“O Casal Perfeito”, da Netflix, é minissérie de mistério com roteiro bem executado
Nicole Kidman e elenco elevam a adaptação de Elin Hilderbrand com camadas de suspense e sarcasmo
A estreia de "O Casal Perfeito", minissérie distribuída pela Netflix e baseada no romance de Elin Hilderbrand, combina uma investigação whodunnit com um cenário de riqueza e poder, comuns ao gênero. A trama se desenrola a partir de um casamento organizado pela escritora e matriarca Greer Garrison Winbury (Nicole Kidman), até que um corpo é encontrado na praia. O evento desencadeia uma série de revelações, com todos os personagens se tornando suspeitos. A produção, dirigida por Susanne Bier, mistura romance, mistério, suspense e toques de ironia, o que a torna um bom entretenimento no campo das tensões familiares e sociais.
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O elenco entrega boas performances como as de Nicole Kidman (Big Little Lies), Liev Schreiber (Ray Donovan) e Eve Hewson (Por Trás de Seus Olhos), e traz complexidade e carisma aos personagens. Kidman, em particular, transita com facilidade entre o sarcasmo cortante e o desconforto emocional de sua personagem, uma mãe que não aceita a noiva do filho e que aparentemente manipula todos ao seu redor. Hewson, como Amelia, a noiva desprezada, carrega o papel de uma jovem envolta em uma teia de segredos que desafiam sua tentativa de se adaptar à família. O conflito silencioso e discreto entre as duas é um dos pilares da série, que lida com o poder das aparências, o controle social e a fragilidade das relações familiares.
A comparação com obras como a série “Revenge” e a literatura de Agatha Christie não é gratuita. A série bebe da fórmula consagrada por esses dramas de mistério ao equilibrar o whodunnit (um termo para narrativas que giram em torno de descobrir quem é o culpado por um crime) com relações de poder e vingança. Porém, o toque novelesco de “O Casal Perfeito” dá um sabor mais familiar e, por vezes, melodramático à trama. Há uma nítida exploração do contraste entre o glamour da vida de luxo e os segredos sombrios que permeiam as mansões brilhantes da elite de Nantucket.
A direção de Susanne Bier brinca com o público ao esconder, inicialmente, a identidade do corpo encontrado na praia. No primeiro episódio, ela desfila os personagens por uma série de depoimentos e cenas de convivência na mansão, sem revelar de imediato quem foi a vítima. No entanto, esse mistério é resolvido ainda no primeiro episódio, deslocando o foco para a verdadeira questão que sustenta a série: quem matou?
Isso coloca uma interessante inversão de expectativas, o que mantém o público curioso ao longo dos seis episódios. Além do enredo de mistério, a série explora as armadilhas do poder e das aparências. O luxo e o glamour que cercam a família Winbury servem de pano de fundo para a revelação de segredos familiares e traições.
“O Casal Perfeito” se apoia em um elenco de alto calibre, liderado por Nicole Kidman e Eve Hewson, mas que também ganha destaque com nomes como Dakota Fanning (Ripley) e Meghann Fahy (The White Lotus), para entregar uma trama que, mesmo seguindo a fórmula clássica do mistério, sabe dosar suspense, ironia e drama familiar.
A decisão de Bier de desvelar o mistério do corpo logo no início e concentrar o enredo na busca pelo culpado cria uma narrativa dinâmica e imprevisível. Não é uma série que reinventa o gênero, mas certamente é um entretenimento que pode ser visto sem muita pretensão, apenas com o objetivo de descansar a mente depois de uma semana atribulada. Veja o trailer:
*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.
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