"Heartstopper" é inspiração para nova geração de pessoas LGBTQIAP+
Série da Netflix conquistou o público trazendo romance entre dois meninos
O gênero teen só cresce no mercado televisivo. Cada um de nós teve um tipo de juventude, por isso temos várias interpretações fictícias do que seria a vida dos jovens nas escolas mundo afora: “Sex Education”, “Euphoria”, “Love, Victor” e “Elite” trazem a mesma questão (romance adolescente e descoberta da sexualidade) de maneira totalmente distinta. Seja por identificação ou escape da vida real, o fato é que “Heartstopper”, da Netflix, registrou 14,5 milhões de horas assistidas na plataforma em seus três primeiros dias de lançamento.
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Ao contrário de séries como “Elite” e “Euphoria”, que trazem uma visão mais cruel e triste de adolescentes consumindo drogas e transando sempre que podem, “Heartstopper” vem com uma proposta oposta, apresentando o romance entre Charlie (Joe Locke) e Nick (Kit Connor) de maneira leve, inocente e natural. Fantasiosa? Concordar pode parecer triste, mas não seria incrível que as próximas gerações não precisassem lidar com uma sociedade cruel como no passado e atualmente?
A intenção, aqui, não é tirar o mérito das séries citadas. Ambas são produções de sucesso que conquistaram seu lugar ao sol e possuem suas qualidades – a da HBO principalmente. Mas diante de um mundo potencialmente problemático, encontrar histórias onde o amor é compartilhado tão naturalmente é como um respiro de alívio.
O roteiro, embora longe de ser instigante ou de desenvolver reviravoltas chocantes, traz certa criatividade ao excluir qualquer teor sexual ou de dependência química para dar lugar ao frio na barriga do primeiro olhar, às dúvidas amorosas, questões de identidade de gênero e aos laços importantes de amizade e respeito mútuo.
Relação entre adultos e jovens
Um aspecto importante na comunidade LGBTQIAP+ é a relação com as suas famílias. Em “Heartstopper”, os poucos personagens adultos que compõem o enredo auxiliam os jovens como podem, como o professor Ajayi (Fisayo Akinade), que permite ao protagonista se isolar em sua sala de aula nos momentos de reflexão.
A irmã de Charlie, embora não seja adulta, é a irmã mais velha e está sempre na espreita, checando o bem-estar do irmão. Já Nick tem uma mãe que aparenta não saber das questões do filho, mas a relação dos dois se estreita em um dos momentos mais bonitos da série. Vale mencionar que ela é interpretada pela atriz Olivia Colman, vencedora do Oscar de Melhor Atriz pelo longa “A Favorita” (2019) e que acaba sendo uma grata contribuição ao elenco estreante.
Adaptada das HQs de Alice Oseman, “Heartstopper” tem um enredo simples e linear que não pode ser considerado defeito. A trajetória dos personagens é confortável de assistir e se torna uma inspiração sobre como as coisas deveriam ser, de fato, mas que foi tirado da comunidade LGBTQIAP+ na vida real. É uma série romântica? Sim, mas esse tipo de história realmente não existe ou fomos convencidos de que ser diferente é uma fantasia?
*Fernando Martins é jornalista, escritor e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas
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