Mais sombria, "Stranger Things" expande universo e aponta para o fim
Série tem ambientação nostálgica com referência a "Hora do Pesadelo" e outros clássicos
Após uma pausa mais longa do que a habitual devido à pandemia, "Stranger Things" retorna com a quarta temporada na Netflix. Repleta de referências aos anos 1970 e 1980, os personagens continuam lutando contra as forças do Mundo Invertido ao mesmo tempo em que procuram retomar a rotina normal e lidar com as consequências do último embate. A seguir, spoiler da quarta temporada.
Recapitulando
Resumidamente, a terceira temporada trouxe o Devorador de Mentes como vilão. Mais uma vez, Will (Noah Schnapp), Mike (Finn Wolfhard), Lucas (Caleb McLaughlin), Max (Sadie Sink) e Dustin (Gaten Matarazzo) contaram com a ajuda de Eleven (Millie Bobby Brown) e os demais personagens para conter a ameaça. No entanto, houveram perdas. Billy (Dacre Montgomery), irmão de Max, foi morto pelo monstro, Dr. Alexei (Alec Utgoff) - o cientista que conquistou a simpatia do público brevemente - também morreu após ser baleado.
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Outra perda, pelo menos para os personagens, foi a de Hopper (David Harbour). Ele precisou se sacrificar enquanto Joyce (Winona Ryder) explodia o maquinário que fecharia o portal para o Mundo Invertido. Era uma situação impossível de ser resolvida de outra forma. Dado como morto, a família Byers - Joyce, Will, Jonathan (Charlie Heaton) e Eleven - resolve recomeçar em outra cidade, longe de Hawkins.
Depois de um momento tocante em que Eleven lê uma carta de Hopper e de uma dura despedida dos amigos, um pós-crédito ambientado em uma prisão russa mostra oficiais usando um desconhecido como isca para um Demogorgon, "Não, não, o americano não", diz um dos guardas, sinalizando que Hopper poderia estar vivo.
Novos rumos
A temporada segue a mesma narrativa das anteriores, com seu elenco espalhado em subtramas que vão se relacionar mais tarde. Mas o clima da quarta temporada é mais sombrio, imperando o gênero de terror e suspense. O clima pesado cresce junto com o elenco, isso é observado desde a primeira temporada até agora.
Muito da escuridão dos novos episódios chega com a dinâmica do novo monstro, o Vecna. Ele escolhe suas vítimas com base na culpa que carregam, geralmente alguém que tenha um passado turbulento. Seu surgimento é contextualizado com uma volta ao passado que expande o universo de “Stranger Things” e traz as grandes revelações da temporada. O roteiro é promissor e aponta para uma possível última temporada.
As referências que amamos
Desde que foi lançada, "Stranger Things" está mergulhada em referências da época e se consagrou como uma das grandes produções da cultura pop. Na quarta temporada vemos menções diretas e indiretas a filmes como "It - A Coisa", "Senhor dos Anéis", "Curtindo a Vida Adoidado" e "Top Gun". Mas a maior fonte dos novos episódios talvez seja a da célebre franquia “A Hora do Pesadelo”, do diretor Wes Craven.
Enquanto Steve (Joe Keery) trabalha na locadora vemos um totem de Freddy Krueger ao fundo. Em outra conversa, o filme é citado diretamente. A dinâmica do Vecna com suas vítimas também pode ser considerada uma homenagem ao longa, já que, na tentativa de não ver as alucinações causadas pelo monstro, Max toma remédio para não dormir - uma estratégia das vítimas do próprio Freddy, que atacava as pessoas pelos sonhos.
Uma curiosidade interessante é que o ator que interpretou Freddy Krueger por tantos anos, Robert Englund, fez uma participação especial nos episódios recentes de “Stranger Things”. Seu personagem se chama Victor Creel, um homem que está internado em uma clínica psiquiátrica e que é a chave para um dos grandes momentos da temporada.
No mais, percebe-se que o elenco que conquistou o público não é mais o mesmo que no primeiro ano. Eles cresceram, amadureceram e desenvolveram vontades, sonhos, planos. A quarta temporada trouxe novos desafios e apontou para um possível fim que pode chegar com a quinta temporada. Assistir “Stranger Things” evoluiu de um exercício nostálgico qualquer para uma experiência quase cinematográfica. A série bateu o recorde de melhor estreia da Netflix e colocou a música "Running Up that Hill", da cantora veterana Kate Bush, no ranking global do Spotifi. A estrada só cresce e novos episódios chegam no dia 1 de julho.
*Fernando Martins é jornalista, escritor e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.
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