Minisséries: audiência ainda prioriza ficção curta às tramas longas
Nos últimos anos, seriados com poucos episódios vem conquistando o público
A relação do audiovisual com seus telespectadores costuma estar sempre em constante mudança. Das locadoras para os Blu-ray, a tecnologia acompanha a necessidade dos consumidores e vice-versa. Com a explosão dos streamings liderados pela Netflix, o número de telespectadores das ficções seriadas, que já era alta, continua crescendo e se adaptando.
Os hábitos do público continuam se transformando. Não é como se as séries longas estivessem fadadas ao fracasso ou extinção, pelo contrário, essas produções fazem sucesso por vários motivos e possuem um público fiel. Porém, sugiro a reflexão sobre o surgimento de outro nicho, que conseguiu a faceta de se tornar mais dinâmico dentro do universo seriado: as minisséries.
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Hoje, há uma preferência notável pelas minisséries. Seja pelo ritmo de trabalho do público que precisa de um entretenimento pontual, compacto e rápido, ou pelo comportamento das novas gerações que foram criadas nesse contexto fluído. Os números não mentem.
Crescimento
Na última década, as novelas brasileiras perderam um pouco de força, embora também estejam longe do declínio. Em 2016, a Kantar Ibope Media realizou uma pesquisa que indicou um crescimento de 60% das minisséries em relação às novelas e ao futebol. Foi também em 2016 que "Justiça", uma das grandes minisséries produzidas pela Rede Globo, chegava para abrir portas para, mais tarde, outras tramas nacionais como "Dois Irmãos" e "Assédio".
Nos streamings
A própria dinâmica dos serviços de streaming possibilita acompanhar as mudanças no consumo do público e até incentivar esse processo. A exemplo de Verdades Secretas, telenovela de sucesso exibida na Globo em 2015 e que foi adaptada para o formato de série, mais familiar para quem costuma maratonar conteúdo. A segunda temporada começou a ser exibida em outubro deste ano, agora na plataforma da Globoplay.
Na Netflix, ano após ano os telespectadores elegem a minissérie mais vista. As mais recentes, “O Gambito da Rainha” teve grande receptividade em 2020, despertando um interesse avassalador por jogos de xadrez ao redor do mundo. Este ano, “Maid” (leia a crítica aqui) bateu a marca de 67 milhões de visualizações, contra 62 milhões da antecessora.
Tradição em premiações
“O Gâmbito da Rainha” teve grande êxito nas últimas premiações, levando o Emmy de melhor minissérie, entre outros. É esperado que “Maid” consiga se destacar na edição de 2022. Vale mencionar as produções limitadas que estavam indicadas este ano: “WandaVision”, da Disney+, “The Underground Railroad”, da Amazon Prime Video, além de “Mare of Easttown” (veja a coluna sobre a minissérie aqui) e “I May Destroy You”, ambas da HBO Max.
As minisséries citadas vieram para potencializar a qualidade das produções, todas tem suas qualidades e merecem reconhecimento. Um fato curioso que aconteceu este ano foi com a mudança do anúncio da minissérie vencedora para a última da noite.
Assim como o Oscar revela a categoria de Melhor Filme ao final da celebração, 2021 foi marcado com a troca da Melhor Série de Drama, tradicionalmente anunciada no final do Emmy, para dar vez à categoria de Melhor Minissérie. A decisão pode não ter relação, mas é uma justificativa significativa em deixar para anunciar os melhores seriados limitados por último.
Melhores de 2021
Para a coluna, a lista de melhores do ano, além de incluir as já citadas “Maid”, “Mare of Easttown” e “The Underground Railroad”, precisa incluir algumas outras. Falar que “Missa da Meia-Noite” está incluída pode até parecer um pleonasmo. Do mesmo criador de “A Maldição da Residência Hill”, Mike Flanagan tem uma voz potente e não costuma decepcionar. Com outros projetos em andamento, não seria estranho vê-lo na lista do ano que vem.
“Calls”, da AppleTV+, também merece o pódio. Principalmente pela criatividade. Usando apenas elementos sonoros, assistir aos episódios é quase como acompanhar um podcast de suspense. Os personagens estão sendo vítimas de alguma ameaça apocalíptica, mas tudo que podemos fazer é ouvir seus telefonemas confusos. Muito interessante e bem pensada. Confira a análise da coluna.
Criada por Hagai Levi (Em Terapia), a minissérie “Scenes From a Marriage”, de cinco episódios, traz a dinâmica de um casal em crise reavaliando o casamento. As atuações de Oscar Isaac e Jessica Chastain elevam a produção para outro nível. Leia a crítica da coluna aqui.
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*Fernando Martins é jornalista, escritor e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Acesse o Portal e redes sociais do Uma Série de Coisas neste link.
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