Mulheres na comédia driblam machismo e conquistam premiações
Quem nunca ligou a TV pela tarde e viu que estava passando algum filme de comédia protagonizado por Eddie Murphy, Jim Carrey ou Adam Sandler? Grandes clássicos do gênero levam o nome desses e de outros atores como protagonistas, mas dificilmente lembramos das mulheres ao mencionar comediantes que ficaram eternizados na indústria do cinema e TV. Felizmente, ao longo dos anos o cenário vem mudando e o público não exclui o talento dos homens, mas está aberto a consumir histórias criadas, produzidas e protagonizadas por elas.
Mulheres sempre estiveram presente nas produções, mas, na época, eram reservado às atrizes os personagens secundários ou com perfis de dona de casa e secretárias, nunca alguém com poder. No artigo “As Mulheres Seriadas: Uma Breve Análise Sobre as Protagonistas Femininas nas Séries Brasileiras de Comédia”, de Fernanda Friedrich, destaca-se uma pesquisa do site Fivethirtyeight, reiterando um ambiente sexista. “Enquanto 32% dos médicos, 33% dos advogados, 14% dos engenheiros e 16% do exército é formado por mulheres [na vida real], na ficção os números caem para 10%, 11%, 5% e 3% respectivamente”, diz o texto.
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Os números apresentados são de 2015 e seja na ficção ou não, estão longe de serem o ideal. A perspectiva, no entanto, está em constante mudança. Hoje temos vários exemplos de mulheres que estão sendo reconhecidas pelo seu trabalho nas premiações internacionais, não só em papéis de destaque, mas criando, escrevendo e protagonizando a mesma produção. A coluna Uma Série de Coisas desta sexta-feira fala - e indica! - algumas delas.
Amy Sherman-Palladino é um dos nomes que se deve anotar no caderninho quando se quiser procurar séries bem escritas. Para quem não associa nomes às suas obras, saiba que a roteirista está por trás de uma série bem querida do público: “Gilmore Girls” (2000-2007). Atualmente, Sherman-Palladino é responsável pelo roteiro, direção e produção executiva de “The Marvelous Mrs. Maisel” (2017-até hoje), original Netflix. Com essa última, Amy se tornou, em 2018, a primeira mulher na história do Emmy a vencer, simultaneamente, as categorias de melhor roteiro e direção em série de TV.
A criadora se inspirou em sua própria família para criar o universo de Mrs. Maisel. Em entrevistas, ela chegou a mencionar que seu pai também foi comediante e que cresceu em volta de um grupo de judeus tentando fazer o outro rir. É uma bela forma de viver, concordam?
“The Marvelous Mrs. Maisel” se passa em 1958 e conta a história de uma mulher recém-divorciada que precisa se adaptar às mudanças de sua rotina de dona de casa ao mesmo tempo que tenta desenvolver seu talento como apresentadora de stand-up.
Ainda sobre a série, a atriz Alex Borstein ganhou duas vezes seguidas o Emmy de Melhor Atriz Coadjuvante em Série de Comédia por sua personagem Susie. Este ano, em seu discurso, ela foi aplaudida de pé com um discurso encorajador: “Eu quero dedicar esse prêmio à Amy-Sherman Palladino [criadora da série], e todos na equipe e no elenco. Para a minha mãe, e a minha avó, que é imigrante e sobrevivente do Holocausto. A minha avó perguntou a um guarda: 'O que acontece se eu sair da fila?'. Ele respondeu: 'Eu não vou conseguir te matar, mas alguém vai’. E ela saiu da fila, e eu estou aqui hoje. Saiam da fila, meninas”, disse Borstein.
Outra produção que superou as expectativas foi “Fleabag”. Para o nosso azar, sua criadora Phoebe Waller-Bridge já adiantou de que não terá mais temporadas e que a segunda foi a última. “Fleabag” estreou em 2016 e atingiu 100% de aprovação no Rotten Tomatoes.
O ano com certeza é de Phoebe. A escritora também contribui para “Killing Eve”, da BBC America, que traz Sandra Oh e Jodie Comer no elenco. Este ano, Waller-Bridge ganhou nas principais categorias de comédia do Emmy, por “Fleabag”. A série tem um humor irônico com tons de drama e acompanha a vida da protagonista tentando lidar com o luto. O diferencial é que a protagonista quebra a quarta parede ao olhar para a câmera e fazer pequenos comentários que só o público consegue ouvir. A série também conta com a participação de Olivia Colman, vencedora do Oscar por sua atuação no filme “A Favorita” (2018). “Fleabag” está disponível no catálogo da Amazon Prime Video.
Por último é válido mencionar “Veep” (2012-2019), finalizada este ano na sétima temporada. A série conta a história de uma senadora que é escolhida para o cargo de vice-presidente dos Estados Unidos. Das 11 indicações na categoria de Melhor Atriz em Série de Comédia, Julia Louis-Dreyfus ganhou seis, sendo a atriz recordista conseguir mais prêmios com a mesma personagem. Dentre os elogios conquistados pela série durante os anos, o fato de ser um retrato bem fiel da política americana somado com um elenco competente e com bastante sincronia ajudaram “Veep” a ser um marco na história das comédias comandadas por personagens femininas. A série está disponível na HBO Go.
Fernando começou a assistir a séries de TV e streaming em 2009 e nunca mais parou. Atualmente ele acompanha mais de 280 produções e já assistiu mais de 7 mil episódios. A série mais assistida - a favorita - é 'Grey's Anatomy', à qual ele reassiste com qualquer pessoa que esteja disposta a começar uma maratona. Facebook: Uma série de Coisas. Instagram: @umaseriedecoisas. Twitter: @seriedecoisas_ YouTube: Uma Série de Coisas. Podcast: Pocbuster. Portal: umaseriedecoisas.com.br.
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