Mais compacta, “Cidade Invisível” ambienta novo enredo na Amazônia com elenco indígena
Série nacional com Marco Pigossi teve cinco episódios na segunda temporada
Após dois anos da estreia da primeira, a segunda temporada da série "Cidade Invisível" trouxe uma continuação repleta de fantasia, mistério e cultura folclórica brasileira. A nova leva de episódios mergulhou na fonte do seu tema, levando seu enredo à Amazônia e apresentando novos personagens.
Leia Também
• “Enxame”: sátira de Donald Glover abre debate sobre fanatismo com ótimo elenco
• Histórias que surpreendem em quatro documentários da Netflix
• “The Way Home” mescla tom novelesco com viagem no tempo
O folclore brasileiro é bastante rico e ter uma série com essa proposta é muito interessante. Por isso, concentrar sua narrativa apenas no Rio de Janeiro, como fez a primeira temporada, pareceu ser um equivoco. Contudo, a segunda temporada, ao voltar seus olhos para Belém, no Pará, traz um panorama mais original, proporcionando um enriquecimento cultural e um senso de identidade com uma visão única da cultura brasileira e suas histórias tradicionais.
A trama se desenvolve em torno da busca pela identidade e do equilíbrio entre o mundo humano e o mundo sobrenatural, agora com novos seres folclóricos.
Novos personagens
A Cuca, interpretada pela Alessandra Negrini, teve mais tempo de tela nos novos episódios. Sendo um dos personagens mais cativantes da série, com certeza essa escolha foi um acerto. Para além dela, os novos personagens também merecem destaque.
Maria Caninana, feita por Zahy Tentehar, Matinta Perera, interpretada por Letícia Spiller, a Mula Sem Cabeça, que ganha vida através de Simone Spoladore, e o lobisomem Bento, vivido por Tomás de França estão presentes.
A Matinta Perera é uma bruxa que se transforma em ave. A versão de Letícia Spiller, no entanto, é um pouco diferente. O Brasil é imenso e somatiza diversas culturas. “Cidade Invisível”, infelizmente, parece não aprofundar a origem de seus personagens, causando certo estranhamento. Enriqueceria muito se a série fosse um pouco mais didática com as criaturas, apresentando de maneira mais profunda a raiz africana e indígena dos personagens. Isso, talvez, seja o ponto de interrogação na interpretação de Spiller.
Contudo, “Cidade Invisível” acerta em outro ponto: trazer um elenco indígena para interpretar personagens indígenas. Sabemos que, tristemente, atores e atrizes indígenas não ganham tanto espaço no Brasil. Por isso, é ótimo ver as atuações de Zahy Guajajara como uma mulher que vira cobra, a Kay Sara, interpretando uma promotora indígena, e a Ermelinda Yapario, que vive a Pajé Jaciara.
Menos é mais, não neste caso
De volta ao tópico do desenvolvimento dos personagens que deixa um pouco a desejar, isso também fica claro na quantidade de episódios. Cinco episódios parece pouco quando o roteiro não aprofunda na trama. Como consequência, temos enredos suprimidos e acelerados. Porém, a fotografia foi um dos pontos altos da segunda temporada de "Cidade Invisível". A série continuou a apresentar boa estética visual, com efeitos especiais bem trabalhados – a Mula Sem Cabeça é uma das melhores aparições até agora, depois do Curupira. A atmosfera mágica e misteriosa da série foi mantida, com cenários que destacavam a beleza da Amazônia e suas lendas folclóricas.
A segunda temporada de "Cidade Invisível" foi uma continuação empolgante ao olhar para as raízes da Amaônia, corrigindo algumas faltas da primeira temporada, mas abrindo novas. Apesar dos poréns, a série se destacou como uma produção brasileira original de qualidade, que valoriza e promove a cultura folclórica do país, que nunca é demais. A série continua a ser uma opção única e atraente para os amantes de histórias de fantasia e mistério, e abre caminho para novas possibilidades em futuras temporadas.
*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.
*A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas.