Nova "Pretty Little Liars" surpreende pelo bom enredo

Com o subtítulo "Um Novo Pecado", série conquistou o público e está disponível na HBO Max

A atriz Bailee Madison (Ponte Para Terabítia) interpreta Imogen no reboot de "Pretty Little Liars" - Reprodução

"Pretty Little Liars" estreou em 2010 contando a história das estudantes Spencer (Troian Bellisario), Aria (Lucy Hale), Hanna (Ashley Benson) e Emily (Shay Mitchell). Na série, outra integrante do grupo, Alison (Sasha Pieterse), desaparece, mas depois de três anos sem notícias dela, as meninas começam a receber mensagens ameaçadoras de alguém que assina como "A". "Ainda estou aqui, vadias! E sei de tudo", dizia a primeira de tantas mensagens que viriam depois. O seriado fez tanto sucesso que rendeu dois derivados: "Ravenswood", em 2013, e "The Perfectionists", em 2019, ambos cancelados com poucos episódios no ar.

Pelo histórico da baixa audiência, era de se esperar que o público não levasse a sério uma terceira tentativa de revisitar este universo. Depois de sete anos no encalço de descobrir a identidade de "A", fazia sentido que as pessoas estivessem cansadas do enredo, correto? Errado.  

Estreando em julho deste ano, "Pretty Little Liars: Um Novo Pecado" chegou no catálogo da HBO Max. Para a surpresa de muitos, a nova série funciona e é bastante promissora, soube se reinventar e apresentar uma trama que atende às exigências dos telespectadores atuais: indo atrás do que é tendência atualmente.  

Máscaras e a fórmula de "Pânico"

Em "Um Novo Pecado", temos não só um como dois grupos de garotas em épocas diferentes. Em 1999, cinco amigas estão no baile do colégio quando uma sexta aluna, Angela Waters (Gabriella Pizzolo), morre de maneira brutal. Os segredos dessa noite vão reverberar 20 anos depois, quando Imogen (Bailee Madison), Noa (Maia Reficco), Tabby (Chandler Kinney), Faran (Zaria Simone) e Minnie (Malia Pyles), começarem a receber ameaças de uma pessoa mascarada que se autointitula como "A".

Acontece que as garotas citadas são filhas das meninas que, em 1999, estavam relacionadas ao incidente com Angela. Estaria "A" buscando vingança por Angela? Ao longo dos episódios entendemos os motivos e os porquês. 

Muitos elementos fazem da nova série ser atrativa. O principal é a maneira como a narrativa é contada. A série tem uma pegada antiga, mesmo com o enredo ambientado nos dias atuais, fazendo diversas referências aos filmes clássicos do terror e do slasher. Para os fãs do gênero, assistir a "Um Novo Pecado" faz relembrar a maneira que a franquia "Pânico" embasou seus filmes, procurar todas as referências é quase como um segundo entretenimento. 

Outro acerto é o tom da série, sendo o completo oposto da original. Aqui, "A" realmente mata as pessoas, persegue as meninas (a primeira perseguição é um deleite de técnica) e usa máscara. O apetrecho assusta e faz seu papel tão bem quanto Michael Myers, Leatherface e tantos outros.

Temas mais pesados que a original

Ainda sobre o tom da série comparado à primeira, as temáticas trabalhadas na mais recente parecem ser melhor desenvolvidas. Na original, os segredos são mais brandos: Aria gosta do professor, Spencer beijou o namorado da irmã, Hanna tem questões com a comida e Emily é lésbica, mas não quer que ninguém saiba. 

Já em "Um Novo Pecado", a profundidade das personagens toca em um lugar totalmente diferente. Imogen acabou de perder a mãe assassinada por "A" (isso está no primeiro episódio, não é um spoiler), além de estar grávida. Noa usa uma tornozeleira eletrônica como delito de um crime, Minnie tem uma dinâmica assustadora com um estranho nada confiável, Faran tenta receber o papel dos sonhos no balé e está envolvida nesse universo obsessivo de permanecer "em forma" para a dança, enquanto Tabby divide o mesmo trauma que Imogen, mas isso deixo para o episódio contar. 

Além do arco de cada uma, ainda há o que as une como um grupo, pessoas estão morrendo e elas precisam descobrir quem é "A" antes que uma delas morra. Alguns clichês são inevitáveis, mais as cenas tensas e violentas atreladas as referências de outros filmes fazem a série subir de nível. 

Uma ressalva ao tema que motiva o assassino, todas as personagens são julgadas pelo vilão por um único motivo: serem bullyinadoras. Mães e filhas, em momentos distintos da história, abusam de colegas de classe e essa dinâmica, mesmo existindo ao redor do mundo, é bem comum em séries teens. A repetição incomoda, talvez estejamos caminhando para uma saturação dessa cultura destrutiva do high school. Ainda assim, as personagens conseguem perceber suas falhas e, pelo menos, temos um reconhecimento do problema pela parte delas.

Derivado, Reboot ou Remake?

Pode haver certa confusão quanto ao termo utilizado para definir “Pretty Little Liars: Um Novo Pecado”. Logo de cara, podemos descartar que a produção seja um Remake. Isso porque se enquadram, nesta categoria, filmes e séries que “repetem” a mesma história, com os mesmos personagens, podendo ou não haver uma discreta releitura. Os filmes que vieram depois do “Carrie - A Estranha” de 1976, por exemplo, podem ser considerados um remake.

Já como Reboot, a série se enquadra! Para quem não está familiarizado com o termo, são considerados um reboot as versões que se diferem do original, sem beber diretamente da fonte. Aqui, é oferecido novas perspectivas, com novos personagens, podendo ou não fazer certa relação com o universo.

E é agora que as coisas se complicam, porque uma série derivada também faz relação com o universo no qual a original foi criada. Funciona, como o nome sugere, como uma derivação que pode ser ambientada antes ou depois dos acontecimentos da série mãe. Geralmente se usa um personagem secundário da série original que se ramifica para uma série a parte, agora como protagonista. Foi assim com “Private Practice”, que é um spin-off (termo em inglês para ‘derivado’) de “Grey’s Anatomy”, e “Better Call Saul”, que vem de “Breaking Bad”, por exemplo.

Seja um derivado ou um reboot (ou porque não os dois?), é fato que os 10 episódios da primeira temporada de “Pretty Little Liars: Um Novo Pecado” já chegaram estigmatizados, mas que soube como aproveitar o “boom” dos slashes para trazer algo novo e relevante. Não à toa foi eleita como “o melhor reboot” no E News TV Scoop Awards deste ano. 

*Fernando Martins é jornalista, escritor e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.

*A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas.

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