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‘Ozark’ chega ao fim e questiona: o crime compensa?

Série dramática lançou sua última temporada na Netflix

"Ozark" recebeu prêmios em direção e atuação, além de ser indica na categoria de Melhor Série de Drama, no Emmy, em todos os anos de exibição - Divulgação/Netflix

“Ozark” sempre está nas listas das séries de drama para ver na Netflix. A produção chegou a ser comparada a “Breaking Bad” quando trouxe uma família entrando para o mundo do crime. Nas duas, os personagens passam por transformações impossíveis de se voltar atrás, mas diferente do professor de química, que agia sozinho até boa parte da trama, a família Byrde, juntos, lavariam dinheiro para um perigoso cartel de drogas.

Indicada ao Emmy em todos os anos de exibição, “Ozark” tem mais um ponto em comum com a série da AMC: soube parar no seu auge. A quarta temporada chegou ao catálogo da Netflix em abril, fechando o ciclo de Marty (Jason Bateman), Wendy (Laura Linney), seus filhos e todos os envolvidos em seus crimes. Atenção: a partir daqui, spoilers dos últimos episódios. 

Atuações em nível máximo

O elenco é, sem dúvida, a grandiosidade da série. O gancho final traz Julia Garner de volta à pele de Ruth Langmore (vencedora de dois Emmys por interpretar a personagem), agora movida pelo ódio depois que seu primo Wyatt (Charlie Tahan) foi assassinado ao lado de Darlene (Lisa Emery), pelas mãos de Javi (Alfonso Herrera). Todas as cenas em que Ruth vive o luto são dignas de reconhecimento, sua indicação nas premiações deste ano está garantida

Wendy também tem sua potência. Linney transparece a responsabilidade da sobrevivência da família de personagem e a dualidade entre ela e o marido Marty, chega ao ápice. No jogo de poder entre eles, o cartel e a influência política necessária para saírem com vida, nem todos estão com os objetivos alinhados e o clima instável é a base de tensão desde o piloto da série até aqui. Qualquer um pode morrer e as emoções estão à flor da pele.

Alguns dessabores

É redundante falar que a direção e o roteiro sempre caminharam juntos em “Ozark” – isso é obrigação de uma boa série. Mas aqui cabe também como um elogio. De fato, essa dupla caminhou bem em todos os anos de exibição, mas alguns tropeços merecem ser citados.

Depois que vinga a morte de seu primo e corta relações com a família Byrde, Ruth Langmore parece estar em um caminho de redenção. Depois de recrutar Rachel (Jordana Spiro), as duas tocam o cassino juntas após uma jogada de mestre em que a fez dona do empreendimento. Negando lavar dinheiro para Marty, ela está disposta a viver uma nova vida longe do crime.

Tanto que decide reconstruir o trio de trailers onde vivia e transformar em um lugar próspero. Ainda, conseguiu limpar sua ficha criminal, o que trouxe uma nova perspectiva à personagem... só que não. Nos momentos finais, sua morte chega pela irmã de Omar Navarro (Felix Solis). Tendo sofrido tantas perdas, tudo apontava para uma redenção de Ruth no estilo Jesse Pinkman (Aaron Paul), mas não aconteceu. E como fica Three (Carson Holmes), o último Langmore vivo? E sua parceira Rachel, toca o cassino sozinha? As perguntas ficam sem resposta.

O crime compensa?

Ao longo das temporadas, fomos acostumados a esperar que qualquer pessoa pudesse morrer em “Ozark”. Diante dos crimes e riscos que a família Byrde se envolvia, parecia improvável que alguns deles saíram com vida. No último episódio há um evento importante, a tensão está no limite e quem assistiu séries dramáticas o suficiente sabe que eventos de gala é o momento perfeito da desgraça.

Realmente, é daí que parte as últimas descobertas que findaria a vida de Ruth, mas quando a família Byrde chega retorna para casa depois de uma noite difícil, onde tudo ocorreu ao favor para que eles continuassem vivos e seguros, um último ato revela Mel (Adam Rothemberg), o irritante investigador particular, descobrindo a verdade sobre a morte de Ben (Tom Pelphrey). 

Mas “Ozark” acaba na ousadia de deixar o final em aberto – isso nem sempre é bem aceito, mas não apaga os méritos da série. O som do tiro dado por Jonah (Skylar Gaertner) dá a entender que a família Byrde tem mais um corpo para esconder. 

Resta ao público imaginar todas as respostas para as perguntas levantadas aqui. E há mais, a agente do FBI, Maya Miller (Jessica Frances), por exemplo, é outra ponta solta. Pelo visto, em “Ozark”, o crime compensa e resta ao público a duplicidade: alívio pela impunidade da família ou desapontamento pela prisão que não aconteceu.

*Fernando Martins é jornalista, escritor e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas

*A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas.

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