“Sagrada Família”: Entre segredos e desilusões na segunda e última temporada
Série espanhola chegou ao fim com oito episódios na segunda temporada
Atenção: O texto a seguir tem spoilers importantes sobre a segunda temporada de "Sagrada Família".
A aguardada segunda temporada da série espanhola "Sagrada Família" retornou no dia 17 de novembro ao catálogo da Netflix, prometendo a continuidade das revelações chocantes da trama envolvente criada por Manolo Caro (Casa das Flores). Contudo, a expectativa gerada pela primeira temporada se depara com desafios narrativos e decisões que nem sempre conseguem manter o brilho original.
Em uma narrativa repleta de segredos e aparências enganosas, "Sagrada Família" mergulha nos intricados relacionamentos de Gloria (Najwa Nimri) e seus filhos, que, por trás da fachada de uma vida perfeita, escondem uma teia complexa de mentiras.
Leia Também
• "Últimas Férias": True crime teen brasileiro com suspense e reviravoltas
• Entre pós-pandemia e ataque ao Capitólio, “The Morning Show” continua com boa qualidade narrativa
• “Toda Luz Que Não Podemos Ver”: Uma clássica história de amor e esperança em meio à guerra
O fingimento é justificado quando uma tragédia abala a tranquilidade dessa família aparentemente ideal, segredos há muito guardados vêm à tona, desencadeando uma série de eventos que testarão os limites do que é verdadeiro e do que é apenas uma ilusão. Entre romances proibidos, tragédias inesperadas e revelações impactantes, a sagrada fachada da família é posta à prova, revelando as fragilidades e fortalezas que moldam o destino de cada personagem. Nesta segunda temporada, a busca pela verdade se entrelaça com o peso das mentiras, proporcionando aos espectadores uma jornada emocional, surpreendente, mas levemente decepcionante.
A morte de Lorenzo: Um potencial não totalmente explorado
A morte de Lorenzo, filho de Blanca (Macarena Gómez), é um dos eventos chocantes dos novos episódios, mas sua execução deixa a desejar. O potencial para explorar as complexidades emocionais e as ramificações dessa perda não é totalmente realizado, deixando uma lacuna na narrativa que poderia ter sido preenchida com mais profundidade.
Além disso, a trama amorosa de Aiatana (Carla Campra) com seu cunhado e de Abel (Ívan Pellicer) com o marido do seu ex-ficante parece apressada e sem sentido. Esses relacionamentos, que poderiam ter adicionado camadas emocionais à narrativa (ou até mesmo não existido em troca de desenvolver arcos melhores), acabam se perdendo em desenvolvimentos superficiais, deixando o público ansiando por mais substância.
Estrutura narrativa desfocada e nostalgia necessária
A falta de uma estrutura narrativa coesa é evidente. Isso cria uma sensação de desconexão e deixa os espectadores desejando mais desenvolvimento para os personagens, que parecem estar presos em um ciclo de repetição. Apesar das boas atuações e fotografia, boa parte dos motivos do público de chegar até o fim da segunda temporada pode ser pelo sentimento nostálgico dos primeiros episódios e pelo desejo de obter respostas.
A trilha sonora continua sendo um ponto positivo, mantendo a atmosfera única da série. A repetição da canção "Hijo de la Luna", da banda Mecano (uma das bandas mais relevantes dos anos 1980-1990), em coro infantil contribui para a ambientação.
Najwa Nimri e Alba Flores: Química perfeita
A colaboração entre as atrizes Najwa Nimri e Alba Flores é menor na segunda temporada da série, já que a personagem de Alba passou a maior parte do tempo se recuperando de um grave acidente. Ainda assim, essa conexão não só enriquece as performances individuais, mas também adiciona uma dimensão extra à narrativa de "Sagrada Família". Os momentos compartilhados entre essas duas atrizes, permeados pela história de seus personagens, contribuem para a complexidade emocional da trama.
Najwa Nimri e Alba Flores já compartilharam a tela em produções anteriores, mais notavelmente em "Vis a Vis" (2015-2019). A referência a essa colaboração anterior é uma jogada discreta, pois traz à tona as memórias de uma relação intensa entre suas personagens na prisão, Zulema e Cigana. Ao mencionar que em outras vidas elas deveriam ser amigas, há uma ponte sutil para os fãs que podem imediatamente recordar a química eletrizante entre elas em cenários muito diferentes.
*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.
*A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas.