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Na sombra da hipocrisia: “Companheiros de Viagem” e a política do secreto

Escândalos políticos e desejos proibidos é mote da minissérie ambientada nos anos 1950

Matt Boomer (American Horror Story) e Jonathan Bailey (Bridgerton) vivem romance proibido em "Companheiros de Viagem" - Divulgação

Em uma ousada narrativa pelos bastidores políticos e pelos becos escuros da Washington dos anos 1950, "Companheiros de Viagem" desvela as tramas da vida dupla de seus protagonistas ao mesmo tempo em que escancara as feridas de uma sociedade hipócrita e preconceituosa. Baseada no romance de Thomas Mollon e habilmente adaptada por Ron Nyswaner, a série da Showtime, distribuída pela Paramount+, faz uma viagem visceral pela rede de relacionamentos e intrigas daquele período turbulento.

A máscara da aparência

Matt Boomer (American Horror Story) personifica Hawkins Fuller, um funcionário público promissor que, por trás de sua fachada de homem político importante, vive uma vida dupla na cena gay de Washington. A série não economiza ao explorar os contrastes entre sua vida pública e privada, apresentando um personagem complexo que encarna os desafios e perigos enfrentados por aqueles que escolhiam viver à margem das normas sociais da época.

O encontro entre Hawkins Fuller e Tim Laughlin, interpretado brilhantemente por Jonathan Bailey (Bridgerton), desencadeia um intrigante jogo de sedução impregnado de interesses políticos. Em uma sociedade onde o sexo é visto como uma forma de poder, ambos os personagens usam essa dinâmica para navegar por um mundo onde suas orientações sexuais podem ser mais perigosas do que qualquer segredo de Estado.

Sedução explícita entre o gráfico e o necessário

"Companheiros de Viagem" não hesita em retratar cenas de sexo explícitas e gráficas, elevando o nível de realismo e intensidade narrativa. Essa escolha, por vezes polêmica, serve como uma ferramenta narrativa eficaz para contextualizar a vulnerabilidade e o desejo reprimido dos personagens, destacando a complexidade de suas vidas.

Em meio aos corredores da política americana dos anos 1950, a minissérie revela os meandros de uma época marcada pela caça às bruxas do macarthismo. "Companheiros de Viagem" revisita um período conhecido pelos sufocamentos políticos, mas mergulha nas questões mais íntimas dos personagens, explorando como homens e mulheres gays adotavam posturas e comportamentos para sobreviver em uma sociedade repleta de preconceitos.

Ao final, "Companheiros de Viagem" vai além de uma narrativa sobre o passado, fazendo uma reflexão sobre os desafios enfrentados por aqueles que ousavam desafiar as normas sociais e a tensão entre desejo e poder em um período turbulento da história americana. Uma produção que, sem dúvida, deixa sua marca nas produções que abordam política, sexualidade e a essência do ser humano.

*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.
*A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas.

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