Maya Rudolph brilha em "Loot", uma comédia de renovação e propósito
Série da AppleTV+ apresenta como uma herdeira encontra significado além da riqueza
Se você ainda não conhecia "Loot", a série da Apple TV+ com duas temporadas e estrelada por Maya Rudolph, essa é a hora de dar uma chance. Criada por Alan Yang e Matt Hubbard, a narrativa mergulha na vida de Molly Novak (Rudolph), uma bilionária que, após um divórcio escandaloso, embarca em uma jornada de autodescoberta e reinvenção.
Maya Rudolph, conhecida por suas performances carismáticas e versatilidade cômica, tem em "Loot" um veículo perfeito para explorar nuances de vulnerabilidade e crescimento pessoal da personagem. Ao contrário de personagens bilionários frequentemente retratados como vilões caricatos, Molly Novak é uma protagonista tridimensional, que possui experiências surpreendentemente relacionáveis, apesar de sua imensa fortuna.
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"Loot" começa com Molly vivendo uma vida de excessos, cercada por luxos que apenas acentuam sua solidão. O ponto de virada ocorre quando ela descobre a infidelidade de seu marido, John Novak (Adam Scott), um evento que desencadeia uma série de mudanças drásticas. Em meio ao caos do divórcio, Molly decide se envolver com a fundação de caridade que ela mal sabia que existia, começando assim sua transformação de socialite superficial a uma mulher genuinamente empenhada em fazer a diferença.
O roteiro de Yang e Hubbard mistura comédia afiada e momentos comoventes. Eles evitam o caminho fácil de ridicularizar a riqueza desmedida de Molly (embora o façam em alguns momentos) e, em vez disso, abrem caminho para explorar temas como propósito, conexão humana e o verdadeiro significado de generosidade. A série destaca o contraste entre a opulência do mundo de Molly e as realidades mais sombrias daqueles que ela passa a ajudar, sem cair na armadilha do "pobreza pornográfica".
Os personagens secundários desempenham papéis cruciais na evolução de Molly. Sofia Salinas (MJ Rodriguez), a diretora da fundação, oferece um contraponto sério e focado ao entusiasmo ingênuo de Molly, enquanto Arthur (Nat Faxon), um contador desajeitado, mas de bom coração, fornece momentos de humor e vulnerabilidade. Esta dinâmica de personagens é central para a narrativa, mostrando como o crescimento pessoal de Molly é catalisado pelas relações que ela forma ao longo do caminho.
O seriado alterna entre os ambientes exuberantes da alta sociedade e os espaços mais modestos da fundação, criando um contraste visual que reflete a dualidade da vida de Molly. A direção utiliza esses espaços para amplificar o arco emocional dos personagens, resultando em uma estética que é atraente e significativa.
No entanto, "Loot" não é isenta de falhas. Alguns podem argumentar que a série, em momentos, tropeça em clichês ao retratar o mundo da filantropia, ou retrata os bilionários de maneira romantizada. Além disso, o ritmo da narrativa pode parecer desigual, com episódios que se arrastam na tentativa de equilibrar o desenvolvimento de personagens e as subtramas.
Apesar desses tropeços, "Loot" pode ser uma adição ao catálogo de comédias que você pretende assistir. A atuação de Maya Rudolph é um destaque e a série convida o espectador a refletir sobre o que realmente importa na vida, usando a comédia como uma lente para examinar questões profundas sobre identidade e propósito.
Veja o trailer:
*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.
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