‘See’: Em terra de cegos, enxergar é heresia
Como já mencionei por aqui, a Apple lançou seu próprio serviço de streaming com alta expectativa sobre suas produções originais, entre elas estão “The Morning Show” e “See”, comandadas por estrelas como Jennifer Aniston, Reese Witherspoon e Jason Momoa. Para cada série produzida pelo serviço, foram lançados três episódios de cada, seguido por um episódio semanal sempre nas sextas-feiras.
A proposta de “See” é ambientada em um mundo pós-apocalíptico, muitos anos à frente do que vivemos hoje. Um vírus mortal acaba com a vida na Terra e os humanos que conseguem sobreviver ficam cegos. Com a cegueira sendo hereditária, a população regride aos costumes medievais: constroem suas próprias armas, caçam a comida e determinam novos métodos de interação. A estrutura dessa sociedade fica ameaçada quando um casal de gêmeos nasce com a capacidade de enxergar.
Nesse panorama, a aldeia acredita que Deus tornou a humanidade cega e que qualquer pessoa capaz de enxergar seria um herege, alguém que precisaria ser queimado na fogueira. Rapidamente a notícia de espalha e os bebês são procurados por um grupo de caçadores, sob o comando de uma rainha. Anos se passam até eles serem encontrados e fugirem em busca de respostas, dizer mais do que isso seria spoiler.
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Interpretando Baba Voss, líder da aldeia e pai de criação dos gêmeos, Jason Momoa não inova, mas também não decepciona. Personagens violentos e hábeis lutadores como o Khal Drogo de “Game of Thrones”, o Declan de “Frontier” e até mesmo o herói de “Aquaman”, parece ser o grande talento do ator. É quase impossível não levar as mãos à boca quando Baba Voss entra em ação nas lutas sangrentas de “See”, a coreografia é bem feita e a cegueira traz um diferencial, já que o guerreiro utiliza seus outros sentidos no combate.
No mais, a série se torna cansativa quando escolhe expandir o mundo para além dos personagens principais, desenvolvendo uma vilã com pouca relação à trama central e com uma jornada individual que não se encaixa com a premissa. Quando a narrativa retorna, porém, ao grupo de sobreviventes que tenta vencer as ameaças dos caçadores ao passo que trabalha questões de poder em relação à visão e literatura, a série ganha impacto e um atrativo muito mais propenso ao êxito. Ora, em um mundo dominado pela cegueira, conseguir enxergar e ler pode ser uma vantagem ou inferioridade, a depender da perspectiva que a série apresenta.
Com baixa popularidade nos EUA e já sendo renovada para uma segunda temporada, “See” corre grande risco de ser cancelada sem final, provando que uma fotografia excepcional e bons efeitos especiais – foram gastos US$ 15 milhões (R$ 60 milhões) por episódio – não podem salvar um roteiro fraco, mas que ainda pode se transformar em algo interessante.
“See” está disponível na plataforma de streaming Apple TV+. Veja o trailer: