“Salamandra” tem olhar intimista sobre conexões e conflitos no Recife contemporâneo

Obra transforma Pernambuco em protagonista de uma narrativa sobre identidade e metamorfose

Marina Foïs protagoniza Catherine em filme de Alex Carvalho - Divulgação

O lançamento de "Salamandra", dirigido por Alex Carvalho, transporta o romance "La Salamandre", de Jean-Christophe Rufin, para cenários das cidades de Olinda e Recife. Estreando nesta quinta-feira (27), o filme se aprofunda em questões de identidade, culpa e a busca por conexão, ambientado em paisagens que respiram história e transformações urbanas.

O enredo central gira em torno de Catherine (Marina Foïs), uma francesa que, após um longo período cuidando de seu pai, busca uma nova vida no Brasil. Em Recife, ao se reunir com sua irmã (Anna Mouglalis), ela conhece Gil (Maicon Rodrigues), um jovem cuja energia e carisma criam um vínculo inesperado com a protagonista. O filme explora este relacionamento complexo, onde os personagens, vindos de mundos diferentes, encontram um terreno comum em suas fragilidades e aspirações.

"Salamandra" é uma obra que, assim como “Que Horas Ela Volta?”, de Anna Muylaert, por exemplo, utiliza um contexto brasileiro para dissecar questões universais. Enquanto “Que Horas Ela Volta?” se debruça sobre as dinâmicas domésticas e de classe, "Salamandra" opta por um cenário mais aberto, usando a cidade como um personagem ativo que interage com a narrativa. A escolha de Recife e Olinda não é apenas uma ambientação pitoresca; esses lugares, com seu rico panorama cultural e histórico, intensificam a jornada pessoal dos protagonistas, espelhando suas lutas e evoluções.

Carvalho habilmente adapta o material literário de Rufin, preservando o núcleAo temático do livro enquanto incorpora elementos locais que dão profundidade à narrativa. A transposição do colonialismo para uma metáfora mais moderna, através dos olhos de Catherine, reflete uma Europa que ainda carrega suas sombras históricas, e como essas sombras encontram novas formas nas interações pessoais em um contexto pós-colonial.

Marina Foïs entrega uma performance que captura a essência de Catherine – uma mulher à deriva, tentando reconstruir sua identidade em um país estrangeiro. Ao lado de Maicon Rodrigues, cuja representação de Gil traz à tela uma mistura de vulnerabilidade e resistência, o filme constrói uma dinâmica interessante e explora a complexidade do desejo e da aceitação.

Filmada em locações de Olinda e Recife, como o centro histórico e bairros como Aglomerado da Serra e Bonfim, “Salamandra” apresenta a beleza visual dessas áreas e suas realidades contrastantes. Os pernambucanos podem sentir que fazem parte da narrativa pelo realismo dos personagens, experiência que traz um olhar íntimo e crítico sobre a vida urbana e suas intersecções com questões de identidade e cultura.

Em sua estreia, "Salamandra" convida o público a uma reflexão profunda sobre a forma como o espaço urbano influencia e reflete as dinâmicas sociais de hoje. Alex Carvalho entrega um filme que, além de seu valor estético e narrativo, se destaca como um comentário poderoso sobre a constante negociação das identidades em um mundo que nunca para de mudar.

*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.

*A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas.

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