"Succession": o fracasso da sucessão familiar em uma das grandes séries da atualidade
Série chega ao fim liderando audiência da HBO Max
Atenção: este texto tem spoilers da última temporada de "Succession".
Sucesso de crítica e premiações, a série de drama "Succession" chegou ao fim no último domingo (28), quando exibiu a conclusão da quarta temporada do programa na HBO Max. A trama gira em torno do patriarca de uma das famílias mais poderosas do mundo, Logan Roy (Brian Cox), dono de um império midiático conhecido como Waystar Royco e da sucessão eminente dos seus herdeiros.
Mais um dos grandes sucessos da HBO, o seriado coleciona os principais prêmios da TV, incluindo Emmy Awards, Globo de Ouro e British Academy Television Awards, indo desde as categorias principais, como Melhor Série de Drama, passando pelas de atuação, como Melhor Ator e Atriz, até as técnicas, como Melhor Direção e Roteiro.
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O fracasso da sucessão familiar
Quando "Succession" estreou em 2018, já dava sinais do que poderíamos esperar ao longo dos quatro anos seguintes: no episódio piloto, Logan começava a dar os primeiros sinais de que não estava bem, quando se levanta de madrugada para ir ao banheiro, mas confunde o armário com o vaso sanitário.
Começaria, então, uma corrida sobre quem subiria ao trono corporativo, os filhos Kendall (Jeremy Strong), Roman (Kieran Culkin), Siobhan (Sarah Snook) e Connor (Alan Ruck), sendo este último, o mais velho, pouco provável, já que quase não se envolve nas questões da empresa.
"Succession" traz à tona algo comum na vida real, o legado das empresas familiares e as estratégias para manter o controle dentro da linhagem sanguínea. Embora nem o próprio pai deixe claro quem gostaria que o sucedesse (salvo algumas indicações por indiretas e um testamento mal escrito), Logan e os filhos brigam ao longo de toda a série. Ainda que deixar a Waystar Roco na mão de terceiros seja um pesadelo, o patriarca não prepara seus herdeiros para as responsabilidades que seu cargo pede, o resultado disso nós acompanhamos nas quatro temporadas, filhos adultos com comportamentos infantis brigando para ver quem fica com o doce leia-se aqui bilhões em dinheiro.
Capitalismo pode ser uma faca de dois gumes no ramo familiar
O capitalismo, que baseia seu sistema econômico na propriedade privada dos meios de produção e na busca pelo lucro, tem uma relação intrínseca com as empresas familiares. Afinal, muitas dessas empresas surgiram a partir do empreendedorismo de uma família que buscou seu sustento e prosperidade no mercado. No entanto, o capitalismo também pode ser apontado como um dos fatores que contribuem para o fracasso da sucessão familiar em empresas, como vimos nos últimos episódios da série.
"Succession" não foi a primeira série da HBO a retratar essa questão. Séries como "Game Of Thrones" e "A Sete Palmos" também são exemplos de que conflitos familiares na sucessão podem quebrar um negócio. Isso ocorre porque, em muitos casos, a sucessão é vista como uma questão de direito e não de competência, ou seja, o filho mais velho ou o parente mais próximo assume a liderança da empresa, independentemente de suas habilidades e conhecimentos.
Essa mentalidade pode levar a escolhas equivocadas e prejudicar o todo. Em "A Sete Palmos", vemos o pai Nathaniel Fisher (Richard Jenkins) morrer nos primeiros minutos do piloto, tendo os filhos David (Michael C. Hall) e Nate (Peter Krause) que tocar o empreendimento da família, uma casa funerária. O conflito entre os irmãos também se evidencia, já que David sempre trabalhou com o pai e leva a empresa a sério, enquanto o irmão Nate viveu afastado desse núcleo e tem ideias opostas às do irmão.
O que vemos na vida real e no desfecho de "Succession", é que essa competição familiar, também incentivada pelo capitalismo, traz como resultado o fracasso de muitas empresas familiares. Por fracasso, no caso de "Succession", me refiro aos objetivos que nenhum dos herdeiros conseguiu alcançar. Eles continuarão ricos? Provavelmente. Mas os minutos finais da série são brutais ao acabar com todos os personagens desolados. Roman abraça sua mediocridade, Kendall não tem o que tanto desejou e Shiv retorna a posição de submissa, agora na sombra do pai do seu futuro filho e agora CEO da empresa que um dia foi sua.
Na indústria televisiva, esse tipo de narrativa, quando bem desenvolvida, é um prato cheio para personagens complexos e multifacetados. "Succession", assim como "A Sete Palmos" foi entre 2001 e 2005, deixa sua marca na TV como uma das grandes séries da atualidade.
*Fernando Martins é jornalista e grande entusiasta de produções televisivas. Criador do Uma Série de Coisas, escreve semanalmente neste espaço. Instagram: @umaseriedecoisas.
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