Referências de "MaXXXine": uma análise do legado do terror para o cinema
Entenda como o novo thriller de Ti West se inspira em clássicos do gênero e na cultura pop
A semana foi de novidades para o gênero de terror. Entre os destaques dos últimos dias, a espera do lançamento do trailer de “MaXXXine” – longa que é uma sequência dos sucessos “Pearl” e “X: A Marca da Morte” lançados em 2022 – finalmente acabou. Dirigido por Ti West e protagonizado pela atriz Mia Goth, neta da atriz brasileira Maria Gladys, o último filme da franquia tem data de estreia nos Estados Unidos para o dia 5 de junho. Até a publicação desta coluna, não há data de estreia confirmada para o Brasil. A coluna Uma Série de Coisas desta sexta-feira (12) traz algumas referências vistas no trailer do novo filme. Atenção aos spoilers.
Leia Também
• Confira três estreias de séries para ficar de olho nos próximos meses
• “Depois da Morte”: Filme que reflete sobre vida após a morte estreia no Brasil neste mês de abril
• “Young Royals”: Um adeus à Monarquia com coragem e sensibilidade
Entendendo a franquia
Para ter a experiência completa na hora de assistir “MaXXXine” no cinema, é indicado conferir “X: A Marca da Morte” e “Pearl”, previamente. Em “X”, Mia Goth interpreta a protagonista Maxine, uma atriz no começo da carreira que tem o sonho de se tornar uma grande estrela de cinema. Ela se junta a um grupo que propõe fazer um filme adulto na zona rural do Texas, usando como ambientação o celeiro de um casal de fazendeiros idosos e reclusos. Quando os donos do local pegam os jovens convidados no ato, o grupo se vê em uma luta desesperada para sobreviver.
Já em “Pearl”, voltamos no tempo até 1918, onde conhecemos a versão jovem da idosa fazendeira que foi a anfitriã do filme “X”. Aqui, Mia Goth retorna como Pearl, uma jovem sonhadora que está isolada na fazenda da família devido à Primeira Guerra Mundial e à pandemia da gripe espanhola. Assim como Maxine, Pearl também nutria, naquela época, o sonho de ser uma estrela. Entendemos, portanto, que Pearl nunca conseguiu realizar esse sonho, uma vez que, em “X”, ela está velha e presa na mesma fazenda.
No aguardado terceiro filme, Mia Goth reprisa seu papel como Maxine. Como única sobrevivente de “X”, ela decidiu seguir sua jornada rumo à fama. Ambientada na Los Angeles de 1985, ela tem uma oportunidade de finalmente brilhar na carreira, mas há um misterioso assassino nas redondezas, conhecido como Night Stalker, que persegue as estrelas de Hollywood deixando um rasto de sangue.
Ao mergulharmos no trailer de "MaXXXine", podemos observar uma riqueza de referências que estabelecem conexões com obras cinematográficas e tendências culturais significativas. Entenda:
Night Stalker
O serial killer Night Stalker realmente existiu e cometeu seus crimes entre 1984 e 1985. Conhecido por realizar assaltos, sequestros, estupros e assassinatos em série na região da Grande Los Angeles e São Francisco. O trailer de "MaXXXine" também capitaliza com habilidade o crescente interesse do público em histórias de true crime, especialmente ao incorporar o Night Stalker à trama. Essa escolha narrativa nos lembra do documentário disponível na Netflix sobre o assassino, e também reflete a tendência atual de Hollywood em explorar e lucrar com o fascínio do público por casos reais de crime.
Motel Bates
O Motel Bates, uma icônica locação da cultura cinematográfica, imortalizada no clássico filme de suspense psicológico "Psicose", dirigido pelo cineasta Alfred Hitchcock e lançado em 1960, se tornou um símbolo duradouro do horror cinematográfico, com sua arquitetura singular e a presença marcante de Norman Bates. A história do motel e de seus proprietários foi posteriormente expandida em sequências e em um programa de televisão, explorando ainda mais os mistérios e horrores associados ao local.
Localizado à beira de uma estrada deserta, o Motel Bates é administrado por Norman Bates, um homem aparentemente tímido e reservado, que vive com sua mãe, Norma Bates, em uma casa adjacente ao motel. A estrutura do motel, com seus quartos simples e aconchegantes, esconde segredos perturbadores que são revelados ao longo do filme.
No trailer, vemos Maxine chegando ao local e tendo uma visão de Pearl na janela da casa que fica por trás do Motel.
Herança do gênero slasher e filmes de terror dos anos 1980
"MaXXXine" sugere uma metanarrativa ao mostrar Maxine envolvida na produção de um filme. Ainda, o longa se insere no universo do gênero slasher evocando elementos característicos de clássicos do terror dos anos 1980, como em "Psicose 2” (1983) e “3” (1986), "Dublê de Corpo" (1984) e "Vestida Para Matar" (1980). Essa abordagem remete a essas obras explorando a dinâmica de fazer filmes, contribuindo para o desenvolvimento e popularização do slasher na década de 1980 (como, mais tarde, também seria bem exercitado na franquia Pânico).
Padrões estéticos e papéis das atrizes
A transformação de Maxine em uma figura loira, típica dos filmes de terror como a maioria das "scream queens", evoca padrões estéticos estabelecidos por diretores como Alfred Hitchcock e David Lynch, que frequentemente escolhiam atrizes loiras para papéis marcantes em seus filmes. Essa escolha estética adiciona camadas à personagem e à narrativa como um todo.
"MaXXXine" parece explorar a dualidade entre realidade e ficção, incorporando elementos visuais que lembram obras como "Um Corpo que Cai" (1958). A visão de Maxine observando Pearl, por exemplo, pode ser interpretada como uma alusão a esses filmes e suas representações complexas da percepção e da identidade, adicionando profundidade à narrativa do filme.
Em todo caso, "MaXXXine" promete uma experiência cinematográfica rica e envolvente, que pode dialogar com uma variedade de influências culturais e referências cinematográficas. Com uma trama que mistura elementos de true crime, terror slasher e metacinema, o filme tem boas chances de levar os espectadores a uma jornada emocionante pelo universo do cinema e da cultura pop – e porque não, indicações ao Oscar?
*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.
*A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas.
Veja também
Ministério da Saúde prepara linha de cuidado para pessoas com albinismo
