, mas o trabalho de conceitualização e o desenvolvimento dos personagens acabam por refletir no impacto em que todas essas coisas culminam. Poderia ser uma tabua ouija, a brincadeira do copo ou a loira do banheiro, seria a primeira coisa que apontasse alguma direção.
O objeto, uma mão empalhada com escrituras que se espremem por quase todo espaço, é marcante e causa o desconforto que tais objetos precisam. Suas regras são simples e rapidamente estabelecidas, se mantendo firmes até o fim, algo que tende a ser bastante negligenciado em filmes do gênero. Não há reviravoltas marcantes, mas a protagonista convence e gera a empatia necessária para entender suas atitudes passiveis de controvérsias, caminhando bem na linha entre o preto e branco em um bom tom de cinza.
Seus coadjuvantes entregam o que precisam, em destaque para a melhor amiga da protagonista e seu irmão, com maior tempo de tela, são simpáticos e até se sobressaem na empatia pelos personagens. O namorado da melhor amiga e a sua sogra são os mais tímidos em presença, mas não perde espaço em meio à história, seus pontos são mais breves, mas bem estabelecidos pelo roteiro e direção.
O terceiro ato perde ritmo e falta impacto, embora sua conclusão não seja ruim. A sequência de "Fale Comigo", já confirmada, traz a oportunidade de expansão de suas regras e mitologia, assim como as discussões sobre juventude, morte, vida real e virtual.
“Fale Comigo” é um terror de shopping do bom, que consegue soar atual sem exageros ou grandes alardes. Tem boas discussões e é o tipo de filme capaz de dar susto e se sentir tenso ao olhar o canto escuro do seu quarto quando chegar em casa.