“Sex Education”: despedida tem importante mensagem sobre as conexões ao longo da vida
Série da Netflix dá adeus emocionante e agridoce, celebrando a diversidade e a inclusão
A série "Sex Education", da Netflix, retornou com sua quarta e última temporada, mergulhando nossos personagens em uma nova escola após o fechamento da Moordale. Este novo ambiente, repleto de positivismo e aceitação, é palco para uma narrativa que se desenrola de forma única.
A diversidade de personagens é um dos aspectos mais notáveis desta temporada. A série abraça a representação de identidades LGBTQIAPN+ de maneira autêntica. Os temas, assim como nas temporadas anteriores, continuam sensíveis: pautas sobre relacionamento abusivo, assédio sexual e bullying são apresentadas com honestidade e emoção.
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A busca pela aceitação e a luta contra a sensação de deslocamento no mundo são temas centrais em diversos arcos. A personagem Jean Millburn (Gillian Anderson), que acabou de dar a luz e vive os desafios de ser uma mãe solo, enfrenta uma jornada difícil em relação à maternidade, pintando um retrato sincero dos desafios que as mães enfrentam.
Temas importantes e bem desenvolvidos
O conflito entre religião e sexualidade é habilmente explorado na jornada de Eric (Ncuti Gatwa), que enfrenta dilemas ao tentar reconciliar sua fé cristã com sua identidade gay. Esta é uma narrativa que lança luz sobre os desafios que muitos indivíduos LGBTQIAPN+ enfrentam em contextos religiosos. Os momentos são carregados pelo talento de Gatwa e uma subjetividade que até então não tinha sido explorada na série – mais um acerto do roteiro.
A acessibilidade também é um tópico importante na quarta temporada, representado pelo personagem Isaac (George Robinson), que é cadeirante e lida com a falta de acessibilidade na escola quando o elevador quebra. Da mesma forma, a personagem Aisha (Alexandra James), com deficiência auditiva, destaca os obstáculos que enfrenta em um mundo que muitas vezes ignora as necessidades dessas pessoas.
Sensibilidade em foco
A trama não foge das questões complexas como a positividade tóxica, exemplificada pelo casal trans Abbi (Anthony Lexa) e Roman (Felix Mufti). Abbi tenta disfarçar seus sentimentos negativos externando apenas a positividade, estimulando um movimento de repressão de questões que deveriam ser faladas. Aliás, a série aborda frequentemente sobre a importância da comunicação e da aceitação de que os problemas existem, ponto importante para o início de cura da saúde mental. Já a personagem Cal (Dua Saleh) demonstra as profundas cicatrizes internas que podem persistir diante do contexto de transexuais que não possuem recursos.
Os relacionamentos familiares também são explorados com sensibilidade, especialmente por meio do personagem Adam (Connor Swindells) e sua relação com seu pai, sempre problemática, mas que foi desenvolvida com uma beleza que emociona. Esses momentos proporcionam uma visão tocante das complexidades das relações familiares.
No fim, "Sex Education" é sobre relações humanas, conexões e amadurecimento. A série se despede com uma mensagem que nos faz refletir sobre a natureza efêmera das relações e a capacidade de seguir em frente, mesmo após o amor. É uma série que não apenas entretém, mas também desafia os espectadores a pensar mais profundamente sobre o mundo que os cerca. Deixará saudade e uma marca duradoura como um espelho honesto e corajoso das questões que enfrentamos em nossa sociedade.
*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.
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