Pandemia e cancelamento são temas da nova temporada de 'The Morning Show'
O último episódio da temporada chega nesta sexta-feira (19), na AppleTV+
Quando a Apple lançou seu serviço de streaming no Brasil, a série "The Morning Show" foi apresentada como um dos carros-chefes da plataforma. De fato, a série conseguiu a atenção do público e da crítica ao retratar os bastidores de um programa de TV diante de uma crise pública: Mitch Kessler (Steven Carrel), um renomado apresentador do canal de notícias da empresa, é acusado de assédio sexual por alguém da equipe. A segunda temporada termina nesta sexta-feira (19), com o décimo e último episódio já disponível na AppleTV+.
Atenção, spoilers à frente. Os novos episódios trazem as consequências dos últimos acontecimentos: A dupla Alex Levy (Jennifer Aniston) e Bradley Jackson (Reese Witherspoon) denunciaram publicamente a cultura de assédio da emissora. A produtora Hannah (Gugu Mbatha-Raw), uma das vítimas de Kessler, tem uma overdose e morre diante do contexto de exposição do crime.
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Segunda temporada
O novo contexto é apresentado no início da segunda temporada e demora até vermos novas ramificações do roteiro. As problemáticas se estendem. Alex e Bradley não dividem mais a bancada do TMS, Levy deixou a empresa após os desdobramentos da denúncia. Sua vaga, no entanto, segue sendo cobiçada.
A jornalista Maggie Brenner promete lançar um livro com escândalos dos bastidores do programa matinal "The Morning Show" enquanto Alex teme que sua carreira seja manchada. A morte de Hannah se desenvolve em processos e acusações, enquanto Mitch se isola em um casarão na Itália.
Diante dos temas já tratados na primeira temporada, como o abuso de poder e o assédio sexual no trabalho, "The Morning Show" continua apresentando temas difícies.
Preconceito
Com a saída de Alex, os chefões estão em busca de alguém tão boa quanto ela para substituí-la por um tempo. Logo, um nome aparece: Laura Peterson (Julianna Margulies), uma apresentadora experiente e que tem algum desconforto com Levy. A presença da personagem - e da atriz - traz corpo para a história.
Ela é lésbica e, quando estava no início da carreira e teve sua vida pessoal "descoberta", tudo ficou mais difícil: seus amigos se afastaram, sua carreira precisou ser remodelada. Hoje, ela tem uma carreira sólida, mas sua bagagem e o envolvimento romântico com outra mulher na empresa são grandes atrativos da temporada.
Outro ponto mostrado nos episódios é o preconceito com a comunidade asiática relacionada à origem do coronavírus. A nova diretora de jornalismo da UBA é asiática ouve insultos de pessoas na rua.
Cultura do cancelamento
As intolerâncias das redes sociais é um dos pilares dos novos episódios. Em menor grau, vemos Yanko (Nestor Carbonell) ser cancelado quando usa uma expressão dos povos originários em horário nobre. O personagem justifica que é de família cubana, mas não compram a explicação.
Em maior grau, ninguém quer estar relacionado a Mitch. Alex, principalmente. Agora ela é vista como feminista e ativista na causa das vítimas de assédio. Porém, ela teve relações sexuais com o colega, consesuais, mas condenáveis, já que agora ele é visto como um predador sexual.
A situação é delicada ao ponto da personagem ir atrás do ex-amigo na Itália, enquanto o mundo está quase entrando em colapso com a pandemia. Embora sua carreira esteja em risco, a prioridade entre imagem e sua própria saúde beira o ridículo.
Coronavírus
Aqui, a trama acontece no réveillon que antecede a proliferação da COVID-19. Aos poucos vemos como a situação passava de algo sem importância para a crise que vimos acontecer na vida real. Os editores nas redações não acham que o vírus (ainda na Ásia e começando a aparecer na Itália) mereça espaço, já que as eleições envolvendo Donald Trump mostraram ter mais relevância até então.
Com tudo isso, "The Morning Show" teve muitos ingredientes novos nesse grande caldeirão dos novos capítulos. O caldo engrossou e os personagens parecem ter chegado em outro nível emocional. Bradley luta por espaço e reconhecimento, Alex tenta salvar o que resta de sua carreira enquanto a covid chega como um soco no penúltimo episódio.
A série, ainda com seus defeitos, continua valendo o play. Provavelmente, também a veremos nas premiações do ano que vem, assim como aconteceu na primeira temporada. É um bom drama, com boas atuações e temas delicados, um prato cheio.
*Fernando Martins é jornalista, escritor e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Acesse o Portal, Podcast e redes sociais do Uma Série de Coisas neste link.
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