“O Urso” mostra a rotina caótica de uma cozinha profissional pós-pandemia
A primeira temporada conta com oito episódios na Star+
Lançada nos Estados Unidos em junho deste ano pela FX e Hulu, “The Bear” (“O Urso”, em português), chegou no Brasil pela Star+. A comédia dramática vem colecionando elogios da crítica e foi criada por Christopher Storer (Ramy).
Já renovada para a segunda temporada, o enredo acompanha o jovem chef Carmy (Jeremy Allen White) que, após a morte do irmão mais velho, herda a lanchonete “The Original Beef de Chicago”. Carmy tem muito a oferecer, sua experiência em restaurantes renomados contribui para o novo objetivo: fazer o empreendimento do irmão prosperar. No entanto, tudo está do avesso, o lugar é caçado pela vigilância sanitária, as dívidas são enormes e a equipe é caótica, mal treinada e não leva a sério nada do que o Carmy diz.
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Pós-pandemia e o que sobrou da família
O que faz “The Bear” ser atrativa é o desenvolvimento de assuntos atuais que se comunicam com o público. Na vida real, sabemos que o setor gastronômico foi um dos mais afetados pela pandemia, a escolha de trazer esse contexto na série é bem-vinda. Todos os funcionários estão cansados e sem esperanças. Também não estão abertos a sair de suas zonas de conforto – esse é um dos grandes desafios do protagonista, mudar a cabeça de quem não tem interesse em se reinventar.
Ao mesmo tempo em que lida com o caos da cozinha e da equipe que não o respeita, em paralelo vemos o caçula magoado pela morte do irmão mais velho. É desse luto que entendemos a motivação de fazer dar certo um empreendimento fadado ao fracasso, se ele não foi capaz de consertar sua relação familiar, a lanchonete vira seu novo projeto. Este não pode falhar.
A relação dos personagens com a comida
A cozinha profissional pode ser um ambiente bem intenso e insano. Na medida em que Carmy tenta ensinar novas técnicas para a equipe, cada funcionário parece ter uma relação diferente com a comida. Aqui está outro ponto forte do programa: a cada episódio nutre-se um desejo de conhecer mais cada membro da equipe.
Carmy divide a administração com Richard (Ebon Moss-Bachrach), talvez o personagem mais irritante do elenco. Além do amor pelo antigo dono, Richard também divide com Carmy a valorização da tradição. Entre os vários embates da dupla, o menu é o mais desafiador, enquanto o chef defende uma atualização do cardápio, Richard é contra as mudanças.
Já Sydney (Ayo Edebiri), contratada como sous chef (subchef, o braço direito do chef), tem dois desafios: conquistar a confiança de uma equipe que não a quer ali e ser valorizada pelos seus pratos autorais – vê-la fazer um risoto perfeito é de “dar água na boca”. Tina (Liza Colón-Zayas) é a mais velha e, por isso, acredita que o seu jeito é sempre o certo. Ebraheim (Edwin Lee Gibson) aprende novas maneiras de fazer pão, enquanto Marcus (Lionel Boyce) nutre um interesse bonito por bolos e doces.
É possível ver a evolução de cada personagem dentro da cozinha, uns mais do que outros, mas é igualmente bonito acompanhar a trajetória da equipe. Na vida real, Matthew James Matheson é um chef canadense, mas precisou fechar seu restaurante Parts & Labour, em Toronto, Canadá, em 2019. Na série, ele atua como um faz-tudo que sonha em um dia ser cozinheiro.
Ideal para quem curte o tema gastrô
“The Bear” é, sem dúvidas, uma das grandes produções do ano. A série sai do clichê usando temas atuais, grande elenco e uma boa alternância entre o drama e a comédia. Para quem curte a cozinha, seja no front ou como consumidor, os oito episódios de 30 minutos cada, passam voando.
Mais do que apenas saber como funciona uma cozinha profissional, a série traz a dor do luto, a valorização do esforço do trabalho e da equipe que vira família. Confira o trailer:
*Fernando Martins é jornalista, escritor e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.
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